
Os 100 anos do Automóvel Clube
No auge de sua "juventude", o Automóvel Clube era o ponto de ligação de toda a sociedade mineira
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A Câmara Municipal está comemorando, este fim de semana, os 100 anos de fundação do Automóvel Clube de Minas Gerais. Se é possível uma comparação, pode-se dizer que SE comemora também o fim da alta sociedade desses 100 anos. No auge de sua “juventude”, o Automóvel Clube era o ponto de ligação de toda a sociedade mineira. Quem não frequentava o clube não somava entre os nomes conhecidos.
Além das festas que o Automóvel Clube promovia – bailes de carnaval, aniversários e comemorações de fim de ano –, era lá que se faziam as mais importantes festas de casamento, lançamento de debutantes, aniversários e tudo mais que tinha de ter a presença do society.
Tudo o que não se usa mais nascia ali. As costureiras não tinham mão a medir para criar os longos para as madames, além do que vinha do Rio de Janeiro por meio de Gerson e da Casa Vogue de São Paulo.
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Quem não era convidado para uma festa no clube mentia que não ia porque estava viajando para fora, e por ai vai. Quem recebia um convite usava-o como aporte para tudo de bom e importante que se fazia na cidade.
A elegância das convidadas era tão grande que nas noites de importantes acontecimentos formava-se, em frente à portaria do clube, a turma do sereno. No dia seguinte, a elegância de uma ou a "jecança" de outra cobria a cidade.
Na época do carnaval, vinham grupos do Rio para aproveitar a festa e encontrar a futura noiva. Os casais que se formavam nas festas eram muitos, alguns deles juntos até hoje.
Depois que a boate Príncipe de Gales foi aberta e o restaurante ou a funcionar, o interesse pelo clube dobrou. O nome foi “herdado” do nobre inglês, que ou um fim de semana na cidade. Quem comandava os comes e bebes era o maitre Peroti, que realmente conhecia os frequentadores e suas manias.
Na época em que para ser chique a boate não servia cerveja, ele levava a bebida aos apreciadores em baldes de prata. Outro dado da época é que homem nenhum ava pela portaria sem paletó e gravata. Isso valia também para os que avam a tarde no quinto andar, nas mesas de jogos, e viravam a noite.
O segredo das presenças era outro dado importante. Os nomes de pessoas famosas eram totalmente escondidos. Se fosse um médico, revelar que, em vez do consultório, ele ava a tarde no carteado, valia a perda da carteira do sócio. Ou a cara virada de todos os outros jogadores.
As festas que se fazem atualmente por tudo quanto é lado recebem gregos e troianos. O dinheiro pago hoje é muito além do que se gastava antigamente.
Novos festeiros vão surgindo e a alma das festas não é mais o requinte das presenças. O que vale é o que se gasta. Acredito que os 100 anos do Automóvel Clube encerraram aquele círculo fechado da sociedade mineira.
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