Air vem ao Brasil com show em que recria "Moon safari" no palco
Duo francês que se apresenta neste sábado (24/5), em São Paulo, no C6 Fest, fala sobre a criação do álbum de 1998 e sua "conexão real com a música brasileira"
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Siga noA referência a “De volta para o futuro”, o célebre filme de Robert Zemeckis lançado há 40 anos, é usada por Nicolas Godin, a metade do duo francês Air, para falar do show em que recria seu álbum de estreia. “É como se ‘Moon safari’ fosse independente de quem somos agora, tivesse vida própria. Levá-lo para o palco é como pegar uma máquina do tempo. De repente, estamos em 1998: temos a mesma equipe, os mesmos instrumentos. É como um ‘De volta para o futuro’.”
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Depois de 72 shows em 2024 em que Godin e Jean-Benoît Dunckel recriaram o álbum que não só os estabeleceu como artistas como também se tornou a base para uma geração de bandas, eles retomam a turnê em 2025, a partir do Brasil. O Air é um dos headliners do C6 Fest, que será realizado de amanhã (22/5) a domingo (25/5), no Parque Ibirapuera, em São Paulo.
Neto do Free Jazz (1985-2001) e filho do Tim Festival (2003-2008) – é realizado pela mesma produtora, Dueto –, o C6, em sua terceira edição, se aproxima mais de seus antecessores. Serão quatro dias – as duas primeiras noites, no Auditório Ibirapuera, dedicadas ao jazz – e o fim de semana no parque propriamente dito, com três espaços com uma variedade de atrações.
Indie, pop, eletrônico, rock, música brasileira e do mundo, o C6 também começa esta edição de casa cheia. Há ingressos somente para o domingo, que vai marcar a volta ao país, nove anos depois, do cultuado Wilco. O Air fecha a noite de sábado (24/5) no palco principal.
Futurista e retrô
Dois nerds (o termo geek se tornaria popular a partir dos anos 2000) de Versalhes, vindos da faculdade de matemática e de arquitetura, Godin e Dunckel, ambos com 55 anos, juntaram Serge Gainsbourg, melodias clássicas e atmosferas etéreas. Com 10 faixas (algumas instrumentais) despejadas em 43 minutos, “Moon safari” conseguiu, ao mesmo tempo, soar futurista e retrô.
Música eletrônica, mas nada do ritmo quebrado do drum’n’bass ou da implacável batida do techno. Capitaneado por “Sexy boy”, um hit ainda hoje delicioso, “Moon safari” vendeu 2 milhões de cópias e fez o Air grande não só na França, mas, principalmente, no Reino Unido. O sucesso foi tanto que logo a dupla assinou a trilha sonora de “As virgens suicidas” (1999), longa de estreia de Sofia Coppola.
“Nunca imaginamos que o disco faria tanto sucesso. Buscávamos não um álbum mainstream, mas um trabalho artístico poderoso. Quando o álbum explodiu na Inglaterra, foi uma surpresa que mudou a nossa vida”, diz Dunckel. Godin completa: “Nossa preocupação era fazer algo atemporal, éramos obcecados por isso. Tínhamos medo de fazer coisas que não envelheceriam bem. Mas não poderíamos ter essa resposta antes de todos esses anos. Só agora sabemos que tomamos a decisão certa, pois ao ouvir ‘Moon safari’ vemos como as músicas são atuais.”
Referência
O Kraftwerk sempre foi uma referência para o Air, em especial o álbum “The man-machine” (1978). Mas também Stevie Wonder, comenta Godin. “Todos os instrumentos que usamos em ‘Moon safari’ estão em ‘Songs in the key of life’ (1976). Eu também diria qualquer trilha sonora de filmes de Ennio Morricone. Queríamos misturar ‘Três homens em conflito’ (filme de Sergio Leone de 1966 com trilha de Morricone), com ‘The man-machine’.”
Dunckel ainda cita como influências a composição sa do final do século 19, início de 20, de Maurice Ravel, Claude Debussy e Erik Satie. “Eles têm harmonias oníricas e o Air queria flutuar no espaço.” A música brasileira tem seu quinhão entre eles, obviamente a bossa nova.
“Se você olhar os acordes, as progressões e as melodias da bossa nova, ela é muito próxima da nossa. Nos inspiramos em João Gilberto e Tom Jobim, porque a música brasileira tem um poder grande na França. E a bossa tem uma suavidade, uma tranquilidade, pelo fato de as pessoas não cantarem muito alto. Não é conversa fiada, mas há uma conexão real entre nós e a música brasileira. ‘You make it easy’ (uma das faixas de ‘Moon safari’) começou como uma bossa nova”, arremata Godin.
No show, o Air (Godin nas guitarras, Dunckel nos sintetizadores, mais uma baterista) se apresenta dentro de um cubo branco. “Um show de cair o queixo que poderia durar para sempre”, foi como definiu a crítica do “Guardian”. “O Air reimaginou canções intimamente familiares em uma extravagância audiovisual tão espetacular quanto qualquer show de arena. É uma viagem”, acrescentou o jornal britânico.
Ainda que a temporada de “Moon safari” venha carregada de nostalgia, a dupla quer se afastar de sentimentos adistas. “Isto pode ser destrutivo. Como artistas, tentamos nos manter atualizados, exatamente como fizemos com ‘Moon safari’ em 1998. (Na época) Era quase como fazer algo que ninguém tinha ouvido antes. Ainda hoje buscamos ser vanguardistas. Agora, quando estamos com o disco no palco, boas lembranças vêm à tona porque as melodias e os acordes têm a possibilidade de capturar o espírito daquela época”, diz Dunckel.
Troca de horários
Diante da chuva de reclamações nas redes sociais, o C6 Fest alterou, às vésperas do evento, os horários dos shows. A maior bronca era em relação à coincidência dos horários de Gossip e Air, no sábado (24/5), e Wilco e Nile Rodgers & Chic, no domingo (25/5).
Não dá para ter tudo, então o público vai ter que escolher entre Pretenders (19h de sábado, na arena) e Gossip (19h30, na tenda). Os demais headliners estão garantidos: Air toca no sábado às 20h45; no domingo, o Wilco fecha a tenda, a partir das 18h30, e Nile Rodgers começa a tocar às 20h30, na arena.
C6 FEST
Desta quinta (22/5) a domingo (25/5), no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Ingressos disponíveis para domingo, a partir de R$ 340. Mais informações no site do festival.