
Desaquecimento desafia otimismo da Fazenda
Em abril, as vendas de cimento tiveram queda de 3% na comparação com o mesmo mês do ano anterior. No mês ado foram comercializadas 5,2 milhões de toneladas
Mais lidas
compartilhe
SIGA NO

O Brasil dá sinais claros de desaceleração. Apesar da demonstração de otimismo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que no início desta semana previu um crescimento da economia em torno de 2,5%, o mercado projeta uma expansão de 2%. Pode ser que a posição do mercado financeiro, mais conservadora, leve em conta a defasagem nos efeitos da elevação da taxa de juros. E o Banco Central não vê a desaceleração como suficiente para conter o consumo e reduzir a pressão sobre os preços. Tanto, que elevou a Selic na quarta-feira ada para 14,75% ao ano, o maior patamar desde julho de 2006. Na ata da reunião do Copom, divulgada esta semana, o BC reconheceu o desaquecimento. “A política monetária significativamente contracionista já tem contribuído e seguirá contribuindo para a moderação de crescimento”, afirma a autoridade monetária na ata do Copom.
Leia Mais
Indicador antecedente de atividade econômica, o desempenho do setor cimenteiro mostra desaquecimento. Em abril, as vendas de cimento tiveram queda de 3% na comparação com o mesmo mês do ano anterior. No mês ado, foram comercializadas 5,2 milhões de toneladas. Houve queda também no volume de vendas de cimento por dia útil. Nessa métrica foram comercializados 236,8 mil toneladas por dia, um recuo de 4,1% em relação a março e de 5,8% em relação a abril de 2024.
A queda veio depois de um primeiro trimestre de alta. Os números são do Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNC). O Sindicato lembra que o mercado imobiliário, importante indutor do consumo de cimento, teve queda no número de lançamentos no primeiro bimestre deste ano em relação a igual período do ano ado. A expectativa do setor é de que as recentes mudanças no Minha casa, minha vida (MCMV), com a inclusão de famílias com renda de até R$ 12 mil, possam manter o mercado aquecido.
Outro indicador que mostra o desaquecimento da economia foi apurado pelo IGet, indicador da GetNet, em parceria com o Santander. O indicador da empresa que monitora o desempenho do comércio varejista brasileiro, mostra que houve um recuo de 0,4% nas vendas do comércio em abril em relação ao mês anterior, de acordo com o IGet Ampliado. O recuo em abril é o segundo seguido, depois de dois meses de expansão. No índice ampliado, tanto o segmento de automóveis, partes e peças quanto o de materiais de construção tiveram resultados negativos, com quedas de -1,6% e -7,3%, respectivamente.
“Os dados refletem uma desaceleração no desempenho de ambos os segmentos em abril”, diz a GetNet em nota. No índice houve retração de 0,9% em relação ao mês anterior. Segundo a empresa, a composição do varejo apresentou resultados mistos, com alguns segmentos registrando crescimento, como vestuário 0,6% e móveis e eletrodomésticos 1,5%. Em contrapartida, outros segmentos mostraram resultados negativos, como combustíveis -11,5%, outros bens de consumo pessoal -2,7% e artigos farmacêuticos -0,1%.
O desaquecimento da economia brasileira pode ser visto também no aumento do desemprego. Dados do IBGE mostram que a taxa de desemprego chegou a 7% no primeiro trimestre deste ano, com alta de 0,8 ponto percentual sobre o trimestre encerrado em dezembro. Embora com alta, a taxa ainda é a menor desde o início da série histórica. Dados do Ministério do Trabalho mostram que no primeiro trimestre deste ano foram criados 654 mil postos de trabalho com carteira assinada, número 9,8% inferior ao primeiro trimestre do ano ado. E mais, em março houve saldo positivo de 71,6 mil vagas, resultado 71% inferior aos 245,4 mil empregos formais gerados em março de 2024. Os sinais de desaquecimento ainda são incipientes e é preciso observar os próximos indicadores, mas a economia brasileira parece mais próxima de crescer 2% do que num patamar maior neste ano.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.