
A incrível trajetória de Anderson Birman, fundador da Arezzo
Livro 'A cada o' revela como o mineiro criou a importante marca de calçados, o desafio de produzir órios femininos e a luta contra o Parkinson
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Só nos últimos dias consegui ler o livro em que Anderson Birman conta suas memórias para uma repórter, conversa tratada sem segredos – ele não se considerava capaz de escrever o livro, por motivo de saúde. Gostei do relato.
Acompanho a história vencedora da Arezzo, marca de calçados que ele criou, desde os tempos em que os primeiros modelos eram produzidos na casa de seu pai, um dos sócios, assim como seu irmão Jefferson. Gosto muito dos sapatos e da família. A mãe dos dois, dona Ruth, não perdia os lançamentos aqui em BH – eu ficava sempre perto dela, para ouvir seus comentários.
O primeiro sapato que usei do Anderson, que ainda não tinha sua fábrica, era marrom. Como iria para a Europa, fui até ele para ver se conseguia produzir um modelo para mim. Doideira pura de mulher, já se vê.
Anderson me atendeu com toda a delicadeza, expliquei o que queria (salto baixo, raro na época) e o sapato não só saiu como eu queria, como me foi entregue no prazo certo – sem pagar nada. Deve ser por isso, “primeira freguesa”, que ele me honra no livro, me distinguindo como madrinha da Arezzo. Uma honra só.
A partir dali, todos os sapatos nacionais que comprava eram da marca, cuja loja ficava na Avenida Cristóvão Colombo, perto da minha butique na época, tendo como sócia Maria Diniz. Por causa do livro, fiquei conhecendo toda a batalha de Anderson, que começou produzindo sapatos masculinos até entrar na área feminina, aprendendo a ar a diferença brutal entre os dois estilos.
Os masculinos sempre mais ou menos iguais, seguindo a linha de Londres. Já a linha feminina era guerra constante, que começava na palmilha e esbarrava nos saltos, que mudavam a cada estação. Não era nada fácil, o que rendeu à marca algum prejuízo na época.
O trabalho constante de Anderson fez com que ele assumisse a produção, primeiro em Belo Horizonte, onde compraram uma fábrica que estava fechando, até a mudança para São Paulo e Sul do país. É bem interessante conhecer o que ocorre até a marca ter um bonito exemplar na vitrine.
Com a mão forte de Anderson, a Arezzo foi crescendo até conseguir ter lojas em Nova York e em vários países. Até onde sei, é a primeira marca criada em Minas (em 1972) que abriu lojas tão longe. Para entender como isso se deu, só lendo o livro.
Jefferson Birman era responsável pelas lojas. Até que, a folhas tantas, vendeu sua parte para o irmão e foi morar em Portugal, pois ninguém é de ferro. O filho Alexandre, ainda jovem, sonhou em criar seu próprio sapato, com sua própria marca. Veio me procurar no Estado de Minas para mostrar a bota que queria produzir. Bota, algo totalmente diferente do que o pai e o tio produziam. A marca Schutz era totalmente dedicada ao esporte. A intenção do rapaz era não confrontar o pai. Atualmente, a marca faz parte da Arezzo. E Alexandre é o CEO no lugar do pai.
Anderson Birman fala de sua doença, Parkinson. Também revela que, quando jovem, ou quatro anos internado no Colégio Evangélico do Alto Jequitibá, conduzido pelo pastor Cícero Siqueira, meu sogro. Termina contando como a doença o levou para forte atuação na ajuda ao próximo.
O livro foi montado e escrito por Ariane Abdallah, a quem os depoimentos foram dados. Vale conhecer.
“A CADA O”
• Livro de Anderson Birman e Ariane Abdallah
• Editora Citadel
• 288 páginas
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.