Projeto coloca em evidência mulheres que são donas de bares em BH
Empreendedoras falam sobre os desafios de estar um mercado historicamente masculino e como garantem um ambiente seguro para as suas clientes
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Siga noAbrir um bar para chamar de seu, sair com os amigos para “tomar uma” ou relaxar tomando um bom uísque. Sob nenhum julgamento, essas são ações comuns para os homens. Mas nem sempre fazem parte da vida das mulheres.
Pensando nisso, a marca de uísque Jack Daniel's deu início ao projeto “As Donas do Bar”, que enaltece proprietárias de bares, apoiando o empreendedorismo feminino, ao mesmo tempo que incentiva a desconstrução de rótulos impostos às frequentadoras de bares.
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Trata-se de um guia de bares comandados por mulheres inspiradoras, com muitas histórias para contar e que oferecem ambientes tranquilos e seguros para o público feminino. A primeira edição ocorreu em São Paulo, em 2023. Belo Horizonte, capital conhecida por ser um centro cultural e gastronômico diverso, foi escolhida para sediar o projeto este ano.
A iniciativa conta com a parceria da consultoria 65|10, que tem como objetivo levar ao mundo corporativo uma “perspectiva feminina para pesquisa e processos criativos”. A empresa constatou que há uma tendência à exaustão, com poucos momentos de relaxamento na vida das mulheres, e que o bar é um ambiente empoderador. Mas, por outro lado, é onde elas costumam ser rotuladas.
Em BH, foram selecionados nove bares comandados por mulheres, que compartilham o desejo de revolucionar a indústria de bebidas e só precisavam de um “empurrãozinho”. São eles: Sinhá Erozitha, Nimbos, Bifão da Villa, Maturi, Santo Boteco, XBK, Bar da Iva, Borda Bar e Madame Geneva. A lista tem curadoria da jornalista Lorena Martins.
Cada casa criou um drinque exclusivo para o projeto, tendo como ingrediente principal o Jack Daniel's Tennessee Whiskey (com o clássico rótulo preto), suavizado com carvão de maple e maturado em barris de fabricação própria. As bebidas já estão disponíveis nos cardápios dos respectivos bares.
Sonho coletivo
Mesas na calçada e ambiente descolado abrigam drinques criativos e hambúrgueres premiados. O Nimbos bar, na Savassi, é comandado por Camila Ribeiro.
“Nós estamos atrás do balcão há muito tempo, às vezes sem o devido protagonismo. Notei em mim uma dificuldade em assumir esse lugar de dona do bar. A grande beleza desse projeto é dar destaque para essa realidade e mostrar quantas casas incríveis são geridas por mulheres. Que sejam cada vez mais!”, aponta, esperançosa.
Segundo Camila, o Nimbos nasceu em 2017 como uma hamburgueria e bar de coquetéis e, desde então, criou uma “legião de fãs”. A pandemia atrapalhou os negócios de Luli Moreira, o fundador e chef, e, quando estava prestes a fechar as portas, eles se conheceram.
Bastou provar uma receita para Camila querer continuar com o empreendimento: “A primeira mordida no hambúrguer do Nimbos me fez querer sonhar junto. E aqui estamos, com a casa de volta ao lugar de destaque que ela merece”, celebra a dona.
O carro-chefe é o “Shablei”, com hambúrguer de 180 gramas, requeijão de corte, bacon, cebola caramelizada, mel e rúcula.
O drinque “Señora Jack”, assim como os demais, é assinado pelo mixologista Max Faustino. Além do uísque, leva suco de maçã verde, limão siciliano, angostura e um toque de pimenta jalapeño. Ele é servido na versão grande do clássico copo de vidro lagoinha, uma homenagem aos botecos de BH.
Nimbos (@nimbosbar)
Rua Sergipe, 629 – Savassi
De quarta a sábado, das 18h às 00h; domingo, das 17h às 23h
Família de cozinheiras
Lugar aconchegante à meia luz, com decoração pensada nos mínimos detalhes e pratos vencedores de diversas edições do concurso “Comida di Buteco”. Esse é o Sinhá Erozitha Bistrôteco. Edy e Cristiane Rocha, mãe e filha, são as responsáveis por cuidar do espaço. O nome do negócio é uma homenagem a Erozitha, mãe de Edy e avó de Cristiane.
Cristiane é a responsável pela criação dos drinques, atendimento e marketing. Já Edy cuida da cozinha, preparando tudo sozinha, sem ajuda. Ela até tentou contratar ajudantes, “mas o prato não sai igual”.
As receitas executadas por ela são tradicionais de Minas, mas também existem criações autorais: uma mistura entre a criatividade de Edy e toda a trajetória familiar de gerações de cozinheiras.
Exemplo de receita autoral é o “Pastel da Roça”, feito com massa de polvilho, recheado de linguiça calabresa e servido com um molho de hibisco, além do bolinho de taioba.
A dupla sempre busca o inusitado. A ideia é que os clientes saciem a vontade de comer algo que só encontram no bar delas. Outros petiscos encontrados no cardápio são o “Porco na Goiaba” (costelinhas caramelizadas com um molho de goiabada doce e picante) e o “Torresmo de barriga”.
O drinque feito exclusivamente para o “Donas do Bar” se chama “Jack Made in Roça”, que leva uísque (claro!), licor de café, xarope de abóbora com especiarias, suco de limão e lascas de gengibre.
Sinhá Erozitha Bistrôteco (@sinhaerozitha)
Rua Santo Amaro, 257 – Sagrada Família
De quarta a sábado, das 19h às 00h
(31) 99886-2655
Mais mulheres
O angu foi o culpado por transformar a maranhense Regilene Coelho em mineira de coração. “Um dia, comi um (angu) maravilhoso e decidi que era aquilo que eu queria fazer. Após fazer uma série de cursos no Senac – incluindo um voltado só para a gastronomia mineira – e me formar como cozinheira, iniciei uma bem-sucedida carreira em várias casas de Belo Horizonte até decidir abrir o Maturi”, conta.
É essa mistura entre Nordeste e Sudeste que faz do bar um lugar único. Regilene explica que maturi é o nome que se dá para a castanha de caju ainda verde, ingredientes importante da culinária nordestina. Ela mesma é quem cuida da cozinha e dos drinques.
“Minha expectativa é o Maturi ficar conhecido por mais mulheres e assim aumentar cada vez mais o nosso público feminino. Queremos que todas se sintam bem, acompanhadas ou sozinhas, e que possam sentar no balcão para tomar um drinque e aproveitar cada momento com alegria e tranquilidade”, deseja a dona.
Alguns dos pratos mais procurados são o Arroz Maria Isabel (arroz com carne de sol) e Baião de Dois (arroz com feijão-de-corda), típicos do Nordeste, com suas variações.
Regilene criou para o projeto o “Serpente Abraça”, que combina uísque, jurubeba, Campari, cajuína, essência e casca de lima e gotinhas de milome, extrato feito a partir do cipó mil-homens.
Maturi (@maturibh)
Rua Mármore, 169 – Santa Tereza
Sexta, das 11h às 16h; sábado e domingo, das 11h às 16h30
(31) 99826-9719
Objetivos claros
Bifão da Villa é um bar localizado no coração da Savassi, na Região Centro-Sul de BH. Conhecido por servir um bife maior que o convencional (literalmente um bifão), também oferece chopes, cervejas e drinques.
Quem comanda a casa é Larissa Dantas, formada em relações-públicas. Descontente com a profissão, ela seguiu o irmão, que investiu em um restaurante, num ponto do badalado Bairro Vila da Serra, na cidade vizinha de Nova Lima. Com a pandemia, o público majoritariamente corporativo desapareceu e o negócio começou a ar por dificuldades.
Foi quando Larissa assumiu a gestão total da casa: mudou de endereço, mirou em outro público e conseguiu reverter a época das vacas magras.
Sempre que possível, a dona gosta de estar presente no bar. Para ela, é uma forma de garantir que tudo está funcionando bem. O zelo pelo lugar é também uma forma de enfrentar preconceitos: “Sou vista como brava por ser firme, mas a realidade é que eu sou uma pessoa que sabe o que quer e o que precisa fazer para alcançar meus objetivos”, reflete.
A influência da mãe está presente em cada prato. Os “bifões de respeito” podem ser de peito de frango, pernil suíno, boi ou tilápia. À milanesa com crosta crocante ou acebolado na chapa. As guarnições são preparadas de acordo com o dia da semana e, se acabar arroz, feijão ou qualquer outro acompanhamento, é só pedir mais.
Para brindar o projeto, o bar criou o “Trapaça”, combinação de uísque, vermute rosso, fernet (bebida composta por vinho tinto e ervas aromáticas), laranja bahia e soda de cereja.
Bifão da Villa (@bifaodavilla)
Rua Antônio de Albuquerque, 470 – Savassi
Segunda e terça, das 11h às 16h; quarta e quinta, das 11h às 23h; sexta e sábado, das 11h às 00h; domingo, das 12h às 17h
(31) 98405-6883
De cantora a chef
Depois de tentar a vida como cantora, Aline Elias decidiu fazer um curso de gastronomia e acabou seguindo a vida de cozinheira. Já conhecida no ramo e trabalhando ao lado de chefs como Felipe Rameh, ex-braço direito de Alex Atala no D.O.M., em São Paulo, ela teve a ideia de abrir o próprio negócio e deixar tudo com a “cara dela”.
Assim surgiu o Santo Boteco, no Bairro São Pedro, Região Centro-Sul da capital. O bar serve pratos de comida de boteco, como moela e língua, acompanhados de cerveja, claro. Mas quem procura bons drinques também fica satisfeito na casa.
Ao mesmo tempo que toca rock'n'roll, abre espaço para chorinho e samba. Ou seja, todos os públicos são bem-vindos. A mistura de sabores e estilos musicais foi uma escolha acertada.
“O Santo Boteco sempre foi um lugar de mesas cativas. Queria encontrar determinadas pessoas, podia ir lá que elas estavam. Fiz muita amizade no bar”, conta Aline. No cardápio, os itens levam os nomes de funcionários e amigos.
Falando em cardápio, alguns dos pratos disponíveis são o “Saiu da Lata, Atolou na mandioca!” (carne de lata com purê de mandioca amarela e vinagrete de pimenta biquinho) e o “Bochecha de Porco”, servida ao molho de laranja com batata baby dourada com alho confit e alecrim.
O brinde sugerido é com Maracujack, feito com uísque, polpa de maracujá, xarope e espuma de gengibre.
Santo Boteco (@santobotecobh)
Rua Major Lopes, 4 – São Pedro
De terça a sexta, das 17h às 00h; sábado, das 12h às 22h; domingos e feriados, das 12h às 18h
(31) 99449-5004
Ambiente aconchegante
Em meados de 2019, Diva Amarante criou o XBK, bar que serve carnes e hambúrgueres, com Lúcio Souza Amarante, mais conhecido como Chewbacca. A ideia surgiu depois de o casal ar uma temporada em São Paulo, trabalhando em restaurantes. Ele é publicitário e ela, formada em letras, mas ambos sempre foram apaixonados pela vida noturna.
Mas por que esse nome? XBK significa “Xtreme Barbecue Kings”, ou seja, os reis do churrasco extremo. Nome perfeito, já que todas as carnes são feitas na grelha.
O prato mais pedido é uma invenção da própria Diva: o “Burger Ball”, espeto composto por bolinhas de carne feitas com o mesmo blend (combinação de cortes diferentes dá ao hambúrguer um sabor diferenciado e uma textura única) exclusivo usado nos hambúrgueres da casa recheadas com queijo.
O bar é para quem gosta de comer e beber bem enquanto escuta um bom rock. Grupos se apresentam com versões de AC/DC, Led Zeppelin e Ramones. O ambiente, que a dona considera o diferencial, é escuro e aconchegante. Segundo ela, as pessoas se sentem à vontade e assim os clientes se tornam amigos e parte da família.
Entre os drinques disponíveis, o “Diva Jack”, que leva uísque, leite condensado, leite de coco, limão-taiti, hortelã e soda limonada.
XBK (@xbkbbq)
Rua Vitório Marçola, 184 – Anchieta
De quarta a domingo, das 18h às 00h
(31) 99349-1972
Rainha da picanha
Ivanete Batista é conhecida como “rainha da picanha”. Ela comanda duas unidades do Bar da Iva (uma no Bairro Castelo e outra no Bairro Planalto) que leva seu apelido.
O prato mais pedido, tanto em um endereço quanto no outro, é o corte bovino, acompanhado com cebola assada e mandioca na manteiga de garrafa. “Picanha tem em qualquer lugar. O diferencial aqui é o toque, o amor, saber cuidar e, principalmente, gostar do que faz”, conta, orgulhosa.
Apesar da capacidade de gerenciamento e agilidade, a dona do bar conta que istrar um negócio não é nada fácil: “Precisa de um domínio surreal. Imagina, dez espetos, cada um em um ponto. Se você vacilar, perde”, explica.
Iva conta que tudo ali é como ela sempre sonhou. Os drinques são todos criação própria, entre eles, o “Maracujack”, que combina uísque, maracujá, xarope de açúcar e refrigerante Citrus.
Bar da Iva (@iva.rainhadapicanhabh)
Rua João Ricaldoni Filho, 51 – Castelo
Av. Dr. Cristiano Guimarães, 1060 – Planalto
De terça a sábado, das 11h às 00h; domingos e feriados, das 11h às 18h
(31) 99194-9368
Lugar de inclusão
As amigas Carol Zanoti (Zazá), Ana Carolina Finotti (Ana), Adriana Horst (Dri) tinham um sonho em comum: unir gastronomia e música boa em um ambiente seguro para todos e todas, principalmente para o público LGBTQIA+. O sonho se tornou realidade e tem nome e endereço: Borda Bar, no Bairro Floresta, Região Leste de BH.
O bar tem esse nome porque o ambiente com leds e azulejos azuis remetem a uma piscina, clima de férias e verão. Lá, todas as três concordam que o carro-chefe é a programação cultural, diversa e gratuita. Um “bar dançante”.
Mas nem só de música vive o Borda. No cardápio, pensado por Ana, os mais queridos são o sanduíche de carne de a. Da carta de drinques, elas destacam o “Whiskey Sal”, feito com uísque, limão-taiti, angostura (bebida amarga e concentrada) e uma bordinha de sal temperado.
Quando perguntadas sobre o diferencial do bar, Dri ressalta o dos clientes: “Acho tão bonitinho que as pessoas falam assim: 'vamos no Bordinha?’. Temos a consciência do papel de inclusão e pertencimento que o bar oferece para a comunidade LGBTQIA+”, conta.
Borda Bar (@borda.bar)
Av. Assis Chateaubriand, 351, lojas 1 e 2 – Floresta
De quarta a sexta, das 18h às 00h; sábado, das 16h às 00h; domingo, das 17h às 20h
Acolhidas e seguras
A historiadora Isabel Leite tem mestrado, doutorado e dois pós-doutorados. Por conta da vida acadêmica, ela pensava não ser possível realizar o sonho de abrir um bar. Mas, quando a sua mãe resolveu fechar as portas do salão de beleza que funcionava num imóvel da família, o Madame Geneva surgiu.
Localizado no Bairro Luxemburgo, Região Centro-Sul de BH, o bar é inspirado na belle époque, mais especificamente nos speakeasy (bares secretos surgidos nos Estados Unidos) e cabarés da Alemanha. O lugar é uma “viagem no tempo”. Além disso, traz uma programação cultural diversa e também serve de espaço para festas particulares.
O público é majoritariamente feminino: “Temos muitas mulheres que vêm aqui sozinhas, o que é difícil em outros lugares. Aqui elas se sentem acolhidas e seguras”, destaca Bel.
O bar é especializado em drinques autorais e criativos. O “Madame du Châtelet”, por exemplo, combina uísque, amaretto, limão siciliano, licor de pimenta e soda de baunilha.
Para acompanhar, petiscos e hambúrgueres. Entre eles, “Empanada Massa Madre”, de carne portenha ou milho, e “Receita Madame+Fritas”, feito com pão brioche, blend bovino, bacon e cheddar.
Madame Geneva (@madamegeneva_bh)
Rua Elias Antônio Jorge, 21a – Luxemburgo
De quarta a sábado, das 18h às 00h
(31) 98482-1133
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino