Renato Quintino
Renato Quintino
O chef Renato Quintino tem formação como filósofo e artista plástico, é professor de gastronomia e vinhos no Espaço Renato Quintino, autor do livro "A Invasão dos Incas Venusianos - Receitas de Todos os Mundos" e guia em viagens internacionais focadas em
GASTRONOMIA

Eu me arrependo de quase tudo

Comprei rapidamente e a leitura me surpreendeu mais do que eu esperava. O livro já está entre os 10 mais vendidos pelo The New York Times

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Gastronomia é mais do que comida, é cultura, arte, cinema, história, teatro, pintura. iro o trabalho de Keith MacNally há décadas, desde que ele abriu seu primeiro restaurante em Nova York, o Odeon. Sempre com sucesso conceitual e com uma ousadia diferente do que o mainstream da gastronomia entende hoje como ousado.

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Numa matéria no The New York Times, ele foi chamado como o restauranteur – ele detesta esta alcunha – que reinventou o Downtown – entende-se aqui o Soho e suas imediações. 

McNally criou casas como o Balthazar, o subterrâneo – literalmente – bar russo Pravda, o Schiller Licor Bar, o Café Luxemburgo – as três mulheres gordinhas e peladas de costas na frente do bar no postal da casa esteve na minha estante por anos -, o Minetta Tavern – hoje com uma unidade de sucesso em Washington DC  –, o Luck Strike, o Pullino’s – uma pizzaria na Bowery, foi o seu maior fracasso, mas eu adorava – e o Pastis – aberto no Meatpacking Disctrict. Antes de a região ser “cool”, aparecia no  Sex and The City e no filme Melinda, Melinda, de Woody Allen. Todas marcaram época na cidade pela comida, décor, serviço e conceito. E depois veio o Balthazar, no Covent Garden, em Londres, super recomendo.

Quando McNally divulgou que lançaria agora em maio sua autobiografia, fiquei na expectativa. “Eu Me Arrependo de Quase tudo” (I regret almost everything) foi lançada no Balthazar e com sua ironia escrita na porta “fechado para um funeral”.

Comprei rapidamente e a leitura me surpreendeu mais do que eu esperava. O livro já está entre os 10 mais vendidos pelo The New York Times, aumentando as chances da publicação no Brasil.

Na noite de lançamento, amigos e clientes como Anna Wintour e Woody Allen estavam lá. Wintour realça o trabalho de McNally pelo sucesso que ele faz, mesmo sendo avesso aos holofotes. Não é necessário estar na lista dos 50 melhores do mundo e se expor excessivamente para ter sucesso e já há 40 anos. 

Wintour realça também o quanto nos sentimos em casa em seus restaurantes, que de fato são aconchegantes. A decoração de suas casas está longe do minimalismo, muitos espelhos na parede, veludos, quadros acadêmicos, misturados aqui e ali com sofás de couro meio rasgados e quadros e objetos irreverentes. Toalhas nas mesas, serviço eficiente e muito profissionalismo. 

Ruth Reichl, uma lenda como crítica de gastronomia, definiu bem que o livro não é na verdade sobre restaurantes. É sobre o poder da literatura, da arte e do teatro de expandir o mundo de uma pessoa. É sobre um garoto da classe operária do East End de Londres que encontrou muita gente interessante e viveu amplamente de todas as formas que importam. É um livro que te faz querer abrir a cabeça, visitar museus, ir ao teatro e andar pelo mundo com seus olhos bem abertos. 

Citando George Orwell, “uma autobiografia só é confiável quando revela desgraças”, McNally fala do seu flerte com o suicídio depois que teve um grave AVC. A vida não é fácil para ninguém. Ele conduz muito bem o texto entre os hospitais, longos tratamentos, sua vida em família – dois casamentos e cinco filhos – suas relações homossexuais no ado, sua experiência como ator de teatro, diretor e roteirista de cinema, sua viagem quando jovem de quase um ano até o Nepal após ler Sidarta, de Hermann Hesse, sobre sua relação com as mulheres e cada filho e sobre sua história com os seus restaurantes. É um belo livro.

Seu Instagram @keithmcnallynyc é autoral, com resenhas do que dá certo e errado nos seus restaurantes, e ironia fina e inteligente. Recomendo. 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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