
A verdade é que todos nós cometemos erros ao longo da vida, e é exatamente nesses momentos que mais precisamos de compaixão e apoio
Rubem Alves nos conta uma fábula que se a em uma aldeia na qual, em vez de criticar ou punir uma pessoa que cometia um erro, os moradores adotavam uma abordagem comiva e solidária. Quando alguém fazia algo equivocado, a comunidade se reunia em um círculo, com o indivíduo no centro, e cada membro da aldeia falava sobre as qualidades e virtudes do infrator, reforçando o quanto ele era valorizado por eles. A prática tinha como objetivo fortalecer a autoestima e o senso de pertencimento do indivíduo, ajudando-o acrescer e melhorar com base no amor e na aceitação, em vez da punição e da vergonha.
Em sua obra O Ser o e Nada, Jean-Paul Sartre, argumenta que a existência é anterior à essência. Isso significa que os seres humanos primeiro existem e, ao longo da sua vida, criam sua essência por meio de suas ações, escolhas e relações. Ou seja, ao contrário do que alguns defendem, para Sartre a nossa essência é algo construído, e não algo dado como um fato. E mais importante, o autor também defende que nós temos a capacidade de transcender nossas circunstâncias e criar novas essências através de nossas escolhas.
Ao valorizar as qualidades e não os defeitos do infrator, a comunidade retratada por Rubem Alves, permite que o sujeito reavalie suas ações e entre em contato com a sua essência. Quando a comunidade escolhe reconhecer as virtudes e as qualidades do indivíduo, ela está incentivando-o a enfrentar sua vida de modo mais autêntico, promovendo um ambiente de reconhecimento mútuo, no qual cada indivíduo é valorizado e encorajado a crescer. E como nossa identidade é, em parte, criada através das interações que temos ao logo da vida, esta comunidade em especial, compreendeu o quanto o ambiente social pode nos moldar de maneira positiva.
Muitos de nós acredita que devemos punir severamente aqueles que erram, no entanto, algumas vezes o que aquele que violou as regras deseja é apenas acolhimento e reconhecimento de suas qualidades que, até mesmo para ele, podem estar turvas ou encobertas. O que a fábula sugere é que em vez de nos concentrarmos nos erros e nas falhas, devemos valorizar e destacar os aspectos positivos da pessoa.
A compaixão e o acolhimento têm o poder de transformar vidas. Em vez de criticar, na maioria das vezes, devemos reconhecer as qualidades e virtudes de quem erra, promovendo um espaço de apoio existencial. Esta abordagem não apenas fortalece a autoestima e o senso de pertencimento do indivíduo, mas também incentiva que os membros da sociedade sejam mais solidários. Ao valorizarmos o ser humano em sua totalidade, com suas falhas e virtudes, criamos um espaço no qual todos podem evoluir e transcender as circunstâncias.
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A verdade é que todos nós cometemos erros ao longo da vida, e é exatamente nesses momentos que mais precisamos de compaixão e apoio. A linda fábula nos relembra que o reconhecimento das qualidades humanas são fundamentais para que possamos nos conectar com nossa essência genuína. Ao adotamos uma postura mais comiva, podemos ajudar as outras pessoas a descobrirem seu verdadeiro valor e a viverem de forma mais autêntica. Em um mundo que frequentemente enfatiza a punição, a mensagem de Alves e Sartre é um verdadeiro convite para a construção de uma sociedade mais justa e empática, na qual o amor e a aceitação são os verdadeiros catalisadores do florescimento humano.