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OSCAR 2025

Imponente mosteiro nos EUA é o verdadeiro astro do filme 'O brutalista'

Abadia injustamente "esquecida" de Minnesota inspirou o longa de Brady Corbet, forte candidato ao Oscar de Melhor Filme no próximo domingo (2/3)

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Em uma pradaria nevada em Minnesota, há um mosteiro como nenhum outro. A construção de concreto e sua torre de sino pairam sobre a gigantesca fachada em forma de colmeia composta por centenas de hexágonos brilhantes.


Durante meio século, apenas os monges beneditinos que rezam lá e os arquitetos que fazem peregrinação à igreja da Abadia Saint John's, todos os verões, sabiam da existência desta obra-prima modernista.

Gigantesca estrutura de concreto aparente da fachada da Abadia de Saint John's, nos Estados Unidos, que serviu de inspiração para o filme O brutalista
Brutalismo, estilo arquitetônico modernista, é a marca registrada da igreja de Minesotta Kerem Yucel/AFP


No entanto, o edifício ganha fama agora como inspiração para “O brutalista”, um dos favoritos pra o Oscar de Melhor Filme, prêmio que será entregue no próximo domingo (2/3). O drama conta a história do arquiteto Lázló Toth (Adrien Brody), que migra para os EUA após sobreviver ao Holocausto. Toth era adepto do brutalismo, estilo arquitetônico ousado, com estética caracterizada pelo uso de concreto bruto.

A história da gênese desta igreja americana é tão improvável quanto o enredo que ela inspirou, incluindo gigantes do mundo da arquitetura, monges ambiciosos, reforma no Vaticano e briga por causa de janelas com células de colmeia.


“O fato de este centro de estudos religiosos no meio do nada, istrado por um grupo de monges, contratar um arquiteto famoso é uma história fascinante”, diz Alan Reed, membro da abadia.


Tudo começou com Baldwin Dworschack, abade conservador que herdou a istração de um mosteiro, na década de 1950.


A Igreja Católica se modernizava; Dworschak e assessores viram a oportunidade de emular os monges pioneiros do século 12 que inauguraram o então novo estilo gótico.

Vitrais da Abadia de Saint John's, inspiração do filme O brutalista, têm a forma de colmeia
Vitrais semelhantes a colmeias chamam a atenção pela beleza Kerem Yucel/AFP


No processo organizado por um monge que estudou arquitetura, foram enviados convites para os principais arquitetos modernistas da época: Richard Neutra, Walter Gropius, Eero Saarinen e Marcel Breuer.


Surpreendentemente, vários responderam. Breuer, judeu húngaro formado na influente escola alemã Bauhaus – inventor das cadeiras tubulares de aço que ainda hoje mobiliam escritórios –, foi escolhido para cuidar da gigantesca igreja.

Minnesota 'esconde' obra-prima de Marcel Breuer


O projeto dele “foi algo nunca visto antes”, informa Victoria Young, professora de arquitetura da Universidade de St. Thomas, em Minnesota, que lançou um livro sobre a criação de Breuer.


O arquiteto sino-americano I.M. Pei, ex-aluno de Breuer, escreveu que a igreja da Abadia Saint John's seria considerada um dos maiores exemplos de arquitetura do século 20 se estivesse em Nova York, e não em Minnesota.

Iluminado por luz amarela, oratório de cimento da Abadia de Saint John's, nos EUA, fonte de inspiração do filme 'O brutalista'
Oratório de cimento da Abadia de Saint John's, nos EUA, fonte de inspiração do filme 'O brutalista' Kerem Yucel/AFP


Brady Corbet, diretor de “O brutalista”, citou um livro de Hilary Thimmesh, jovem membro do comitê de Dworschack, como fonte principal para seu filme.


Cobert visitou a abadia e se deparou com as memórias de Thimmesh enquanto pesquisava para o longa.


Os paralelos são claros: um arquiteto judeu desenhando um edifício colossal cristão de estilo modernista em remota colina americana.


Um ponto de tensão no filme é o momento em que o cliente (um milionário, papel do ator Guy Pearce, e não um abade) apresenta seu próprio arquiteto, sabotando o autor do projeto original.


Na vida real, Breuer se tornou amigo de Dworschak, mas eles se desentenderam quando os monges trouxeram seu designer de vidro, descartando o trabalho de Joseph Albers, amigo íntimo e ex-professor de Breuer.

 

'Golpe repentino'


Em uma carta amarga, Breuer qualificou a decisão como “golpe repentino” e disse que preferia “não fazer nada” a continuar com a escolha dos monges.


A disputa de poder em “O brutalista” termina com um ato horrível de violência sexual em uma pedreira de mármore na Itália.


No entanto, na vida real, cliente e arquiteto rapidamente se entenderam.

Ator Adrien Brody está de lado, em frente a maquete com formas modernistas em cena do filme O brutalista
Adrien Brody como o arquiteto húngaro Lázló Toth, protagonista do filme 'O brutalista' e forte candidato ao Oscar de Melhor Ator, que será entregue no domingo (2/3) Universal Pictures/divulgação


O filme indicado ao Oscar, ao destacar o mosteiro como um tesouro oculto, é motivo de orgulho para as pessoas envolvidas com a Abadia Saint John's.


O arquiteto Robert McCarther escreveu um livro sobre Breuer porque o húngaro “havia sido esquecido, inclusive pelos colegas, até certo ponto”, diz.


“Há muita gente que pensa que Saint John' é, de longe, sua melhor construção. E eu concordo”, acrescenta.


Salvação

Para os monges, o filme pode ser um salva-vidas, pois a igreja necessita urgentemente de reparos. Parte do concreto começa a desmoronar e o aço a oxidar.


A ordem religiosa diminuiu: antes, com 340 monges, era o maior mosteiro beneditino masculino, hoje, o número caiu para menos de 100.


“Se conseguíssemos arrecadar dinheiro suficiente, os monges poderiam pelo menos aquecer a igreja no inverno e resfriá-la no verão”, diz Alan Reed, membro da abadia.


“O BRUTALISTA”


(EUA, 2024, 215 min.) Direção: Brady Corbet. Com Adrien Brody, Felicity Jones, Guy Pearce. Em cartaz no Cineart Ponteio (Sala 2, 13h30, 19h50), BH Shopping (Sala 7, 19h50), Diamond Mall (Sala 2, 19h30), UNA Cine Belas Artes (Sala 2, 20h20) e Centro Cultural Unimed-BH Minas (Sala 2, 19h10).

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