BH recebe hoje mostra que retrata festejo anual em Alter do Chão
Exposição "Sairé", do fotógrafo Alexandre Baena, sobre a festa homônima paraense, será aberta nesta terça (8/4) na capital mineira e fica em cartaz até 30/4
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Siga noA CâmeraSete recebe a partir desta terça-feira (8/4) a exposição “Sairé”, que registra o festival homônimo realizado sempre no mês de setembro, em Alter do Chão, distrito de Santarém, no Pará. A mostra reúne 14 fotografias do fotógrafo e documentarista Alexandre Baena e já ou por Brasília e Curitiba. Da capital mineira, onde fica até 30/4, segue para Bahia, Amazonas e Pará.
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“Desde 2023 estamos rodando o Brasil com essas itinerâncias que mostram as riquezas do nosso estado, com suas particularidades, sua cultura, festividades e tradições”, diz Baena. O trabalho que deu início a essas circulações foi “Esmolação – Imagens da marujada de Bragança pelo Brasil”.
No primeiro semestre de 2024, ele apresentou “Juruti – Festival das tribos”, e no segundo semestre, “Caminhos para Belém – O amor que flui como água”, retratando os devotos e pagadores de promessas do Círio de Nazaré.
Com “Sairé”, o fotógrafo constrói uma narrativa para essa manifestação que une o folclore indígena com a tradição cristã, incorporando o louvor à Santíssima Trindade e a lenda amazônica do embate entre o Boto Cor-de-Rosa e o Boto Tucuxi.
Essa narrativa, ele diz, começa com a parte religiosa e termina com a contenda entre os botos, que se assemelha à disputa dos bois em Parintins e deriva de histórias do povo Borari, que vive na região do Baixo Tapajós, no Oeste do Pará. “As quatro primeiras fotos da exposição retratam o rito religioso. As outras 10 são divididas, cinco para o Boto Cor-de-Rosa e cinco para o Boto Tucuxi, promovendo um diálogo entre eles, que se complementam”, diz.
Preservação da natureza
Ele observa que esse percurso traz uma mensagem sobre a importância da preservação da natureza, abarcando a ancestralidade. No folclore, o boto se transforma em homem e, em certa ocasião, seduz e engravida Cunhantã-iborari, uma mulher que nadava no Lago Verde. Irado com a situação, seu pai, o tuxaua, ordena que o animal seja morto. Os espíritos da natureza, contudo, descarregam sua fúria sobre o cacique, que pede ao Pajé que o boto seja ressuscitado.
Baena destaca que sua encenação, no festival Sairé, é uma forma de celebrar a floresta e a preservação do meio ambiente. “Tem toda uma narrativa de transfiguração do homem e do animal em conexão com a natureza”, afirma. Ele diz que as itinerâncias contam sempre com a participação de representantes locais das manifestações retratadas. “Em BH, na abertura, estaremos com a presidente do Boto Tucuxi, Dona Ana, e com a mestre de cerimônias Jazz Mota, da etnia Tupinambá”, cita.
O fotógrafo fez os registros durante a edição do ano ado do Sairé, que ocorre ao longo de uma semana. Ele conta que fez a seleção das 14 fotografias da mostra a partir de um conjunto de mais de mil imagens. “Como também sou cineasta, busquei conexões de roteiro que permitissem essa narrativa, que segue numa crescente, com as telas conversando entre si.”
Antes de ir a campo, ele fez uma pesquisa sobre o Sairé, uma tradição cujas origens remontam ao século 17. No início, era um ritual indígena que, com a chegada dos jesuítas, foi adaptado com o intuito de catequizar os povos da região.
Da forma como é apresentado hoje, o festival reúne as tradições dos Borari, costumes dos povos ribeirinhos e influências religiosas católicas. Em 1943, a festa foi proibida pelos franciscanos, sendo retomada somente mais de 20 anos depois.
Baena explica que, depois da intervenção jesuíta, os Borari acabaram criando outros elementos que reaproximavam o ritual de sua cultura e seus costumes, por isso ele foi proibido.
“Para os povos originários, o Sairé nunca foi interrompido, mas durante esse período de mais de duas décadas a celebração ficou marginalizada, restrita ao ambiente dos Borari. Em 1970 os moradores da vila resolveram resgatá-la como uma festa folclórica, desvinculada da igreja”, conta.
“SAIRÉ”
Abertura da exposição de Alexandre Baena, nesta terça-feira (8/4), às 19h, na CâmeraSete – Casa de Fotografia de Minas Gerais (Av. Afonso Pena, 737, Centro). A mostra fica em cartaz até 30/4, com visitação de terça a sábado, das 9h30 às 21h. Entrada gratuita.