Bebel Soares
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PADECENDO

Quantas Melissas ainda vamos perder?

É humanamente impossível qualquer família vigiar as crianças e adolescentes 24 horas por dia

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Quando a gente diz que a série Adolescência é muito real, muitos não acreditam que um adolescente seja capaz de matar uma colega de classe por um motivo torpe, muito menos crê que essa é uma realidade muito próxima de todos nós. Até que o que vemos na série se torna real, em 08 de maio a adolescente Melissa Campos, de 14 anos, foi atacada por um colega da mesma idade, na escola, dentro da sala de aula, durante a aula. Melissa morreu no local. Quantas Melissas ainda vamos perder antes de entender que a questão precisa de ações coletivas urgentes?
Um crime violento dentro da sala de aula de um colégio particular de Uberaba. O que está acontecendo? Em coletiva de imprensa na terça-feira, dia 20 de maio, os policiais e promotores esclareceram que a motivação do crime foi inveja e que a vítima foi escolhida aleatoriamente.
Assim como na série “Adolescência”, nas redes sociais começaram a aparecer comentários mentirosos dizendo que Melissa fazia bullying, uma tentativa de eximir a responsabilidade de quem a matou e de culpabilizar a real vítima. A menina da série não fazia bullying, ela se defendia de um menino que odiava mulheres, ela sabia que ele era misógino e, na série, mesmo com os vídeos mostrando o menino a matando, ainda vi comentários dizendo: torci até o final para que ele fosse inocente. Até quando vamos torcer pela inocência dos homens mesmo quando há provas e testemunhas contra eles?
Durante a coletiva de imprensa, o promotor de Justiça de Defesa da Família de Uberaba, André Tuma, disse que Melissa não tinha inimizades e descartou a prática de bullying. "O que ela tinha era um excelente relacionamento com os colegas, uma turma de amigos, nada que pudesse desencadear isso, frequentava a igreja com seus pais, uma excelente aluna, que inclusive havia ganho prêmios dentro da escola. Nada que pudesse desabonar".
O promotor Diego Aguillar contou que, quando foi capturado, o garoto disse: "Eu fiz porque tinha inveja, pelo fato de ela simbolizar alegria que eu não tinha". A promotora Fernanda Fiorati falou sobre a necessidade de que os pais estejam mais presentes nas vidas de seus filhos, conhecê-los, perceber uma mudança de comportamento para buscar ajuda, tentar orientação.
Para além do caso da Melissa, que não é um caso isolado, nós, pais, mães, escola, sociedade, precisamos falar sobre a falta de repertório emocional dos meninos. Têm que ser machos, não podem chorar, não podem expressar sentimentos que não sejam de raiva e ódio. Precisamos pensar nos adolescentes de hoje que aprendem a odiar meninas dentro de fóruns misóginos nas redes sociais. 

Ensinem seus filhos que eles podem chorar, mostrem que eles podem confiar em vocês, que vocês, pais, estão dispostos a ouvi-los. Eles precisam ser ouvidos. Nós precisamos conhecê-los, saber o que eles estão sentindo, validar esses sentimentos. É preciso saber o que eles am na internet, que tipo de conteúdo eles consomem, sobre o que conversam. Adolescentes precisam de limites, de diálogo e de acolhimento. E talvez isso ainda não seja suficiente, e se não estiver, que se busque tratamentos para a saúde mental.

Infelizmente, o que temos visto, em várias situações diferentes, é que adolescentes cometem crimes de ódio, contra colegas, contra professores, contra moradores de rua. E precisamos deixar claro, não há como a família monitorar tudo que os filhos fazem 24 horas por dia, portanto, também é necessária a participação do poder público nesse controle, e isso a pela regulamentação das redes sociais que lucram com conteúdo violento, com misoginia, com exploração sexual infantil, com exploração do trabalho infantil. 

Vivemos em sociedade e temos leis que regem esse convívio, as redes sociais são terra sem lei, e essa falta de regras tem consequências sérias para todos nós. Os conteúdos de ódio vêm empacotados nos conteúdos “infantis”, “apropriados”. E é humanamente impossível qualquer família vigiar as crianças e adolescentes 24 horas por dia, a única forma seria proibindo o o completamente, mas e quando eles estão com outros amigos que am? E quando os próprios pais transformam seus filhos em criadores de conteúdo? As big techs têm condições de contribuir e colaborar, mas não se interessam por isso, porque lucram com a nossa dor. O Estado precisa intervir.

Quantas Melissas precisarão morrer para que a gente entenda que precisa prestar mais atenção nas adolescências?

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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