
A guerra interna do PL pela disputa ao Senado
O 'Superman' paulistano não esperava topar com sua kryptonita mineira: o PL local
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Na superfície, a disputa pelo Senado pode parecer um jogo de aparências, uma dança ensaiada entre alianças e discursos. Mas, no PL, ela se revela como um campo de batalha no qual a sobrevivência é questão de vida ou morte. Não basta ser só um nome na lista: é preciso conquistar o selo de aprovação do ex-presidente Jair Bolsonaro. Minas Gerais, berço de lideranças bolsonaristas, tornou-se o epicentro dessa tensão, onde antigos ressentimentos e urgências se chocam longe dos olhos da imprensa. “Perto do osso, a carne é mais triste”, escreveu João Cabral de Melo Neto. É nesse espaço cru, entre estratégias e desespero, que a verdadeira luta pelas cadeiras azuis do plenário ganha forma.
A disputa se iniciou quando Marco Antônio Costa, o autointitulado “Superman da Jovem Pan”, saiu de São Paulo e mudou-se para Lagoa Santa vestindo a capa de candidato ao Senado. Ele diz ter o aval do líder bolsonarista e carrega mais que um nome: é o símbolo de uma vertente em luta pela sobrevivência institucional.
Cercado por investigações e negando a sua inelegibilidade, Bolsonaro não busca apenas um aliado no Senado, quer um escudo, votos fiéis e mãos que, com a naturalidade de quem serve café, assinem Is e peçam o impeachment de ministros do Supremo.
Mas o “Superman” paulistano não esperava topar com sua kryptonita mineira: o PL local. O anúncio da candidatura soou como uma ofensa e sua metáfora do “holograma” — usada para atacar adversários que “no primeiro pum de Alexandre de Moraes vão desaparecer” — mais que provocação, revelou um ato falho. Freud explicaria bem: quem muito teme, acusa primeiro.
A disputa pelas duas cadeiras da Casa Alta já fervia nos bastidores muito antes do anúncio de Marco. Domingos Sávio, presidente estadual do PL, também sonha com uma vaga. Porém, mesmo ocupando um cargo de peso, seu nome não empolga os bolsonaristas locais.
Para eles, Sávio é mais burocrata do que estrategista, alguém que istra a máquina sem mexer nas engrenagens da sobrevivência. Nos corredores do partido, seu protagonismo para 2026 é dúvida constante e dificilmente é visto como peça decisiva no tabuleiro que se forma.
Outros nomes circulam como alternativas e cada um carrega um quê de drama e estratégia. Eros Biondini, por exemplo, autor da polêmica PEC que reduz a idade mínima para o Senado, claramente uma bandeira para abrir caminho a Nikolas Ferreira, esconde sua ambição verdadeira: deixar a Câmara dos Deputados após vários mandatos para buscar um descanso ou talvez uma aposentadoria mais confortável no Senado.
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O deputado estadual Cristiano Caporezzo, por sua vez, ganhou holofotes nesta semana e virou motivo de piada ao escrever uma lei que proíbe atendimento médico a bebês reborn pelo SUS. A norma, que mistura ficção com um fanatismo quase cômico, virou meme nas redes, mas garantiu a ele uma visibilidade nacional e burburinhos nos bastidores, talvez o bastante para manter seu nome vivo na corrida interna.
Mas o nome que merece atenção é o do vereador Vile dos Santos. À primeira vista, coadjuvante, nos bastidores, peça-chave. Recém-chegado à Câmara Municipal de Belo Horizonte, ele conhece os corredores do poder como poucos. Foi assessor de Bruno Engler, interlocutor de Nikolas Ferreira e anfitrião de Bolsonaro em Minas, que já dormiu sob seu teto e comeu pão de queijo à sua mesa.
Quando Bolsonaro fala de Minas é Vile quem traduz. Quando Nikolas e Bolsonaro discordam, ele é mediador. Agora, com o apoio do senador Cleitinho (Republicanos) — que não é do PL, mas age como verdadeiro líder da legenda —, o vereador de BH pode ser capaz de mover o tabuleiro, mesmo ainda encontrando resistência dentro do partido por ainda ser desconhecido no estado. Esse é o tipo de bastidor que nunca vira manchete, mas que decide o futuro.
Nos cafés e corredores de Brasília, o entorno de Bolsonaro tenta costurar um nome competitivo para Minas ignorando todas as estratégias da legenda local. Vale lembrar que, antes de Marco Antônio Costa, o entorno de Bolsonaro chegou a cogitar os nomes do ex-ministro Paulo Guedes — mineiro de formação, diplomado pela UFMG — e de Michelle Bolsonaro, mas ela deve mirar o Rio.
Na sexta-feira da semana ada, Vile chegou a fazer um vídeo para o Stories no Instagram acenando para o “Superman”, numa tentativa tímida de abafar o ruído crescente. Mas a a ferve e a tampa começa a saltar.
Fato é que Minas tem memória e não se engana com quem vem só para uma temporada. Como escreveu Guimarães Rosa, “o correr da vida embrulha tudo”. Em 2026, porém, não haverá embrulho que esconda o cheiro do improviso.
Rachadura no mito
A coluna já cantou a bola: o bolsonarismo vive um dilema interno que vai além das disputas estaduais. Por trás do caldeirão da extrema direita, há um conflito mal resolvido entre Jair Bolsonaro e Nikolas Ferreira. A relação entre os dois esfriou. Nikolas, com seu público próprio, jovem e fiel, virou uma franquia do bolsonarismo — os chamados “nicolistas” já formam uma ala à parte em várias câmaras municipais pelo país. E isso assusta. Autonomia demais em um movimento que sempre girou em torno do mito. No entanto, não há muito espaço para ousadias em 2026. Nikolas ainda não terá idade para disputar o Senado e, no fim das contas, deve seguir como puxador de votos à Câmara. Nada mal, aliás: é papel estratégico para o ex-presidente. Se há um nome capaz de gerar engajamento, voto e manchete todo santo dia em Brasília, é o dele. E Bolsonaro sabe disso.
Fica em Minas
“Meu coração, minha missão e meu compromisso permanecem firmes com Minas Gerais.” Assim, Nikolas Ferreira reagiu à notícia, publicada pela Folha de S. Paulo nesta sexta-feira (16/5), de uma possível mudança do domicílio eleitoral para São Paulo do deputado federal mais votado do país. A ideia seria que ele tentasse bater o recorde de votos obtido por Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em 2018. Procurado pelo Estado de Minas, o deputado negou a informação e garantiu: “Nunca houve essa conversa com o partido”. Ele agradeceu o “carinho do povo paulista”, mas lembrou: “Foi o povo mineiro que me confiou essa honrosa missão de representá-los em Brasília, e é por eles que continuo lutando diariamente. Amo esta terra, sua história, sua gente, e não há projeto pessoal ou político que me faça abandonar esse chamado”.
Buraco à vista
A meta fiscal prevista na LDO de Belo Horizonte para 2026 já antecipa o sufoco: um rombo de R$ 589,8 milhões no resultado primário (sem contar o RPPS). A conta é simples: a prefeitura estima arrecadar R$ 20 bilhões, mas planeja gastar R$ 20,6 bilhões — isso incluindo R$ 1,5 bilhão só em restos a pagar. No papel, o resultado nominal também fecha no vermelho, com déficit de R$ 87,1 milhões. Álvaro Damião (União Brasil) já sabe: herdou um caixa que inspira mais cautela do que confiança.
Pauta (quase) secreta
A Assembleia Legislativa de Minas deve votar na próxima semana o projeto de especialização de hospitais, uma das prioridades monitoradas de perto nos bastidores. Além dele, outros textos de interesse do governo podem entrar na pauta, mas, por enquanto, o martelo sobre o que exatamente será votado ainda não foi batido. A programação existe — o conteúdo é que segue no escuro.
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Verde desbotado
Sem espaço na PBH de Álvaro Damião, o PV perdeu a Secretaria de Meio Ambiente e agora se agarra apenas à Fundação de Parques Municipais. A coluna apurou que não houve promessa de manter os cargos da sigla por lá. Como não cabe todo mundo, alguns indicados devem rodar.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.