Literatura

Lázaro Ramos aborda novamente a questão racial no livro 'Na nossa pele'

O ator, diretor e escritor retoma as suas experiências pessoais e reflexões ligadas ao tema que expôs no best-seller 'Na minha pele', de 2017

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Em 2017, Lázaro Ramos estreou na literatura adulta com “Na minha pele”, em que mesclava reflexões e experiências pessoais com questões relacionadas à pauta racial. Agora, ele retoma o fio da meada com “Na nossa pele – Continuando a conversa”, que chega às livrarias em 17 de março. Dentre as muitas vozes que a sua própria condensa no novo trabalho, a que mais se eleva é a de sua mãe, Célia Maria do Sacramento, que o criou trabalhando como empregada doméstica e morreu quando ele tinha 18 anos.


O ator, diretor, produtor, apresentador e escritor – agora com 11 títulos publicados, a maior parte voltada para o público infantil – diz que voltou ao universo de “Na minha pele” movido pelo entendimento de que alguns assuntos caminharam ao longo dos últimos sete anos e que era necessário falar a respeito dessa caminhada. “Na nossa pele” é também fruto, ele diz, de um processo de autoconhecimento e de investigação de quem foi sua mãe.


“Achei que tanto eu quanto quem leu 'Na minha pele' teria, agora, a capacidade de encarar questões que optei por deixar de fora daquele trabalho de 2017”, diz. Ele explica que não quis, à época, fazer um livro desestimulante, com histórias sofridas, que agora vêm à tona.

“Entendo que nós, enquanto coletivo, avançamos. Na verdade, comecei, ainda em 2018, a escrever textos para mim mesmo, reflexões íntimas, e quando percebi, achei que esse material seria um bom complemento para o primeiro livro”, diz.


História da mãe

Logo nas primeiras páginas de “Na nossa pele”, Lázaro conta que quando escreveu “Na minha pele” não tinha capacidade de reexaminar a história de sua mãe.

“Não consegui falar mais dela antes porque achava injusto chamá-la de permissiva, iva ou, pior, submissa. Na época, por ignorância mesmo, eram esses os primeiros adjetivos que me vinham à mente. E eu sempre me fazia a mesma pergunta: como ela ou tanto sem se rebelar?”, escreve.

Célia Maria do Sacramento, mãe de Lázaro Ramos, olha para a câmera
Célia Maria do Sacramento, mãe de Lázaro Ramos, inspirou o livro 'Na nossa pele' Lázaro Ramos/Instagram

Ele diz que essa capacidade de reexame da história de sua mãe veio após um processo terapêutico e também do retorno que teve dos leitores de “Na minha pele”, que diziam se identificar com seus relatos. “Acho que o 'Na nossa pele' foi uma maneira de lidar com minha história incluindo as partes não tão alegres e frutíferas, olhar para a dor e usar isso para me libertar, não permitir que isso fosse algo limitador”, ressalta.

Lázaro afirma que o primeiro capítulo do novo livro, em que faz uma apresentação sumária de sua mãe, é o que contém agens que considerou particularmente difíceis de compartilhar com seus leitores. 

“Eu mesmo, quando li depois de pronto, sentia arrepios pelo corpo. É muito delicado. Quando falo qualquer coisa que tenha a ver com fragilidade, com vulnerabilidade, fico receoso e em alerta, mas, neste caso, achei que era necessário. São agens que levam as pessoas a refletir”, diz.


Saúde mental

A questão da saúde mental, por exemplo, que não aparece em “Na minha pele”, está posta de forma aberta em “Na nossa pele”, de acordo com o autor. Ele observa que, há alguns anos, as pessoas nem se davam ao direito de tocar nesse assunto – homens, especialmente.

“Numa época em que está todo mundo tomado pela ansiedade e que existe essa falta de saber em quem se inspirar, achei útil trazer esse tema para o livro, porque permanece silencioso para muita gente”, destaca.


O impacto que ele espera que “Na nossa pele” tenha nos leitores é o da identificação. “Gostaria que as pessoas se permitam entrar nas histórias que conto ali. É um livro sobre acolhimento e sensibilização”, diz. Para isso, Lázaro mantém no novo trabalho o mesmo estilo de escrita que reproduz o fluxo de uma conversa íntima presente em seu antecessor. Nos livros infantis, ele pontua, sua forma de escrever vem mudando e se diversificando ao longo do tempo.

Pautas raciais avançaram

Lázaro considera que sim, houve avanços no que diz respeito às pautas da questão racial desde o lançamento de “Na minha pele”. Ele observa, por exemplo, que hoje a presença negra na televisão é múltipla.

“É algo que tem acontecido na frente e atrás das câmeras, o que é muito saudável. Também temos isso no cinema, com o surgimento de diretoras e diretores negros contando suas histórias, o Gabriel Martins, a Glenda Nicácio, a Juliana Vicente lançando documentários sobre os Racionais MCs e Ruth de Souza”, diz.


Atuação nos bastidores

Com relação à sua própria vida profissional, ele também identifica mudanças e avanços importantes desde o lançamento de “Na minha pele”. Um deles, conforme diz, foi a consolidação de sua atuação nos bastidores, seja como diretor ou produtor. “Fiz o (filme) 'Medida provisória' (2022), mostrando uma linguagem que eu queria levar para o cinema. Depois veio 'Um ano inesquecível: outono' (2022), um filme pop, para jovens”, diz.


Este último trabalho é uma franquia da Amazon, onde Lázaro também pôde expandir seus horizontes. “Eu queria experimentar um lado de gestor de processos e de pessoas e fiz isso como showrunner da Amazon Prime Video, na condição de conselheiro de projetos, o que foi possível a partir de um curso que fiz na Fundação Getúlio Vargas, porque eu ainda não tinha a técnica de trabalho para isso. Foi um salto que dei no que diz respeito à escolha de projetos que apontam para algum lugar”, destaca.

Lázaro Ramos sorri na capa de seu livro Na nossa pele
Lázaro Ramos discute o preconceito racial em seu novo livro Reprodução


“NA NOSSA PELE”


• De Lázaro Ramos
• Editora Objetiva
• 128 páginas
• R$ 69,90 (livro físico) e R$ 29,90 (e-book)

Tópicos relacionados:

cultura lazaro-ramos livro racismo

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