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Estava a falar sobre a matéria do último domingo no Fantástico que, não assisti, mas me foi relatada com a estranheza devida. Mulheres que circulam com bonecas, lindas de fato, mas bonecas, como se fossem seus bebês. Já alertava que a busca desenfreada de felicidade dos nossos tempos, promovida pelo discurso capitalista, na medida em que promove o gozo do ganho, o curto-circuito dos laços socioafetivos e o prazer acima de tudo. Portanto, individualismo e segregação de braços dados.
Infinitos produtos despejados no mercado, em parceria com a indústria da propaganda, que nos sugestiona à completude com objetos de desejo, preenchendo nosso vazio existencial e apregoando que a vida não será a mesma sem tal ou tal novidade.
Já estava nesse caminho quando fui interrompida com notícia da morte de ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica. Porém, deixo claro, que uma coisa está em relação a outra, por oposição. Enfatizo que tantos brinquedos, jogos e entretenimento tomados como “a bola da vez”, nos têm infantilizado. Nos fazem alienados de última geração.
Tamanha dedicação às bonecas poderia bem ser voltada para ações coletivas, em favor de crianças carentes de cuidados. Precisamos de mais, muito mais, políticos que nos representem de fato e sejam capazes de valorizar efetivamente o que de fato é prioridade. Fundar o dia oficial da cegonha reborn? E um dia oficial pela educação de nossas crianças? Esse nunca foi proposto.
Sim, Mujica morreu. Era um homem de grandes valores. Sua prioridade: educação, educação e educação. Fez muito por seu país, desde que, na ditadura, lutou com as armas que possuía e, talvez, fossem, naquele momento, a única saída contra a violência, os assassinatos e torturas.
Lutou pela liberdade e contra a opressão. Lutou por seu povo. Sofreu, foi torturado. Escapou com vida. Tornou-se presidente. Foi, além de político, um pensador que priorizou de fato o conhecimento que liberta. Zeloso quanto ao cuidado com os menos favorecidos, um político que renunciou aos privilégios de presidente para andar no seu Fusquinha velho, ainda bom, e de helicóptero, dispensando aviões espetaculares.
O mundo lamenta sua morte. Um homem que se importava com outros homens e desejava uma civilização menos consumista e mais humana. Um político desses que a gente sempre quis que nos representasse. Por isso, na segunda-feira, 13 de abril, o mundo divulgou e lamentou a perda de mais um grande homem, depois de chorar pelo papa Francisco. Com certeza, sem eles, o mundo fica mais pobre. Esperamos que novos líderes pensadores e humanos possam vir em seu lugar. Carecemos deles.
Trago dois contrastantes assuntos do momento para apontar o grande salto e a divisão que a vida contemporânea enfrenta. Enquanto muitos só pensam nas coisas mais superficiais e desejam se adaptar aos luxos e divertimentos, a tudo que é rápido e fugaz, outros se preocupam pelos rumos da humanidade.
E esses, em menor número, devido aos efeitos devastadores do amor ao dinheiro, ao prazer, à negação do outro e priorização do fácil e inútil. Enquanto uns brincam com bebês fabricados que não demandam nenhum esforço ou cuidado, aliás, nada demandam, não adoecem nem têm fome, outros lutam por um mundo melhor para crianças, que hoje são tomadas por abusadores, sofrem a miséria da fome, vivem em lares destelhados e estão desabrigadas.
E, nessa luta contra um real cruel da segregação, por um mundo que abrace diferenças, acolhe, cuide do coletivo e seja mais humano, precisamos muito mais Mujicas e Franciscos do que Trumps e Musks.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.