Espera-se que estudos futuros forneçam maior clareza sobre os melhores protocolos de uso e as populações de pacientes que mais se beneficiam dessa terapia crédito: drfelipebessa.com.br/Reprodução
Nos últimos anos, a medicina regenerativa tem avançado significativamente no campo da ortopedia, oferecendo alternativas inovadoras para o tratamento de lesões musculoesqueléticas. Uma dessas inovações é o uso de concentrado aspirado de medula óssea, conhecido como BMAC (Bone Marrow Aspirate Concentrate).
O que é BMAC?
É um concentrado obtido a partir da aspiração da medula óssea, geralmente da crista ilíaca do paciente. A medula óssea contém uma população heterogênea de células, incluindo células-tronco mesenquimais (MSCs), progenitores hematopoiéticos, plaquetas, fatores de crescimento e outras substâncias bioativas que promovem a regeneração e reparo tecidual. Após a coleta da medula óssea, o material é processado para concentrar essas células e fatores regenerativos, resultando no BMAC. Esse concentrado pode ser aplicado diretamente no local da lesão, onde atua promovendo o reparo tecidual por meio da modulação da inflamação, estímulo à cicatrização e regeneração celular.
O principal componente de interesse no BMAC são as células-tronco mesenquimais (MSCs). Essas células têm capacidade de se diferenciar em vários tipos de tecidos, como cartilagem, osso e tecido adiposo, além de secretar citocinas e fatores de crescimento que regulam o processo de cicatrização. Além disso, o BMAC contém uma mistura de outras células, como plaquetas e glóbulos brancos, que ajudam a criar um ambiente local favorável à regeneração, proporcionando um efeito sinérgico no processo de cura.
Tem sido utilizado em várias áreas da ortopedia, especialmente no manejo de lesões em tecidos com baixa capacidade de regeneração, como a cartilagem e os tendões. As principais indicações incluem:
1. Lesões de cartilagem: a cartilagem articular tem capacidade limitada de autorreparação devido à sua avascularidade e baixa densidade celular. O uso de BMAC oferece uma abordagem biológica que visa melhorar a regeneração da cartilagem, com a esperança de melhorar a durabilidade dos reparos.
2. Osteoartrite: é uma condição degenerativa que afeta milhões de pessoas no mundo, resultando em dor, perda de função articular e deterioração da cartilagem. O BMAC tem sido estudado como terapia regenerativa que pode potencialmente retardar a progressão da OA, melhorando a função articular e aliviando os sintomas. Estudos iniciais sugerem que o BMAC pode ajudar a reduzir a inflamação e estimular a produção de matriz extracelular por condrócitos remanescentes, promovendo o reparo da cartilagem.
3. Lesões tendinosas: tendinopatias, especialmente as crônicas, representam um desafio no tratamento ortopédico, com taxas variáveis de sucesso em terapias convencionais, como fisioterapia, infiltrações de corticoide e cirurgia. O BMAC tem sido utilizado no tratamento de tendinopatias, particularmente no tendão de Aquiles e no manguito rotador. Ele ajuda na regeneração tecidual, modula a inflamação e pode melhorar a qualidade de cicatrização.
4. Pseudoartroses e fraturas ósseas: o tratamento de fraturas ósseas complicadas, como pseudoartroses (fraturas que não consolidam), representa outra importante área de aplicação do BMAC. Em combinação com enxertos ósseos, é utilizado para estimular a formação de novo tecido ósseo e acelerar a consolidação da fratura.
Benefícios do uso de BMAC
Fonte autóloga: uma das principais vantagens é o fato de ser uma terapia autóloga, ou seja, derivada do próprio paciente. Isso minimiza o risco de rejeição imunológica e de transmissão de doenças infecciosas, além de ser um procedimento seguro, com poucas complicações associadas. Minimização de intervenções invasivas: em muitos casos, pode ser utilizado em procedimentos minimamente invasivos, o que reduz o tempo de recuperação e os riscos associados à cirurgia aberta.
Potencial regenerativo: suas propriedades regenerativas, particularmente devido à presença de MSCs e fatores de crescimento, fazem dele uma opção promissora para tratamentos ortopédicos. Ele não apenas promove o reparo do tecido danificado, mas também pode melhorar a função do tecido e retardar processos degenerativos.
Estímulo à angiogênese e à cicatrização: o BMAC promove a formação de novos vasos sanguíneos (angiogênese) e a cicatrização adequada, fatores essenciais para o reparo tecidual em lesões com suprimento sanguíneo limitado, como a cartilagem e o tecido tendinoso.
Limitações e desafios
1. Variabilidade nos resultados: como a composição do BMAC varia de acordo com a idade, saúde geral e outros fatores específicos de cada paciente, os resultados podem não ser consistentes. A quantidade de células-tronco e fatores de crescimento obtidos de diferentes pacientes podem influenciar a eficácia do tratamento.
2. Falta de protocolos padronizados: atualmente, não existe um protocolo padronizado universal para a obtenção e istração de BMAC, o que resulta em variações nos resultados clínicos. O número de células-tronco, o volume de medula aspirada e o método de concentração podem variar amplamente entre os centros de tratamento.
3. Custo: o uso pode ser caro, uma vez que envolve a coleta de medula óssea, processamento especializado e equipamentos de alta tecnologia. Para muitos pacientes, o custo do tratamento pode ser um fator limitante, especialmente se não houver cobertura pelos planos de saúde. Futuro do BMAC na ortopedia
O campo da medicina regenerativa continua a evoluir rapidamente, e o BMAC representa uma parte importante desse avanço. Com o desenvolvimento de novas tecnologias de processamento celular e um melhor entendimento dos mecanismos biológicos subjacentes, é provável que o uso de BMAC na ortopedia se torne cada vez mais refinado e eficaz.
Espera-se que estudos futuros forneçam maior clareza sobre os melhores protocolos de uso e as populações de pacientes que mais se beneficiam dessa terapia. Além disso, a combinação de BMAC com outras abordagens regenerativas, como plasma rico em plaquetas (PRP) e engenharia tecidual, pode abrir novas fronteiras no tratamento de lesões musculoesqueléticas complexas.
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