Livro sobre mãe biológica de Bituca tem noite de autógrafos em BH
"De onde vem essa força" foi lançado em 2023 sem eventos presenciais. Nesta quarta-feira (16/4), os autores recebem o público na capital mineira
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Siga noQuando Milton Nascimento completou 81 anos, em 26 de outubro de 2023, sua prima Vilma Nascimento, ao lado dos jornalistas Jary Cardoso e João Marcos Veiga, lançou “De onde vem essa força”, biografia da família biológica de Bituca, que se estabeleceu em Juiz de Fora e arredores.
Um ano e meio depois, o trio promove novo lançamento do livro. Desta vez, presencialmente, nesta quarta-feira (16/4), às 19h, no Dona Carola Bistrô. O local fica no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, associado à criação do Clube da Esquina.
“Disponibilizamos o livro para venda em 2023, mas não chegamos a fazer um lançamento presencial. Agora é que estamos conseguindo organizar esses eventos”, afirma João Marcos Veiga. Ele conta que, em março ado, o livro foi lançado no Cine-Theatro Central, em Juiz de Fora.
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Milton é, sem dúvida, o nome que mais chama a atenção dentro da família Nascimento. Mas o foco da obra não está em sua trajetória individual. São duas mulheres que tecem o enredo. Precisamente duas Marias.
A primeira é Maria Antonia de Oliveira. Nascida em 1900, em Lima Duarte (a 65 km de Juiz de Fora), teve 10 filhos – oito mulheres e dois homens. Oito deles com Zé Narcizo. Por causa do alcoolismo do marido, Maria Antonia foi embora para Juiz de Fora com os filhos.
Primogênita
É nesse ponto que conhecemos a segunda Maria: Maria do Carmo Nascimento, a Carminha, filha primogênita de Maria Antonia. Nascida em 1918, deixou Juiz de Fora ainda menor de idade para tentar a sorte no Rio de Janeiro. Foi lá que engravidou de Milton.
O resto da história é conhecido. Carminha trabalhava em uma pensão na Tijuca e costumava levar o filho para o trabalho. Quando morreu de tuberculose, dois anos após o nascimento de Bituca, foi a filha da dona da pensão, Lília, quem o adotou.
“A história dessa família nos ajuda a entender o Brasil. Ela revela as dificuldades enfrentadas por famílias negras, as marcas da desigualdade, da herança escravocrata. Porque essas histórias, em geral, são apagadas. O que costuma aparecer nos livros são os relatos das famílias nobres”, diz João.
“De onde vem essa força” vai além de contar a saga dos Nascimento. A narrativa se entrelaça com o processo de urbanização de Juiz de Fora, entre as décadas de 1930 e 1960, período marcado por forte discriminação racial. “Havia lugares que os negros não podiam frequentar”, comenta o autor.
“A partir dessa perspectiva, entendemos onde viviam as famílias negras e onde o preconceito era mais evidente. O racismo, naquela época, era escancarado na cidade”, comenta.
O livro também desfaz a ideia de que Milton teria perdido contato com os Nascimento após ser adotado. João, Vilma e Jary reconstroem, por exemplo, uma feijoada realizada em 1972, na cozinha da Vó Maria, que contou com a presença de Milton, Fernando Brant, Gonzaguinha, Joyce e Nelson Ângelo, entre outros. Parte desse encontro foi filmado. As imagens, recuperadas por João, ilustram a abertura do livro.
João destaca que a reação dos leitores tem sido positiva ao longo desse um ano e meio. “A figura do Milton chama muito a atenção. Ele é um dos maiores artistas do mundo, uma figura pública querida. As pessoas querem saber mais não só sobre ele, mas sobre o ambiente de onde veio”, afirma.
Se Bituca leu ou não o livro, ainda é um mistério. “A única certeza que tenho é que um exemplar chegou até ele”, diz João.
"DE ONDE VEM ESSA FORÇA"
• De Vilma Nascimento, Jary Cardoso e João Marcos Veiga
• Editora Letramento (132 págs.)
• R$ 54,90
• Lançamento nesta quarta-feira (16/4), às 19h, no Dona Carola Bistrô (Rua Salinas, 2.421, Santa Tereza)