
Djonga anuncia "show histórico" em BH na próxima sexta-feira (19/1)
Rapper prepara surpresas para a estreia nacional da turnê "Inocente 'demotape", com teatro, efeitos visuais e balé no palco do Arena Hall
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Siga noCalça jeans escura, regata branca, tênis preto e boné cinza. É assim que Djonga chega a seu estúdio de tatuagem, o Sensação Tattoo, no bairro Funcionários. No pescoço, um cordão de ouro com a insígnia de Nossa Senhora Aparecida e outro com a espada de São Jorge. Por baixo da regata, duas guias para que os orixás o protejam.
Djonga chega sério e compenetrado, falando ao telefone como um executivo. Porém, basta terminar a ligação para abrir o largo sorriso e apertar a mão de todos ali, cumprimentados pelo nome.
Aos 29 anos, o músico belo-horizontino vive um dos melhores momentos da carreira. Em 2020, foi o primeiro brasileiro indicado ao BET Hip-Hop Awards, premiação norte-americana de rap e hip hop da Black Entertainment Television. No mesmo ano, venceu pela segunda vez consecutiva o MTV Miaw, na categoria Beat BR.
Depois vieram os discos “Nu” (2021) e “O dono do lugar” (2022). Em 2023, venceu o Prêmio Multishow de Música Brasileira na categoria hip hop. E foi premiado no Los Angeles International Music Video Festival (LAMV) pelo clipe “Conversa com uma menina branca”, faixa de “O dono do lugar”. O vídeo, cumpre dizer, foi dirigido pelo próprio rapper.
O novo álbum, “Inocente 'demotape”, lançado em outubro do ano ado, foi considerado a melhor estreia dos últimos tempos no Spotify Brasil. Em dois meses, alcançou 50 milhões de streams.
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Agora, Djonga está às vésperas da estreia da turnê “Inocente 'demotape”. A primeira apresentação ocorrerá nesta sexta-feira (19/1), no Arena Hall, em BH. “Não dá pra dar muitos detalhes sobre o show, senão perde a graça, né?”, brinca ele.
Moinho na Praça Sete
O que esperar, senão surpresas, de alguém que, ao lançar “O dono do lugar”, instalou na Praça Sete a réplica do moinho de Dom Quixote e ficou por lá atendendo fãs e fazendo selfies?
“Tenho certeza – ou quase, né? – de que o que estamos preparando vai ser um bagulho histórico pra arte de Belo Horizonte e de Minas Gerais. E, principalmente, para quem estiver lá no dia”, adianta ele.
Por enquanto, a turnê a pelo Rio de Janeiro (3/2), Porto Alegre (2/3), São Paulo (9/3), Curitiba (16/3) e Recife (20/3). O rapper nutre esperanças de levá-la para fora do Brasil.
Djonga e seu moinho na Praça Sete no lançamento do álbum "O dono do lugar", em 2022
Mais que cantar ao microfone, ele quer entregar ao público uma performance com pompa. Introduziu efeitos visuais, corpo de dança e pausas para trocas de figurino.
“Gosto muito de fazer show, mas é um processo que, às vezes, pode se tornar repetitivo, com a galera sempre pedindo as mesmas músicas. Então, acho importante trazer outras coisas, como a estética da cenografia, da troca de roupa e do balé”, afirma.
Ele vem amadurecendo esta ideia desde 2022, quando se apresentou no Lollapalooza. No festival paulistano, Djonga fez de tudo um pouco. Explorou todo o palco, desceu para cantar e pular com público, fez discurso antirracista, denunciou a violência imposta à periferia, com balas perdidas matando crianças, e criticou de forma contundente o então presidente Jair Bolsonaro.
“Quero sair do óbvio, que é subir no palco e cantar as músicas com a galera cantando junto, sacou? Quero, sei lá, fazer teatro no palco, fazer a galera dançar no palco. Quero fazer a galera que está ali embaixo entender a história que a gente está querendo contar”, ressalta o rapper.
Em 2019, ele estreou no teatro interpretando Madame Satã na peça homônima dirigida por João das Neves e Rodrigo Jerônimo.
“No Lollapalooza, a gente começou com esse movimento. Depois, em vários festivais em 2022, a gente trouxe a questão da dança para o show, da performance, do balé e tal. Agora, a gente quer trazer uma questão de cenografia maior, saca? Uma questão de teatralidade para contribuir de alguma forma com o que está aí. Sair mesmo do óbvio, assim como vários parceiros e amigas estão fazendo”, afirma.
O ator Djonga contracena com Lua Miranda na série "Resistência negra", exibida na Globo em 2023
Se até aqui os shows e discos (com exceção de “Inocente 'demotape”) de Djonga trouxeram crônicas viscerais do Brasil violento e racista, a essência da nova turnê será diferente. Isso porque o novo álbum traz outras sonoridades e letras mais pessoais, um pouco distanciadas daquelas dos discos “Heresia” (2017), “O menino que queria ser Deus” (2018), “Ladrão”’ (2019), “Histórias da minha área!” (2020) e os já citados “Nu” e “O dono do lugar”. Djonga agora também está cantando, em vez de apenas disparar suas rimas certeiras.
“Arte é libertação”
“Fazer arte é libertação, independente do que eu estiver cantando, se estiver falando da coisa mais triste ou da mais alegre do mundo”, afirma Djonga.
“Às vezes, a galera pega as coisas que nós falamos e tenta colocar a gente numa prisão com aquilo. Mas a gente fala. Fala, porque precisa tirar a verdade que está presa aqui dentro”, afirma, apontando para o próprio peito.
“Então, não adianta tentar prender as palavras da gente, a musicalidade ou o que quer que seja. Não adianta querer encaixar a gente, porque fazer arte é ser livre”, acrescenta.
Djonga, de fato, tem buscado a liberdade. Em 2022, ele se juntou a Martinho da Vila para compor e lançar “Era de Aquarius”. Recentemente, reforçou os laços com o funk ao participar do single “Qual calcinha”, de MC Saci, ao lado de MC Rick, Mc Nahara e DJ WS da Igrejinha.
No fim deste mês, ele canta na festa de comemoração dos 94 anos da escola de samba paulistana Vai-Vai, que no carnaval vai homenagear o hip hop. No início de fevereiro, participa como convidado especial em show de Zeca Pagodinho, no Rio de Janeiro. Do time de convidados que o sambista de Xerém escolheu, Djonga é o mais jovem.
Bloco na rua
Em fevereiro, o rapper pretende colocar na rua o Bloco do Djonga, durante o carnaval de Belo Horizonte. É promessa feita no ano ado. “Estamos naqueles últimos detalhes de patrocínio e tal. Como a gente já vai fazer a turnê agora, estamos gastando uma grana nos shows. Então, se não rolar um patrocínio legal, fica puxado pra gente”, explica.
Grana é uma das preocupações do rapper. Em todos os shows, ele bate o pé com os produtores para manter ingressos a preços íveis, pois quer ter na plateia a presença massiva de pessoas que vivem nas periferias.
Quando lançou “Ladrão”, em 2019, Djonga colocou bilhetes do show à venda por R$ 10, que acabaram em poucas horas. A apresentação foi um marco. O espaço na Savassi (atual Arena Hall), frequentado majoritariamente por brancos mais favorecidos, ficou lotado de pessoas negras e da periferia. Na sexta, “Inocente ‘demotape” ainda tem ingressos a R$ 40. Os de pista já acabaram.
“É uma coisa que a gente fica martelando sempre com os produtores. Se colocamos os preços lá em cima, o evento fica embranquecido. Não só embranquecido, mas elitizado. Nós queremos o pessoal da quebrada lá, se divertindo e curtindo. É claro que estamos tratando de um mercado, do qual não estamos fora, por isso os preços podem aumentar ou diminuir. Mas sempre vamos fazer de tudo para não elitizar o show”, garante.
Público lotou o Chevrolet Hall, atual Arena Hall, no show com ingressos a R$ 10 para lançar o disco "Ladrão", em 2019
Quadrilha unida
Djonga atribui seu sucesso ao trabalho de todos da equipe. “Não posso falar que (o sucesso) é por causa do meu talento. Atribuo a toda a galera d’A Quadrilha. Tanto os que estão lá hoje, quanto os que já saíram”.
Em 2022, ele abriu a produtora A Quadrilha, em BH, cujo selo já lançou trabalhos de Zulu IMG, Iza Sabino, Marcelo Tofani, Laura Sette e X Sem Peita, entre outros.
“Antes, A Quadrilha era um projeto pessoal”, comenta. “Era só eu que falava, só eu que mandava. Agora já fodeu tudo. A Quadrilha é de todo mundo. Todo mundo fala, todo mundo manda. Eu já não mando em mais nada lá. Falo: ‘Faz isso’. Aí chegam para mim e dizem: ‘Não vou fazer, porque me mandaram fazer outra coisa’. Mas tá bom, só tem gente de confiança.”
Brincadeiras à parte, o rapper tem carinho com a equipe da produtora. Faz questão de dar oportunidade a novos talentos e compartilhar com os parceiros suas próprias conquistas e vitórias. “Que graça tem comemorar sozinho?”, questiona.
“Meu maior sonho é que os artistas d’A Quadrilha sejam mais fodas do que eu, ou tão fodas quanto eu. Não falo de qualidade e talento, porque isso aí é tranquilo, eles têm. Falo de reconhecimento. Quero que eles sejam tão conhecidos quanto eu”, conclui.
“INOCENTE 'DEMOTAPE’”
Show de Djonga. Nesta sexta-feira (19/1), a partir das 21h, no Arena Hall (Avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, São Pedro). Arquibancada: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia), à venda na bilheteria ou plataforma Sympla. Ingressos de pista esgotados. Informações no site arenahall.com.br.