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DANÇA

Conheça Clarice Assad, primeira mulher a compor sozinha para o Grupo Corpo

'(R)evolution', peça criada pela carioca para a companhia mineira, tem música sinfônica, eletrônica e elementos de inteligência artificial

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Cantora, pianista, compositora e arranjadora, Clarice Assad achou “um pouco impressionante” o convite para criar a trilha sonora do novo espetáculo do Grupo Corpo, que marca o cinquentenário da companhia de dança e tem estreia prevista para agosto. Credenciais não lhe faltam. Morando há 30 anos entre França e Estados Unidos, onde vive desde 1998, seu trabalho é aclamado pela crítica internacional como influência crescente na música clássica contemporânea.

Filha do violonista e compositor Sérgio Assad (que forma o Duo Assad com o irmão Odair) e sobrinha da cantora e compositora Badi Assad, ela transita também pela canção popular, world music e jazz. Clarice, de 47 anos, já foi indicada ao Grammy e recebe encomendas de composições para orquestras e grupos de câmara mundo afora.

Surpresa

O “um pouco impressionante” vem do fato de, nos 50 anos do Corpo, ela ser a primeira mulher a sozinha uma trilha para a companhia.

“Foi uma grande surpresa, porque acompanho o Grupo Corpo desde criança e sempre gostei muito do fato de fazerem encomendas para compositores brasileiros. Eles nunca tinham pedido para uma mulher antes, então fico muito honrada. Ainda mais nesta ocasião, com a companhia fazendo 50 anos”, diz.

A obra, já pronta e demandou cerca de um ano de trabalho. Rodrigo Pederneiras e Cassi Abranches estão desenvolvendo a coreografia.

Clarice conta que, inicialmente, recebeu carta branca para criar com total liberdade, inclusive o tema, e isso a deixou assustada. “Vi documentário com outros compositores falando do quanto é difícil não ter uma direção quando recebem encomenda. Mas quando você começa a criar, a coisa flui”, diz. Ressalva, no entanto, que houve conversas sobre o direcionamento que a obra poderia ter, a despeito de ela conhecer a cartilha da companhia.


“O Corpo tem identidade grande na música brasileira, com os ritmos brasileiros, só que venho de um mundo menos da música popular e mais da música de concerto. Então, até entender o que eles esperavam, demorou um pouco. Foram muitas trocas”, revela.

A obra se chama “(R)evolution”, título que expressa o fato de Clarice ser a primeira mulher a criar sozinha para a companhia. Sandra Peres, com o Palavra Cantada, e Juçara Marçal, com o Metá Metá, já dividiram a incumbência com parceiros de banda.


“Me dei conta de que o mundo está mudando muito rápido, mudança grande e necessária, porque não tem mais para onde ir. Então, a trilha tem a vibe de quebrar tudo, para reconstruir depois de outra forma”, entrega Clarice.

Corpos, pausa e fôlego

Quando compõe para balé, ela o faz como se estivesse contando uma história. “A gente tem de levar em consideração os corpos dos bailarinos, até onde empurrar e a hora de dar uma pausa, para que possam retomar o fôlego. Com isso, você cria vários ambientes de contrastes”, explica.

Nesse sentido, as trilhas se assemelham às longas composições da música sinfônica, que exigem desenvolvimento lógico. “(R)evolution” foi gravada por músicos de câmara, formação de cordas e também com recursos da eletrônica, incluindo elementos de inteligência artificial (IA).

“Tem nisso aí uma perspectiva de revolução – tecnológica, no caso. A obra tem um pouco a narrativa de sair do humano para o eletrônico e voltar para o humano, porque a gente não pode se perder só no digital, pelo menos essa é a minha visão”, pontua Clarice Assad.


A carioca vem desenvolvendo trabalhos com IA em outras frentes. Em seu site, o texto que a apresenta fala do “comprometimento em ultraar os limites musicais”.

Para Clarice, música é território sem fronteiras. “Olhando para a nossa história, considerando a forma como as Américas foram colonizadas e os efeitos dessa colonização violenta, penso que a coisa que resultou maravilhosamente boa é a música, que foi se misturando e se tornou uma coisa bela. Nós, brasileiros, misturamos a música europeia com a africana com absoluta naturalidade. Acho isso incrível demais, toda a riqueza da música que a gente tem a partir da junção dos povos”, diz ela.

Vem do berço essa falta de fronteiras. Por conta do pai e dos tios, Clarice cresceu ouvindo choro e música clássica, sempre com ênfase no violão. “Tenho influência da MPB da época, dos anos 1980. Fora o que ouvíamos em casa, tinha o rádio, que me trazia o rock americano e o pop inglês. E ainda meu pai e meu tio tocando muita música latina, o que resultou numa mistureba bizarra”, diverte-se.

Sérgio Assad, segurando o violão, e a filha, a compositora Clarice Assad
Sérgio e Clarice Assad: pai e filha chamam a atenção do mundo para a música brasileira Instagram/reprodução

Como cresceu no subúrbio do Rio de Janeiro (Campo Grande, na Zona Oeste), teve a influência da música do candomblé e da umbanda, por conta dos terreiros da vizinhança. “Depois, morando na Europa, vieram outras coisas da música de lá, da França principalmente. Eu tenho conceitos, não tenho preconceitos, meio que tudo vale. Uso de tudo na minha música, que é a música do mundo que assimilei”, ressalta.

Fora da caixinha

Clarice Assad desenvolve vários trabalhos na área de aprendizado musical. Um dos principais projetos é a criação coletiva de peça para ser executada por 50 orquestras jovens dos EUA. A brasileira e outros autores compõem uma peça sinfônica para elas.

“A questão é que está todo mundo dentro da caixinha – quando falo de caixinha, é ao celular que estou me referindo. Muita coisa que a gente acaba deixando de fazer, os jovens principalmente, é porque já está tudo pronto na caixinha. Queremos empurrar essa geração para criar coisas. Meu foco, no momento, é na área da educação, de criação coletiva”, diz.

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