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CINEMA

Documentário indicado ao Oscar está disponível no streaming no Brasil

"Sugarcane: Sombras de um colégio interno" aborda o horror do abuso e assassinato de crianças indígenas em escolas canadenses geridas pela Igreja Católica

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Em 2021, uma vala com os restos mortais de 215 crianças foi encontrada na antiga escola residencial indígena Kamloops, na Colúmbia Britânica, Canadá. O colégio, fechado em 1978, fazia parte de uma rede de escolas financiadas pelo governo, mas istradas, em sua maioria, pela Igreja Católica.

O objetivo das instituições era assimilar à força crianças e jovens indígenas à cultura branca, retirando-as ainda cedo do convívio dos pais.


A descoberta em Kamloops gerou comoção nacional. Investigações sobre violências e assassinatos cometidos em internatos católicos foram abertas e igrejas foram queimadas em protesto.

O documentário “Sugarcane: Sombras de um colégio interno” (2024), dirigido por Julian Brave Noisecat e Emily Kassie, indicado ao Oscar e disponível no Disney+, traz depoimentos de sobreviventes de agressões e abusos sexuais praticados por religiosos na escola residencial da Missão São José. A instituição ficava próxima à reserva da Primeira Nação de Williams Lake, conhecida popularmente como Sugarcane.


Indicado ao Oscar 2025 na categoria de Melhor Documentário, o filme segue a equipe de investigação enquanto tenta identificar os corpos encontrados e desvendar os crimes envolvendo bebês – filhos de indígenas abusadas – mortos no incinerador do colégio.


A produção ainda retrata a jornada de cura pessoal de Julian Noisecat, diretor do documentário, e seu pai, Ed Archie Noisecat, que, ainda recém-nascido, foi encontrado por um funcionário do internato dentro do incinerador.


As escolas residenciais indígenas canadenses remontam ao século 19, tendo sido a primeira fundada na década de 1820. Até 1997, quando o último colégio foi fechado, 150 mil crianças indígenas tinham sido separadas das famílias e levadas aos internatos. Destas, a Comissão de Verdade e Reconciliação do Canadá estima que 6 mil morreram nas dependências das instituições.


“Por décadas, houve relatos de negligência e abuso na Missão São José. Crianças morreram e desapareceram na escola. Durante a maior parte da história da Missão, esses relatos foram, na melhor das hipóteses, ignorados. Havia algo mais sombrio acontecendo ali”, diz Willie Sellars, chefe da Primeira Nação de Williams Lake, no documentário.


Nos internatos, as crianças eram forçadas a falar inglês ou francês, e castigos físicos eram aplicados àqueles que fossem pegos se comunicando em suas línguas nativas. Ex-alunos relatam terem sido forçados a segurar Bíblias pesadas sobre as cabeças por mais de uma hora, enquanto outros eram açoitados no celeiro que pertencia à Missão.


Crianças morreram ao tentar fugir do colégio. Alguns corpos jamais foram encontrados.“Sempre me senti suja por ser indígena durante todo o tempo naquela escola. Aquele lugar nos ensinou vergonha e culpa”, relata Martina Pierre, ex-aluna.


Nomes e números

Enquanto estavam na escola, as crianças não eram chamadas por seus nomes, mas pelos números que lhes eram atribuídos no momento da matrícula. A prática, parte de um processo sistemático de genocídio cultural, buscava apagar ainda mais suas identidades.


Além das agressões físicas e verbais, “Sugarcane” apresenta relatos de ex-alunos abusados sexualmente por padres da Missão São José. Sem o amparo dos funcionários da escola, das autoridades e, muitas vezes, das próprias famílias, muitas vítimas relatam ter lidado com alcoolismo durante a vida adulta.


O documentário também aborda a morte de bebês de indígenas abusadas por religiosos. Para encobrir os crimes cometidos nas dependências da instituição, os recém-nascidos eram mortos em um incinerador.


Além dos depoimentos, “Sugarcane” combina filmagens de arquivos que revelam o dia a dia das crianças nas escolas, os avanços da investigação em Williams Lake e a viagem de representantes indígenas do Canadá a Roma, onde o Papa Francisco pediu desculpas, em nome da Igreja, pelos atos de violência cometidos contra os povos nativos.


No entanto, as palavras lidas pelo líder máximo da Igreja Católica no documento de retratação soam vazias, incapazes de remediar a dor dos presentes.


O documentário de Julian Brave Noisecat e Emily Kassie configura-se com um relato poderoso não apenas sobre o infanticídio cometido pelas escolas residenciais canadenses, mas também o trauma geracional resultante da brutalidade imposta a toda uma nação.


“Sugarcane” concorre ao Oscar de Melhor Documentário com “Trilha sonora para um golpe de Estado”, “Black box diaries”, “No other land” e “Porcelain war”. A festa de premiação ocorre no próximo dia 2 de março.


“SUGARCANE: SOMBRAS DE UM COLÉGIO INTERNO”
• (EUA, Canadá, 2024, 1h47). Direção: Julian Brave Noisecat e Emily Kassie. Documentário. Disponível no Disney+.


*Estagiária sob supervisão da editora Silvana Arantes

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