André Murad
André Murad
Diretor-executivo da Clínica Personal Oncologia de Precisão de BH. Oncologista e oncogeneticista da OncoLavras.
Oncosaúde

Toxina bacteriana e câncer colorretal de início precoce

Exposições ambientais e certos fatores de estilo de vida podem deixar marcas na saúde de uma pessoa

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As taxas de incidência de câncer colorretal variam geograficamente e mudaram ao longo do tempo. Notavelmente, nas últimas duas décadas, a incidência de câncer colorretal (CCR) de início precoce, que afeta indivíduos com menos de 50 anos, dobrou em muitos países. As razões para esse aumento são desconhecidas.

Por outro lado, descobertas genéticas revelam como a exposição precoce a uma toxina que danifica o DNA de bactérias intestinais pode contribuir para o aumento global de populações mais jovens.

As taxas de CCR estão aumentando em adultos com menos de 50 anos, com padrões de incidência variando significativamente de acordo com a região do mundo. À medida que os pesquisadores investigam as mudanças relacionadas à idade e à geografia, eles se concentram nos fatores de risco por trás dos casos de início precoce. Exposições ambientais e certos fatores de estilo de vida podem deixar marcas na saúde de uma pessoa e imprimir padrões característicos de mutações somáticas no genoma, conhecidos como s mutacionais.

Ludmil Alexandrov, geneticista oncológico da Universidade da Califórnia, em San Diego, combina epidemiologia tradicional e mutacional para analisar genomas em busca de padrões genéticos que possam ser responsáveis pelas diferentes taxas de incidência de CCR. Em um novo estudo publicado recentemente na prestigiada revista médica Nature, Alexandrov e sua equipe descobriram que a exposição precoce à colibactina, uma toxina que danifica o DNA produzida por certas cepas de Escherichia coli no intestino, está fortemente associada ao CCR de início precoce.

A equipe utilizou o sequenciamento do genoma completo e catalogou padrões mutacionais de mais de 900 pacientes com CCR em 11 países e quatro continentes com incidência intermediária a alta de CCR. Entre elas, destacaram-se as mutações associadas à exposição à colibactina. Em humanos, a E. coli faz parte de um microbioma intestinal saudável; no entanto, certas cepas de E. coli podem produzir colibactina, um composto mutagênico ligado a quebras na fita dupla de DNA e um possível fator desencadeante do CCR. Isso resulta em dois tipos de mutações rastreáveis: substituições de base única (SBS) e indels (ID).

Pesquisas anteriores, incluindo a do grupo de Alexandrov, haviam encontrado mutações relacionadas à colibactina em 10% a 15% de todos os casos de CCR. No entanto, neste estudo, os pesquisadores observaram mutações mais frequentes em casos de início precoce: as mutações SBS88 e ID18 foram 3,3 vezes mais comuns em indivíduos diagnosticados antes dos 40 anos do que naqueles com mais de 70 anos.

Esses padrões de mutação são uma espécie de registro histórico no genoma e apontam para a exposição precoce à colibactina como uma força motriz por trás da doença de início precoce. Como estudos anteriores constataram que tais mutações surgem na primeira década de vida, a equipe queria verificar se suas amostras exibiam um padrão semelhante.

Para determinar quando essas mutações ocorriam, os pesquisadores classificaram as mutações em todas as células tumorais como clonais precoces e aquelas que apareciam em apenas algumas células como clonais tardias. Eles descobriram que SBS88 e ID18 estavam enriquecidos em mutações clonais precoces, sugerindo que mutações relacionadas à colibactina ocorrem no início do desenvolvimento tumoral. Além disso, os pesquisadores também descobriram que mutações relacionadas à colibactina estavam ligadas a mutações adicionais conhecidas por promover a progressão do câncer.

Se alguém adquire uma dessas mutações aos 10 anos de idade, pode estar décadas à frente do cronograma para desenvolver câncer colorretal, desenvolvendo-o aos 40 anos em vez de aos 60. Isso reformula a forma como pensamos sobre o câncer. Não se trata apenas do que acontece na idade adulta. Trata-se do que acontece na primeira década de vida – talvez até mesmo nos primeiros anos. O investimento sustentado nesse tipo de pesquisa será crucial no esforço global para prevenir e tratar o câncer de forma mais precoce e efetiva.

Tratamento do CCR de início precoce

As abordagens de tratamento para o CCR de início precoce são semelhantes às do CCR de início tardio, como a cirurgia, a radioterapia, a quimioterapia, a terapia biológica, a terapia alvo-molecular e, mais recentemente, a imunoterapia, mas os potenciais efeitos a longo prazo do tratamento devem ser considerados, principalmente em pacientes mais jovens.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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