Minas lidera produção de cachaça no país, aponta relatório
Levantamento do Ministério da Agricultura e Pecuária revela que cresce a formalização da bebida no Brasil, mas setor ainda enfrenta desafios estruturais
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Siga noO setor da cachaça brasileira segue demonstrando sinais de recuperação e formalização. Segundo o Anuário da Cachaça 2025, divulgado nesta quarta-feira (28/5) pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), em parceria com o Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac) e outras entidades, o país registrou em 2024 um total de 7.223 produtos de cachaça legalmente registrados - um aumento expressivo de 20,4% em relação ao ano anterior. Também houve crescimento de 4% no número de estabelecimentos elaboradores, alcançando a marca de 1.266 empresas formalizadas.
Apesar do avanço, o mercado reconhece que ainda há muito a ser feito para que a cachaça conquiste seu verdadeiro espaço, tanto no mercado interno quanto internacional. O presidente do Ibrac, Carlos Lima, avalia que o crescimento reflete mais um movimento de regularização do que, necessariamente, um boom de demanda. "É um número importante porque indica uma diminuição da informalidade. Mas ainda está muito aquém de seu potencial enquanto patrimônio nacional e econômico", afirma.
Minas Gerais lidera, Ceará surpreende
A liderança continua com Minas Gerais, que se mantém como o maior polo produtor de cachaça no Brasil, com 501 estabelecimentos registrados. A tradição mineira na produção artesanal da bebida é apontada como fator-chave para essa concentração. "A cachaça faz parte da cultura do estado e é sustentada por inúmeras microempresas locais", destaca Lima.
Mas o destaque regional ficou por conta do Ceará, que apresentou o maior crescimento percentual no número de estabelecimentos: um salto de 38,2% em apenas um ano, ando de 34 para 47 registros. O Sudeste permanece como a região com mais cachaçarias registradas (mais de 800), seguido pelas regiões Nordeste (189) e Sul (183).
Produção e dados sob cautela
O Anuário também apontou um aumento de 29,58% no volume de produção declarado, atingindo 292 milhões de litros em 2024. No entanto, tanto o Mapa quanto o Ibrac alertam que esses números devem ser interpretados com cautela. Isso porque os dados são coletados por meio de um sistema informatizado novo, ainda sujeito a inconsistências.
"Na prática, não houve um crescimento real da produção nesse volume. O que estamos vendo é um ajuste do sistema de declaração, que ainda não representa o total efetivamente produzido no Brasil", explica o presidente do Ibrac.
Se por um lado o cenário interno aponta para avanços tímidos, por outro o mercado internacional mostrou retração. As exportações de cachaça caíram 22,7% em 2024 em comparação a 2023, que havia sido um ano recorde para o setor. Carlos Lima atribui a queda a múltiplos fatores, como incertezas econômicas no mercado europeu e não a uma queda específica na demanda pelo destilado.
"Construir uma categoria no mercado internacional é um desafio imenso. Exige esforço constante de promoção, reconhecimento da cachaça como bebida brasileira tradicional e capacitação de empresas para exportar", avalia.
Desigualdade tributária ainda é obstáculo
Um dos principais entraves apontados pelo setor continua sendo o ambiente regulatório brasileiro, sobretudo no que diz respeito à carga tributária. A cachaça é uma das bebidas mais tributadas do país, perdendo em competitividade frente a categorias como o vinho e a cerveja, que se beneficiam de regimes fiscais mais vantajosos.
"A reforma tributária é uma oportunidade histórica para corrigir essa distorção. Hoje, a cachaça não goza dos mesmos benefícios fiscais que outras bebidas e isso limita nosso desenvolvimento", defende Lima.
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Modernização e imagem do produto
Apesar dos desafios, o setor tem buscado se modernizar. A aposta está em inovações na produção, embalagem e comercialização. A presença de garrafas , o uso de ingredientes diferenciados e o investimento em práticas de produção responsáveis são algumas das estratégias adotadas para valorizar a imagem da bebida junto ao consumidor nacional e internacional.
"Cada ano vemos mais iniciativas voltadas à inovação. O setor está se qualificando, buscando diferenciação e agregando valor ao produto", afirma Lima.
Com a consolidação da formalização e uma maior organização setorial, as perspectivas para os próximos anos incluem uma atuação mais incisiva na busca por equidade de impostos, além do fortalecimento das estratégias de exportação. No entanto, á area reforça que o avanço dependerá também da vontade política e de uma visão estratégica sobre o papel da mercadoria como ativo cultural e econômico brasileiro.
"A cachaça é a bebida nacional do Brasil. Não podemos tratá-la como coadjuvante em nosso cenário econômico", conclui Carlos Lima.
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Análise em números - Anuário da Cachaça 2025 (dados 2024)
- Produtos registrados: 7.223 (+20,4% em relação a 2023)
- Estabelecimentos elaboradores: 1.266 (+4%)
- Produção declarada: 292 milhões de litros (+29,58%)
- Exportações: -22,7% em relação a 2023
- Estados com mais registros: MG (501), SP (179), ES (81), SC (73)
- Maior crescimento estadual: Ceará (+38,2%)
Obs. Dado indicativo, sujeito à revisão.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice