

Ana Mendonça
EM MINAS
Dois tons em duas convenções
Ficou mais do que provado que, em 2024, temos em Belo Horizonte candidatos já prontos para o combate
Mais lidas
28/07/2024 04:00
compartilhe
SIGA NO
x

Enquanto nos corredores da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o prefeito Fuad Noman (PSD), que busca a reeleição, desfilava ao lado do seu novo candidato a vice, o vereador Álvaro Damião (União Brasil), do outro lado da cidade, no Plenário da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo (MDB), presidente da Casa e pré-candidato à Prefeitura, fazia um discurso ácido sobre a gestão “biônica” do atual chefe do Executivo. Com referências históricas e alusões à ditadura militar, o vereador criticou nas entrelinhas a construção da chapa rival e deixou um recado irônico até mesmo para o presidente do PSD de Minas, Cassio Soares, que, de acordo com o vereador, “só leva bolada por trás”.
Gabriel abriu a fala, que durou cerca de 15 minutos, relembrando que na madrugada do dia 2 de abril de 1964, a ditadura militar pôs fim à democracia brasileira. A declaração partiu de uma comemoração pelo fim do regime, ou pela liberdade de imprensa, mas mirou no que o vereador chamou de “prefeitos indicados”. “Foi na ditadura brasileira que prefeitos e vereadores foram indicados. Prefeitos biônicos. Operados por aparelhos, operados por interesses que não eram da nossa cidade.”
Leia mais
20/07/2024 - 05:00 A chapa de 'dois prefeitos' em Brumadinho 23/07/2024 - 06:00 Quando Kalil vai bater o martelo 27/07/2024 - 06:00 Convenções dão rumo à campanha eleitoral
Durante seu discurso, o presidente da Câmara afirmou que os prefeitos ditatoriais, indicados, empurravam as pessoas para a periferia, esqueciam da mobilidade e focavam em interesses próprios. Os defeitos mencionados foram os mesmos que Gabriel utilizou em seus discursos no Plenário para atacar Fuad Noman. Ainda durante o discurso, o emedebista afirmou que BH tem um prefeito biônico cujo criador o abandonou. A fala faz referência ao acordo costurado na sexta-feira, que fez o ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, migrar do PSD para o Republicanos.
O tom ácido do discurso foi ainda mais aplaudido quando o vereador comparou a gestão de Fuad com a ditadura militar, deixando claro que, para ele, o prefeito não existe por conta própria. A cereja do bolo foi quando, ainda em coletiva de imprensa logo após o discurso, ele deu a entender que não lembrava o nome de Cassio Soares, presidente do PSD e deputado estadual. “Como é chamado aquele senhor? Cassio, Cassio Soares, não é? Ele, pelo jeito, é um homem que só leva bolada nas costas.”
A fala também tinha outra mira: expor as tratativas encabeçadas pelo presidente do PSD que foram fracassadas. Cassio não sabia da filiação de Gabriel ao MDB, que colocou fim nas negociações de um possível apoio a Fuad. O deputado também não sabia da decisão de Kalil e foi pego de surpresa com o acordo selado para apoiar Mauro Tramonte (Republicanos).
As rusgas entre Gabriel e Cassio são antigas e vêm sendo mais expostas agora. Recentemente, quando Fuad noticiou que estava doente, tratando um câncer, o presidente da Câmara afirmou já saber da doença há mais de um ano. Na época, Gabriel enviou um girassol ao prefeito desejando melhoras. Cassio não gostou quando o vereador contou a história em um ofício enviado à Prefeitura. O deputado achou que Gabriel estava tratando a doença do prefeito como piada e chegou a publicar um artigo neste Estado de Minas defendendo Fuad.
Embora o tom de Gabriel seja combativo em relação a Fuad, o prefeito não adota o mesmo estilo agressivo do vereador. Na maioria das vezes em que o presidente da Câmara utilizou essa estratégia, acabou sendo ignorado. Assim como no episódio dos girassois, quem deve responder às investidas de Azevedo é Soares, que, apesar de adotar um tom neutro na ALMG, não costuma deixar declarações polêmicas sem resposta.
Além disso, do lado de Fuad, as declarações de Gabriel podem ser benéficas para a campanha. É fato que o prefeito é pouco conhecido entre as massas populares de BH. No palco dado pelo vereador, Fuad ganhou mais exposição.
A prova de que o tom de Fuad será o tom ameno foi a convenção do União Brasil. Questionado pelo Estado de Minas sobre a saída de Kalil do PSD, o prefeito avaliou o acordo como "normal" e ainda disse que a situação era favorável para o ex-prefeito, que não havia encontrado espaço dentro do partido para ser candidato a governador em 2026. Com a nova legenda, ele ganha um novo cargo – o de presidente do partido em Minas – e, com isso, novos aliados. Fuad ainda frisou que segue amigo de Kalil e não tem mágoas quanto ao fato de ele apoiar Mauro Tramonte.
Por fim, se a expectativa era que as convenções da manhã de ontem ditassem o rumo desta eleição, ficou mais do que provado que, em 2024, temos em Belo Horizonte candidatos já prontos para o combate.
Do lado de Gabriel, o líder do MDB pôs fim a qualquer rumor sobre uma possível desistência em favor de ser um puxador de votos na Câmara e selou o dia acenando para o PSDB, partido com o qual está costurando uma aliança. Já Fuad conseguiu finalmente selar o acordo com o vice e o União Brasil, colocando um ponto final no assunto Alexandre Kalil.
Sem Kalil
O vereador Preto não poupou Alexandre Kalil em seu discurso na convenção do União Brasil. Enquanto fazia um discurso cheio de xingamentos endereçados ao ex-prefeito, Fuad Noman sentava-se à mesa e escutava toda a história de braços cruzados. O sorriso no rosto do prefeito era evidente. Mais tarde, em coletiva de imprensa, Fuad negou desavenças com Kalil e afirmou que mantinha uma amizade com seu antigo chefe.
Sem perguntas
O assunto Kalil, inclusive, irritou o prefeito, que no meio da entrevista coletiva interrompeu uma repórter para dizer que não queria falar mais sobre o ex-prefeito. O desconforto foi evidente, tanto que a jornalista precisou mudar seu questionamento.
Troca de bonés
Também na convenção do União Brasil, Álvaro Damião resolveu inovar ao selar o acordo com Fuad. De mãos dadas, os dois trocaram bonés, que, segundo o vereador, formalizaram ali a união. Nos bonés, estava escrito: “Fuad + Damião”.
Novo vice
Apesar da resistência inicial a ser vice de Fuad, Damião estava encantado com a convenção do União Brasil. O jornalista chegou a confessar que nunca imaginou que um dia daria uma coletiva para falar sobre a possibilidade de se tornar vice-prefeito de Belo Horizonte. Ele ainda afirmou que nunca havia pisado no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), mesmo sendo vereador por Belo Horizonte.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.