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HABLAS PORTUNHOL?

A divertida (e deliciosa) mistura de Brasil e Espanha no Gata Gorda, em BH

Mesmo quando se propõe a fazer cozinha internacional clássica, a chef Bruna Martins adiciona doses de ousadia em cada detalhe

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Com uma gastronomia sempre dinâmica, Belo Horizonte, de tempos em tempos, elege um lugar imperdível para comer e beber. O queridinho da vez é o Gata Gorda, que fica bem no miolo da Região da Savassi, às voltas com intenso movimento. O restaurante tem inspiração espanhola com pitadas que vão do divertido ao nonsense. As criações temperam a já consistente carreira da chef Bruna Martins.


Quando decidiu se enveredar pela cozinha internacional, Bruna não teve dúvida de que miraria na Espanha – país que visitou quatro vezes na vida e a ele se refere como “um dos polos gastronômicos mais incríveis do mundo”. A razão da escolha se conecta diretamente com o seu jeito de pensar o trabalho como chef. Para ela, não teria graça nenhuma ir pelo previsível caminho das receitas sas e italianas.


“Como tenho essa efervescência de ser uma pessoa que faz coisas mais criativas e autorais, a Espanha consegue me dar a liberdade de usar insumos clássicos, mas dentro de um norte gastronômico mais moderno. Os espanhóis fazem comida de todos lugares do mundo de um jeito divertido, despretensioso, tem um toque de borogodó. Lá as pessoas são muito criativas e ousadas, não existe um aprisionamento por coerência ou tradição”, justifica.


Bruna cita o genial Ferran Adrià, que revolucionou a gastronomia mundial com suas técnicas moleculares. Segundo a mineira, depois dele, a cozinha espanhola seguiu um rumo mais criativo, divertido e surpreendente.

Era tudo o que a chef imaginava para o seu novo restaurante. Tanto que já ousou ao batizá-lo. “Queria que o nome fosse divertido e chamativo e tivesse a ver com a cultura nonsense do [cineasta Pedro] Almodóvar.”

Brioche, atum fresco, maionese japonesa, ovo de codorna confit e ovas de salmão
Brioche, atum fresco, maionese japonesa, ovo de codorna confit e ovas de salmão Victor Schwaner/Divulgação


Ao entrar no Gata Gorda, descrito como uma “bodega moderna”, você encontra imagens da personagem-título em vários lugares. Nas paredes, nos uniformes, no cardápio, na louça, no guardanapo. Lá está a gata comilona, que assumidamente se entrega aos prazeres da mesa, sempre acompanhada de uma taça de vinho.


O salão, decorado com muita personalidade, tem uma profusão de cores e estampas. Os azulejos portugueses ganham pinturas manuais pitorescas – de presunto, por exemplo. Tem mesa com toalha, mas nenhuma pompa. Tradicional, mas nem tanto. Uma mistura de tradição com efervescência, nas palavras da criadora.

Licença poética


A chef ira a forma como os espanhóis exploram a cozinha “fusion” – e se aproveita da licença poética para fazer misturas pouco (ou nada) convencionais. Brinca que lá a língua é o portunhol. “Brasil e Espanha dançam ao som de flamenco e carnaval”, diz o texto manifesto. E essa fusão, claro, aparece em vários pratos. “O Gata Gorda não tem regras, não é tradicional. Parte do tradicional, mas extrapola. É vibrante, quer ser impactante.”


O cardápio à la carte se divide em quatro grandes categorias: salumeria e pintxos frios; tapas e pintxos quentes; principais e sobremesas. De salumeria, podemos citar o curioso homus de pistache, servido com mortadela artesanal e pão da casa.

Mini pimentões assados e recheados com queijos canastra e boursin e molho de tomate
Mini pimentões assados e recheados com queijos canastra e boursin e molho de tomate Victor Schwaner/Divulgação

“Pensei: tem como a febre do pistache vir de um jeito surpreendente, que as pessoas nunca comeram? Com o repertório do Florestal, onde faço comida fria vegetariana, surgiu a ideia de trazer o pistache como uma pasta”, explica.


Para ela, a parte mais empolgante da experiência no Gata Gorda são os pintxos. “Parece muito com a história do tira-gosto em Minas, então as pessoas não têm dificuldade de sentir proximidade com essa cultura. A diferença é que os pintxos são individuais e eu sirvo sempre em duplas para o belo-horizonte se sentir mais acolhido.”


Sucesso absoluto é o brioche com atum fresco, maionese japonesa, salsa de tomate concassé temperada com molho de ostra, ovo de codorna confit e ovas de salmão. Fusão de Espanha e Japão.

“O atum virou febre no Brasil pela comida japonesa e quis trazer para uma bocada esse ingrediente que é muito consumido pelos espanhóis. No lugar do arroz, o pão tostado. São tantas camadas de umami que não tem como não fazer salivar.


Desejadas frituras


Entre os pintxos quentes, três friturinhas que são capazes de fazer qualquer nacionalidade lamber os beiços. A espanhola croqueta (à base de molho bechamel) aparece em duas versões, uma de cebola caramelizada e queijo meia cura e outra de jamon, kimchi e parma. Na dúvida, peça uma dupla de cada.


Já o brasileiríssimo croquete (com massa de carne desfiada) recebe o divertido nome de Pato Donut's. Com recheio “carnudo” de pato, tem formato do doce norte-americano donut. Impossível não sorrir. Ainda mais quando você sente na boca a maionese de páprica e as casquinhas de laranja cristalizada, que remetem ao clássico francês pato com laranja. Mas lá o clássico está só na inspiração.

Croquete de pato com maionese de páprica e casquinha de laranja cristalizada
Croquete de pato com maionese de páprica e casquinha de laranja cristalizada Victor Schwaner/Divulgação


Os tapas são porções para compartilhar. Tem para todos os gostos. Para quem quer ser surpreendido pelo mundo vegetal, não pode encerrar a visita sem comer o alho-poró no forno a carvão com aspargos, fonduta de catupiri, gremolata e crocante de pão.

Aos carnívoros, uma versão da nossa rabada: pastéis de ragu de rabo de toro com fonduta de queijo, farofa de nachos e picles de pimenta cambuci. Já os fãs de frutos do mar vão se surpreender com o polvo com batata (doce) para confundir e provocar surpresas.


Na seção dos principais, um pouco de tudo para não deixar ninguém sem opção. Carnes, arrozes, peixes, massas. Bacalhau e atum entregam sabores do mar. Chorizo e chuleta aplacam o desejo de cortes bovinos. A lasanha bolonhesa garante uma massa no cardápio, enquanto galeto e pato representam a categoria das aves.


Como lá não tem regras, os pratos podem funcionar como entradas para petiscar. “O Gata gorda é um restaurante que propõe que as pessoas compartilhem várias comidas surpreendentes”, reforça Bruna.

Paella caldosa


Nem mesmo um prato clássico como a paella escapa do desejo da chef de sair do comum. “A nossa paella é caldosa”, ela logo avisa. “No Brasil, temos a mania de conhecer um prato e achar que só existe um jeito de fazer. Assim como o lamen no Japão, na Espanha encontramos vários tipos de paella.”


A sua versão parte do sofrito (refogado de origem espanhola com vegetais muito tostados e batidos), ganha sabor com chorizo espanhol (o embutido) e cor com o açafrão, também espanhol. Um pouco de bisque de camarão e, pronto, é um dos pratos mais amados. Acompanham camarão, lula, polvo e mexilhão.

Cupim baseado com queijo Canastra meia cura, molho de carne, picles de mostarda e salada de alface frisé com mix de picles
Cupim baseado com queijo Canastra meia cura, molho de carne, picles de mostarda e salada de alface frisé com mix de picles Victor Schwaner/Divulgação


A milanesa de carré de porco é outro que está sempre entre os mais pedidos. Resume um mix de referências que vão do tonkatsu japonês à milanesa argentina, ando pela italiana costeleta à milanesa.

Entram para complementar uma salada fresca de iogurte, repolho, uva, mortadela e ervas aromáticas, que lembra a norte-americana coleslaw, ao mesmo tempo em que remete ao salpicão brasileiro.


Bruna consegue fazer uma conexão direta entre Minas e Espanha com duas sobremesas bem tradicionais do país europeu. A torta basca é preparada com um pouco de queijo mineiro e servida com doce de leite.

Sobre o creme catalão (ou crema catalana, se preferir pedir em espanhol), ela fala: “É a mesma base do creme brulée, mas a receita sa é temperada só com baunilha e a espanhola tem muitas especiarias, como canela e raspa de laranja. Lembra um sabor mineiro, de quentão ou curau de milho.”

Do prato para o copo


A criatividade extrapola a cozinha e vai parar no balcão, que investe em uma coquetelaria com bastante jerez (vinho fortificado espanhol). Um dos preferidos da chef é o Tordesilhas, com jerez, rum, cordial de melão e a especiaria amazônica pichuri.


Mas o que chama mesmo a atenção é o uso de ingredientes normalmente vistos em pratos. O El Gatito combina gim, cordial de pimentões e limão e o Damn it Jimmy tem sakê, rum, jerez, azeitona e queijo gorgonzola. Já o Gaspacho Mary, com sopa fria de tomate, suco de limão, vodca e especiarias, une o clássico coquetel Blood Mary e a conhecida receita espanhola.

Tordesilhas (Jerez Palo Cortado, rum ouro, cordial de melão, solução ácida e pichuri)
Tordesilhas (Jerez Palo Cortado, rum ouro, cordial de melão, solução ácida e pichuri) Victor Schwaner/Divulgação


O Gata Gorda oferece almoço executivo de terça a sexta, das 12h às 15h. O menu, com entrada, prato e sobremesa, muda toda semana. O que vale até esta sexta-feira começa com uma salada thai com massa de arroz e vegetais.

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O cliente escolhe uma das três opções de principais: risoni cremoso com fraldinha, folhado de alho-poró com fonduta de Canastra e salada de rúcula ou tilápia com curry verde, purê de batata e salada morna de brócolis e alho. Para finalizar, torta três leches com caramelo salgado.

Anote a receita: Creme catalão

Creme catalão
Creme catalão Victor Schwaner/Divulgação


Ingredientes

  • 1l de leite;
  • 90g de gema (6 unidades);
  • 450g de açúcar;
  • 1 canela em pau;
  • 1/2 casca de limão

Modo de fazer

  • Ferva o leite com a canela e limão. Deixe amornar.
  • Bata as gemas com açúcar.
  • Acrescente o leite e leve para cozinhar numa cumbuca de inox em banho maria, mexendo sempre com um fuet até engrossar.
  • Depois divida em travessinhas individuais e leve para gelar.
  • Faça uma camada fina de açúcar demerara por cima do creme bem gelado.
  • Derreta esse açúcar diretamente com a chama de um maçarico até formar uma crostinha vitrificada.

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