
Exposição de fotos em BH mostra uma Amazônia que não existe mais
Ailton Krenak diz que paisagens visitadas por ele e pelo fotógrafo Hiromi Nagakura nos anos 1990 foram em boa parte destruídas. Mostra abre nesta quarta (2/10)
compartilhe
Siga noAs paredes vermelhas da sala à direita do foyer do CCBB-BH evocam uma gama de emoções: amor, paixão, raiva, fogo, guerra, vida e morte. De certa forma, tudo isso está representado nas fotografias expostas nessa sala como parte da mostra “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak”, que será inaugurada nesta quarta-feira (2/10) e ficará em cartaz até 30 de novembro.
- Brasileiro que viralizou nos EUA diz que precisou provar não ser IA
- Homem arremata violão assinado por Taylor Swift e o destrói; veja o vídeo
- Museu Mineiro exibe ao público cartões escritos por Guignard
Com curadoria de Ailton Krenak, Angela Pappiani, Eliza Otsuka e Priscyla Gomes, a mostra reúne fotografias do japonês Hiromi Nagakura, capturadas em territórios indígenas da Amazônia durante uma série de viagens realizadas entre 1993 e 1998, tendo Krenak como guia.
Trata-se de uma Amazônia que já não existe mais, segundo o filósofo e imortal da Academia Brasileira de Letras. “Como uma paisagem tão magnífica desaparece em um e de mágica, como se fosse um truque?”, questionou, durante conversa com jornalistas um dia antes da abertura da mostra.
30/09/2024 - 19:32 Coldplay deve se aposentar após 12º álbum, diz vocalista 01/10/2024 - 13:12 Green Day é banido de rádios após fala polêmica do vocalista Billie Joe 01/10/2024 - 14:04 Príncipe George é proibido de viajar com os irmãos; entenda
“Esses registros foram feitos há 31 anos. Em três décadas, conseguimos apagar uma boa parte daquele mundo de florestas e águas que aprendemos a chamar de Amazônia”, acrescentou.
“Hiromi Nagakura: da Amazônia com Ailton Krenak” se inicia com uma série de imagens dos povos Huni Kuin, Kaxinawá, Ashaninka e Yawanawá, localizados entre o Acre, Amazonas, Peru e Bolívia.
Fotógrafo de guerra
Experiente em guerras e conflitos, o fotógrafo japonês se interessou em fotografar a Amazônia após sobrevoar o Rio Tocantins e avistar vários focos de incêndio na região. Ele conheceu Krenak e desenvolveu uma relação de proximidade com o escritor, discutindo sempre possibilidades de reverter a situação de destruição da Amazônia.
“A tendência é as pessoas acharem que é um problema local, mas não é. Está tudo interligado. Temos um problema aqui no Brasil, tsunami no Japão, terremoto no Iêmen, seca na Europa”, disse Nagakura.
Exposição "Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak" reúne trabalhos feitos ao longo de cinco anos
Ele, contudo, não pretendia fotografar conflitos diretos entre os povos originários e invasores, mas sim conhecer a cultura de cada etnia, registrando como a luta dos povos influenciava as famílias e os indivíduos.
O primeiro núcleo da exposição apresenta imagens do cotidiano dos Kaxinawá, Ashaninka e Yawanawá, que sofrem significativamente com a invasão dos seringalistas. Seguindo a lógica de não fotografar o conflito de maneira ampla, Nagakura nos mostra cenas dos indígenas em momentos de descontração, tocando instrumentos, nadando e navegando pelos rios da região.
O segundo núcleo foca na religiosidade dos povos A’uwê Uptabi – Xavante, Krikati e Akrãtikatêjê – Gavião da Montanha, respectivamente do Mato Grosso, Maranhão e Pará. Eles enfrentam ameaças diárias ao seu patrimônio físico e cultural, sofrendo interferências de religiões, do agronegócio e de projetos do próprio poder público, que atua na região sem consultá-los. O povo Gavião da Montanha, por exemplo, foi forçado a se retirar de suas terras devido a alagamentos causados pela hidrelétrica de Tucuruí.
O que Nagakura captura, no entanto, são ritos e celebrações desses povos, uma forma de resistência que afirma a própria cultura. Em destaque, uma imagem mostra homens da etnia Xavante formando um grande círculo em um ritual de iniciação dos jovens meninos. Em frente a essa foto, na parede oposta, está a cerimônia de casamento dos Krikati, onde os noivos se deitam sobre uma esteira diante do xamã, que conduz a união.
Yanomamis
O terceiro núcleo é dedicado aos Yanomamis, frequentemente vítimas de epidemias e assassinatos. Em janeiro de 2023, a agência Sumaúma denunciou a morte de 570 crianças Yanomamis entre 2019 e 2022. As fotos, porém, trazem um outro olhar.
Vemos uma menina lavando um chinelo na chuva, um menino segurando uma banqueta de madeira na altura do rosto, simulando o gesto do fotógrafo; o sorriso aberto de outro garotinho com o rosto pintado de urucum, e a garotinha travessa, sentada no chão. A imagem mais comovente talvez seja a da mãe segurando um bebê no colo, cercada de crianças e olhando para cima, sorrindo.
“Todos ali estavam vendo um macaco em cima de uma pedra, um lugar onde ele não costuma subir”, contou Krenak. “A imagem consegue transmitir a ideia de simplicidade e de que podemos viver em um mundo com simplicidade”, disse.
A exposição se encerra com uma espécie de “pós-créditos”, apresentando fotos de Krenak e Nagakura, 30 anos mais jovens. “(Com a mostra) Acho que conseguimos encontrar uma chave para não manter a história da Amazônia confinada no ocidente. E, mais ainda, mostrar a Floresta Amazônica cheia de humanidade”, diz Krenak.
“HIROMI NAGAKURA ATÉ A AMAZÔNIA COM AILTON KRENAK”
Exposição de fotos, em cartaz até 30/11, na galeria do térreo do CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). De quarta a domingo, das 10h às 22h. Entrada franca, mediante retirada de ingressos na bilheteria ou pelo site do CCBB. Hoje (2/10), às 19h, Hiromi Nagakura e Ailton Krenak participam da palestra “Celebração do Encontro”, sobre a viagem pela Amazônia.