Peça "Nebulosa de Baco", inspirada na obra de Pirandello, chega a BH
Montagem paranaense estreia nesta sexta-feira (7/3), no CCBB-BH, e cumpre temporada na capital mineira até o próximo dia 31/3
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Se em “Seis personagens à procura de um autor”, de Luigi Pirandello (1867-1936); seis personagens que integram uma família surgem no palco de um teatro enquanto um grupo está ensaiando e pedem aos atores que representem seus dramas na tentativa de se libertarem das angústias que carregam; em “Nebulosa de Baco”, os papéis se invertem.
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Na montagem escrita e dirigida por Marcos Damaceno, que estreia nesta sexta-feira (7/3) no CCBB-BH e cumpre temporada até 31/3 na capital mineira, são duas atrizes que precisam ir ao encontro de dois personagens complexos e carregados de angústia, mas que podem ser sua redenção.
“Nebulosa de Baco” é livremente inspirada em Pirandello. “Não só em ‘Seis personagens…’, como em ‘Assim é (se lhe parece)’. São textos que trabalham muito com o embaralhamento entre o que é real e o que é interpretação”, afirma o diretor e dramaturgo.
O título do espetáculo reflete tal duplicidade. As nebulosas, segundo Marcos, são o que há de mais lindo e enigmático no universo. E Baco, além de ser o deus do vinho, do teatro e das celebrações, representa a fertilidade e a dualidade humana. “Portanto, é o Baco que inspira a transformação do caos interno em beleza e expressão”, afirma ele.
Guerra de narrativas
Na peça, duas atrizes (representadas por Rosana Stavis e Helena de Jorge Portela) ensaiam uma peça na qual dão vida, respectivamente, a um padrasto e sua enteada. A relação deles é complicada. A garota diz que foi abusada na infância. Ele nega veementemente, afirmando que o verdadeiro abusador é o pai biológico dela.
A verdade sobre o ocorrido nunca vem à tona. O que se vê é um embate de narrativas que se chocam e se confrontam, deixando a cargo do público decidir em quem acreditar.
“É claro que a gente – sobretudo no momento que estamos vivendo, com o grande número de casos de abuso e violência sexual – precisa defender e dar voz às pessoas que são abusadas. Mas, na peça, em determinados momentos, ficamos na dúvida em quem acreditar”, adianta o diretor.
Encontrar o verdadeiro culpado não é o objetivo da peça. Em um mundo ultra tecnológico, no contexto da pós-verdade, “Nebulosa de Baco” se propõe a discutir a guerra de narrativas e suas implicações. “As pessoas são realmente aquilo que estão mostrando ou estão num exercício narrativo de convencer os outros de que são o que não são?”, questiona Marcos.
Dilemas
Em paralelo, o espetáculo também aborda dilemas que todo ator enfrenta. São postas às claras as inseguranças do ator, a dificuldade para encarnar um personagem e as vulnerabilidades de cada um. Os atores, enquanto profissionais, são pessoas que também recorrem à arte da dissimulação e do disfarce para dar vida a personagens que, na maioria das vezes, não condizem com suas personalidades.
Nesse metateatro proposto em “Nebulosa de Baco”, o espectador experimenta momentos tensos e angustiantes e também alívios cômicos, que se dão pelo ritmo, velocidade e musicalidade das palavras nas vozes das duas atrizes em cena.
“Hoje em dia, os atores perderam um pouco a capacidade de seduzir o espectador e ganhar a atenção pelo poder da palavra”, avalia Marcos. “Por isso, nossa preocupação é fazer um teatro da palavra, focando muito no texto e na maneira como ele vai sair da boca dos atores. Cada palavra, cada frase da peça é muito elaborada”, afirma.
“Nebulosa de Baco” tem final aberto – característica que também é muito comum nas obras de Pirandello –, fazendo com que o público saia do teatro com a pulga atrás da orelha e se perguntando: “Mas será que o outro personagem não estava dizendo a verdade?”.
“NEBULOSA DE BACO”
Texto e direção: Marcos Damaceno. Com Rosana Stavis e Helena de Jorge Portela. A partir desta sexta-feira (7/3) até 31/3, no Teatro I do CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). De sexta a segunda-feira, às 20h. Ingressos à venda por R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), na bilheteria e pelo site do CCBB. Mais informações: (31) 3431-9400.