Quando o viral vira armadilha: os perigos escondidos nas trends digitais - Tecnologia
CAMINHO DIGITAL
Quando o viral vira armadilha: os perigos escondidos nas trends digitais
Por trás das trends que viralizam nas redes, existem riscos reais que vão muito além da diversão. Saiba como se proteger
Paulo Guerra
05/05/2025 11:16
Desafio do desodorante é uma das armadilhas digitais que pegam especiamente crianças e adolescentes - (crédito: wikimedia commons)
crédito: wikimedia commons
O termo "trend" refere-se a fenômenos digitais que rapidamente se popularizam nas redes sociais e plataformas online. Quase sempre esses fenômenos baseiam-se em desafiosou sugestões de ações que levam as pessoas a um resultado previamente visualizado em outras páginas. Elas normalmente são impulsionadas por influenciadores e usuários comuns que buscam engajamento.
Há todo tipo de “trend”. Algumas pedem ações simples como o envio de uma foto ou a conexão de uma conta pessoal em troca de um croqui ou imagem em algum estilo específico. A mais recente do tipo é a “studio ghibli”. Mas há outras que são muito mais ofensivas, como a "Devious Licks", que pede que jovens compartilhem vídeos de furtos de itens escolares. Uma outra que teve grande repercussão não muito tempo atrás era a da “Baleia Azul”, que levava jovens a se mutilarem.
Essas brincadeiras refletem um contexto social mais amplo, onde a busca por reconhecimento e curtidas muitas vezes sobrepõe a razão e isso pode ser extremamente perigoso, pois, frequentemente, as “trends” envolvem a exposição a riscos físicos, virtuais e emocionais, que com muita frequência escondem comportamentos prejudiciais e até ilegais. Muitas pessoas têm a ingênua ideia de que enviar uma foto para uma “trend” de rede social é um ato mais inofensivo do que roubar material escolar ou se automutilar, mas a verdade é que muitas vezes não é.
A participação nessas modinhas coloca em risco a privacidade dos indivíduos. A vinculação de perfis a outros desconhecidos e utilizados como origem de “trends” acaba por compartilhar experiências e dados pessoais que as pessoas nem imaginam, tais como localização frequente, hábitos diários e até informações de identificação que alimentam bancos de dados de pessoas ou organizações mal-intencionadas. O compartilhamento de fotos permite que sistemas escondidos capturem imagens “voluntariamente encaminhadas” e as processem a fim de cruzar com informações online e identificar ou rastrear indivíduos.
Os principais perigos incluem ataques de phishing, onde golpistas buscam obter informações sensíveis que podem dar a eles o privilegiado a dados que podem causar prejuízo, inclusive financeiro ou de imagem. Mas o uso direto e mal intencionado não é o único risco. Muitas vezes, as pessoas ou indivíduos que originam essas “trends” coletam e vendem as informações a terceiros ou geram o vazamento de dados, o que quase sempre se concretiza em fraudes e assédios online. As consequências podem ser severas, afetando a reputação e a segurança pessoais. E não para por aí: as fotos podem ser editadas e manipuladas em massa para satisfazer desejos sexuais ilegais de pessoas que pagam boas somas para ar esse tipo de material.
Como a imaginação para o crime é quase ilimitada, existem ainda diversos outros tipos de golpe. O “spoofing de identidade” acontece quando os criminosos criam perfis falsos em redes sociais para enganar outros usuários, pedir empréstimos etc. Outro golpe que tem se tornado cada vez mais frequente é o “scams de doação”. Nele, os criminosos identificam causas que são importantes para as pessoas e criam campanhas fraudulentas de arrecadação de fundos para se aproveitar da boa vontade das vítimas. O “ransomware” é quando os criminosos inserem arquivos maliciosos nas imagens de resposta que criptografam dados, exigindo um resgate para a liberação. Já no “catfishing”, os golpistas criam perfis falsos com características que eles sabem que encantarão determinada pessoa e, assim, iniciam relacionamentos aparentemente perfeitos, que os levam a ganhar a confiança das vítimas com o objetivo de extorquir dinheiro ou informações.
Diante de tantas possibilidades de prejuízos, é crucial que as pessoas estejam alerta sobre a importância de tomar cuidado ao participar de brincadeiras online.
Para se proteger, aqui vão algumas dicas essenciais:
- Desconfie de modinhas que pedem fotos, dados ou conexões com outras contas. Antes de participar, pesquise a origem da trend e entenda quem está por trás dela; - Nunca compartilhe informações pessoais ou sensíveis em redes sociais abertas, especialmente em sites ou aplicativos que você não conhece bem; - Ative autenticação em dois fatores em suas contas e use senhas fortes e diferentes para cada plataforma. - Evite clicar em links ou baixar arquivos de origem duvidosa. Muitos golpes vêm disfarçados de conteúdo inofensivo; - Converse com amigos, familiares ou especialistas sobre o que você vê nas redes. Às vezes, uma segunda opinião é o que basta para evitar um erro; - Mantenha seu antivírus e seus aplicativos atualizados. Isso ajuda a barrar ameaças que usam brechas de segurança.
Mais do que seguir a onda, é importante cultivar uma consciência digital crítica. Afinal, no mundo online, proteger sua imagem, seus dados e sua saúde mental é tão importante quanto no mundo real. Antes de participar de qualquer brincadeira, lembre-se: a internet não esquece – e nem todos estão brincando.