Oscar 2025: ‘Ainda estou aqui’ ganha Oscar de Melhor Filme Internacional
A premiação do longa de Walter Salles estrelado por Fernanda Torres é inédita para o Brasil, que acumulava indicações, mas jamais havia vencido a estatueta
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Siga no“Ainda estou aqui”, de Walter Salles, é a primeira produção brasileira a ganhar o Oscar. O longa recebeu a estatueta de Melhor Filme Internacional na noite deste domingo (2/3), durante a 97ª edição da premiação.
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A última vez que um filme brasileiro concorreu na categoria foi em 1999, com “Central do Brasil”, também de Salles. No mesmo ano, Fernanda Montenegro, que era protagonista da trama, disputou Melhor Atriz.
“Obrigado em primeiro lugar em nome do cinema brasileiro. É uma honra receber esse prêmio num grupo tão extraordinário de cineastas. Dedico esse prêmio a uma mulher que depois de uma perda durante de um regime autoritário decidiu não se curvar e resistir. Esse prêmio é dedicado a ela, Eunice Paiva. Dedico às duas mulheres extraordinárias que deram vida a ela, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. É uma coisa extraordinária. Muito obrigada”, disse o diretor Walter Salles ao receber o prêmio.
Galeria de fotos: Veja momentos marcantes da trajetória do filme "Ainda estou aqui"
“Ainda estou aqui” superou o dinamarquês “A garota da agulha”, a animação letã “Flow”, o alemão “A semente do fruto sagrado” e o francês “Emilia Pérez”, duramente criticado por representar mexicanos estereotipados e relativizar o sofrimento de parentes das vítimas dos crimes perpetrados por cartéis de droga locais.
Inicialmente queridinho da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, com o maior número de indicações nesta 97ª edição do Oscar (13 no total), “Emilia Pérez” caiu em desgraça depois que posts xenófobos e racistas feitos no ado pela intérprete da personagem-título, a espanhola Karla Sofía Gascón, vieram a público no final de janeiro.
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“Ainda estou aqui” superou os concorrentes contando a história de luta da advogada e militante pelos Direitos Humanos e Indígenas Eunice Paiva, papel de Fernanda Torres. Baseado no romance homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice, o filme transforma a família Paiva em metáfora de um projeto de país brutalmente interrompido pela ditadura militar (1964-1985).
Galeria de fotos: Veja os concorrentes do Brasil no Oscar de Melhor Filme Internacional
Em janeiro de 1971, o ex-deputado federal Rubens Paiva, marido de Eunice, foi preso por agentes do Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa), levado para o quartel da Força Aérea Brasileira, no Rio de Janeiro, e, depois, para os porões do DOI-CODI, onde foi torturado e morto.
Dias depois, Eunice também foi presa junto da filha Eliana, de 15 anos, e levada para o mesmo local onde os militares mantinham Rubens Paiva. Ela foi liberada 12 dias depois e nunca mais teve notícias do marido, a não ser um posicionamento cínico e mentiroso do Exército defendendo a tese de que Rubens Paiva fora sequestrado por guerrilheiros quando era transportado para outro presídio. Eunice dá, então, início a uma jornada para fazer o Estado Brasileiro reconhecer a morte de Rubens Paiva, o que ocorreu somente em 1996.
Salles conta a saga dessa matriarca sem recorrer a demonstrações explícitas de violência. Trata-se do filme de uma família feito em família (Torres divide o papel de Eunice com a mãe, Fernanda Montenegro) e para as famílias. Não à toa, levou tantos brasileiros para o cinema.
“Ainda estou aqui” estreou em 7 de novembro do ano ado e já atraiu mais de 5 milhões de espectadores. É a produção nacional que chegou ao maior número de cidades do Brasil nos últimos sete anos, sendo exibido em 420 das 439 cidades com salas de cinema do país.
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O longa estreou no Festival de Veneza, em setembro ado, onde recebeu o prêmio de roteiro. Depois disso, foi convidado para aproximadamente outros 50 festivais. Venceu ao menos 38 prêmios, entre eles o de Melhor Filme pelo júri dos festivais de Roterdã, de Miami, de Vancouver, de Pessac, na França; de Mill Valley, nos Estados Unidos; e da Mostra de São Paulo.