GASTRONOMIA

Festival gastronômico em BH terá o arroz como prato principal

Vinte bares da Região Leste de BH, de 9 a 24 de maio, devem usar a criatividade para a competição. Público poderá avaliar os pratos

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“Arroz, feijão e carinho. Este é o prato do povo” é o que diz o rapper mineiro Djonga em seus versos. E é justamente um desses ingredientes simples no prato dos mineiros que ganha status de estrela durante a primeira edição do Festival Gastronômico do Arroz, que desafia 20 bares da Região Leste de BH, de 9 a 24 de maio, a apresentar um prato principal, sempre com o arroz como elemento central, e uma sobremesa que deve levar goiabada na receita.

Por ser um ingrediente simples, os chefs dos estabelecimentos tiveram de usar a criatividade para incluir no cardápio o prato e a sobremesa criados especialmente para o evento. Para Miriam Cerutti, empresária da Sigga Eventos e idealizadora do festival, a ideia é instigar a criatividade dos chefs da região, além de oferecer para os mineiros um circuito gastronômico na região, já que o público é convidado a visitar os bares durante os 16 dias de festival, e avaliar os estabelecimentos, contribuindo para a votação final. Além da opinião pública, os restaurantes serão avaliados tecnicamente por um corpo de jurados.

“Chuva de arroz”

A reportagem esteve na abertura do festival e presenciou uma “chuva de arroz” na Região Leste da capital mineira. Em meio a um salão cheio, diferentes chefs de cozinha circulavam em volta de uma grande mesa central, e ajeitavam os detalhes de suas criações. 

Os pratos estavam disponíveis para degustação, todos dentro de grandes as, que pareciam chacoalhar com a ansiedade do público. Com música ao fundo, alguns cozinheiros se equilibravam e respondiam perguntas em meio às pessoas, que, parecendo hipnotizadas pelo cheiro que saia dos pratos, serviam e provavam as inúmeras variações de arroz, com certa agitação.

Os pratos estavam disponíveis para degustação, todos dentro de grandes as, que pareciam chacoalhar com a ansiedade do público
Os pratos estavam disponíveis para degustação, todos dentro de grandes as, que pareciam chacoalhar com a ansiedade do público Carla Costa/Divulgação

A chef Marília Menezes observava as reações e marcava seu território próximo a sua “obra de arte”, que é como ela chama o resultado de seu “Arroz do Santo Feitiço”. O prato, feito exclusivamente para a competição,  vai estrelar o cardápio do seu Bar e Cozinha: Feitiço de Santa Tereza, localizado na Rua Paraisópolis, 855, até 24 de maio. Animada, ela explica que o nome do estabelecimento é uma homenagem a música “Feitiço da Vila”, do sambista carioca Noel Rosa. A canção foi escrita em 1934, para homenagear o Bairro Vila Isabel, que fica na Zona Norte do Rio de Janeiro, e assim como o Santa Tereza, é emblemático por sua história e pelo samba.

“A vila tem um feitiço. Sem farofa, sem vela e sem vintém”, diz um trecho da canção. Mas é justamente com a farofa que Marília serve seu “Arroz do Santo Feitiço”. “Meu prato leva fraldinha marinada 24 horas na cerveja e depois selada na cachaça de Amburana. Também tem molho roti (molho reduzido da carne, com legumes), quiabos flambados na cachaça, banana da terra e farofa”, explica a chef.

Já para a sobremesa, Marília traz um “Coração de Goiaba”. O nome é justificado pela experiência, já que ao morder o brigadeiro de manjericão, é possível encontrar a goiabada formando um símbolo semelhante a um coração.

No restaurante Ancestral Botequim, o arroz com rabada e pesto de agrião faz sucesso

No restaurante Ancestral Botequim, o arroz com rabada e pesto de agrião faz sucesso

Raphael Silveira/Divulgação

Elementos brasileiros

Na outra ponta da mesa, conversando com outras pessoas, estava a dupla de chefs André Alcântara e Ândrea Cristina. Os dois são chefs do Ancestral Botequim, que fica na Rua Salinas, número 1173. Juntos, levaram para o festival o “Trem de Arroz” e o “Coisa de Goiaba". Quando perguntados sobre os detalhes do prato salgado, Ândrea aponta para Alcântara, indicando que ele seria o melhor para explicar a receita. “Minha inspiração foi colocar um pouquinho de Minas. O nosso arroz, molhadinho e cremoso, leva rabada desfiada, pesto de agrião; que normalmente é servido com a rabada; e outros elementos brasileiros: castanha, amendoim, queijo minas e temperos nossos”, detalha André. 

Já a sobremesa é descrita por Cristina, criadora de um flan de goiabada, que, finalizado, lembra um pequeno pudim. “Para completar a experiência, o flan é servido com ‘cafezinho’, que é para ficar ainda mais a cara do mineiro. Um arroz, uma sobremesa e um café para fechar”, explica. A dupla conta que está ansiosa e confiante no resultado do evento.

“Só a gente que está dentro da cozinha sabe como, por vezes, é cansativo e estressante. Essa proposta é um chá de ânimo, um gás para toda a equipe, além de movimentar a economia da Região Leste”, conta Míriam Cerutti, que diz entender bem os desafios dos restaurantes, já que viveu por 35 anos as loucuras e delícias de uma cozinha.

Já para Natália Cardoso, chef do restaurante Novo Sonho, a experiência é inédita, e provoca um mix de emoções. Para a competição, a cozinheira trouxe um “Arroz tropeiro” e um mousse de goiaba. “Quis criar um prato simples, que pudesse ser reproduzido em casa, já que o segredo é só colocar amor”, conta Natália. Seu arroz leva linguiça, torresmo e carne de porco. Ela convida a todos que visitem o restaurante, despertando a curiosidade a partir da descrição do preparo. “Imagina aí: ovo, bacon, alho, couve, cebolinha e arroz. Imagina o cheiro de cebola picadinha, com farinha de milho e farinha de mandioca, torresminho e aquela couve”, descreve a cozinheira, com entusiasmo 

Mas por que a Região Leste?

“Meu restaurante era no Santa Tereza. A Região Leste foi escolhida porque é um lugar boêmio, cheio de arte e cultura”, explica Miriam. Para ela, o ambiente é propício para acontecer o festival, já que a riqueza da Região Leste por si só, já é um evento, e provar os pratos de arroz é um convite para uma experiência completa.

Thales Miró, que estava no evento representando o restaurante e cervejaria Ceva, também localizado no Santa Tereza, confirma a opinião de Miriam. “A parte mais importante disso tudo é fomentar essa cultura gastronômica, que tem tudo a ver com o ‘SantÊ’: boêmio e rico culturalmente”, reforça o cozinheiro.

A agitação das pessoas degustando os pratos só cessou um pouco quando as cinco juradas do evento, Márcia Nunes, Juliana Rocha, Dani Formigueiro, Elisa Fonseca e Rosilene Campolina, se sentaram em uma nova mesa, de frente para as as, aguardando os pratos para degustar. 

Os chefs de cada restaurante levavam, de um a um, suas criações para as juradas provarem. Mas, ao contrário da tensão que um momento como esse costuma pedir, o clima era alegre, as juradas se divertiam enquanto se comunicavam com o olhar diante de cada garfada. “Já senti vários sabores. É uma experiência gratificante, mas desafiadora. São 20 pratos ao todo. Para ajudar a escolher, a gente avalia sabor, criatividade e apresentação”, conta a chef e jurada Elisa Fonseca. Há 21 anos no ramo, Elisa é proprietária de três estabelecimentos em Belo Horizonte, todos com o nome de “Bar da Lora”, homenageando as madeixas da jurada.

Na outra ponta da mesa dos jurados, Dani Formigueiro intercalou sorriso e garfadas. “Estar aqui, sendo confeiteira, é bacana demais. Para mim, é muito importante quando a confeitaria faz essa fusão com outras propostas. Agora vem a parte difícil, que é avaliar, mas até agora está tudo perfeito”, comenta a chef.

Tradição e glamour

 
Thiago Miró afirma estar 100% confiante com seu prato, que apresentou aos jurados instantes antes de falar com a reportagem. Em meio ao sorriso, que entregava a gratidão em participar, o chef exibia com orgulho sua criação, batizado de “Arroz de Pato com Picles de Pimenta de Cheiro”.

“A inspiração vem do nosso conceito de cozinha - oferecer uma comida diferente do tradicional, mas ível para todos. Ali vai carne de pato com refogado bem mineiro, bastante alho, bastante cenoura e erva aromática. O segredo do prato é nosso picles caseiro de pimenta de cheiro”, descreve Miró. Já para a sobremesa o restaurante oferece uma “cheesecake de goiabada”. “Na verdade, é uma cheesecake desconstruída, servida em um copo, com biscuit para quebrar o doce e massa de queijo com couli de goiabada”, conta.

Base da alimentação

“A ideia é simples, transformar o prato de todo dia em algo mais glamouroso, com um grão milenar”, explica Miriam, que considera o arroz elemento indispensável nos lares brasileiros, já que o grão se consolidou como base da alimentação cotidiana, sempre ao lado do feijão.

Embora o arroz tenha chegado ao Brasil ainda no período colonial, provavelmente trazido de Cabo Verde no século 16, seu consumo em Minas Gerais era raro inicialmente. A popularização do grão na região se deu mais tarde, no século 19, um período marcado pela ruralização da economia mineira após o declínio da mineração. 

Na cozinha, o arroz se faz presente tanto em receitas simples quanto nas mais elaboradas. É ingrediente de pratos emblemáticos como o arroz com pequi, o arroz tropeiro e o arroz com suã, além de estar nas travessas de domingo em família, enriquecido com carnes de a, legumes e temperos frescos. Não por acaso, é também protagonista em quitandas doces, como arroz-doce e bolinhos fritos.

Miriam Cerutti explica que a primeira edição do Festival Gastronômico do Arroz acontece em maio deste ano, inspirado no Festival de Tropeiro de Belo Horizonte, que teve sua primeira edição em junho de 2024. “Agora a proposta é o festival do arroz, e, em seguida, o festival de tropeiros. Homenageando separadamente os dois ingredientes, que são base da culinária mineira”, explica.

No Bar e Museu Clube da Esquina, o prato foi o Arroz de Costela
No Bar e Museu Clube da Esquina, o prato foi o Arroz de Costela Fernando Alves/Divulgação

O evento será encerrado no dia 31 de maio, com uma celebração, reunindo os participantes e premiando os destaques da edição. Ao final, os três pratos mais bem votados receberão certificados durante a festa de encerramento, que também contará com a comercialização dos pratos pelos próprios estabelecimentos. O público tem até o dia 23 para visitar os estabelecimentos e votar em seus preferidos.

1º FESTIVAL GASTRONÔMICO DO ARROZ

Confira abaixo os participantes:

A Firma
Local: R. Quimberlita, 310 – Santa Tereza, BH

Pratos: Arroz meloso de costela & Torta desconstruída romeu e julieta

Ancestral Botequim
Local: R. Salinas, 1173– Santa Tereza, BH

Pratos: Trem de Arroz & Coisa de Goiaba

Bar do Museu Clube da Esquina
Local: R. Paraisópolis, 738 – Santa Tereza, BH

Pratos: Arroz de costela & Brownie com geleia de goiabada


Bar du Pedro
Local: R. Ten. Freitas, 245 – Santa Tereza, BH

Pratos: Arroz de Torresmo & Pudim de Goiabada

Beleleu Butiquim
Local: Av. Petrolina, 590 – Sagrada Família, BH

Pratos: FuzuÊ de sabores & Julieta que lute


Birosca S2
Local: R. Silvianópolis, 483 – Santa Tereza, BH

Pratos: Arroz de pato com mini legumes & Canudinho recheado de chantily de goiabada

Botequim Sapucaí
Local: R. Sapucaí, 523 – Floresta, BH

Pratos: Bolinhinho Chic & Sorvete de Goiabada com telha de queijo alagoa

CEVA
Local: R. Silvianópolis, 355 – Santa Tereza, BH

Pratos: Arroz de Pato com picles de pimenta de cheiro & Cheescake de goiabada

Dom Caixeta
Local: R. Ten. Freitas, 248 B – Santa Tereza, BH

Pratos: Ninho de arroiz & goiabada crocante

Dorian Cacao Venezuela
Local: R. Silva Jardim, 158 – Floresta, BH
Pratos: Venezuela & Chica com goiabada

Feitiço de Santa Tereza
Local: R. Paraisópolis, 855 – Santa Tereza, BH

Pratos: Arroz do santo feitiço  & Coração de goiaba

Novo Sonho
Local: Av. Brasil, 93 – Santa Efigênia, BH

Pratos: Arroz tropeiro & Mousse de goiabada

Quintal de Minas
Local: R. Álvares Maciel, 490 – Santa Efigênia, BH

Pratos: Arroz do quintal com sabor de Minas & Doce do quintal

Quintal do Durval
Local: R. Ten. Durval, 173 – Santa Tereza, BH

Pratos: Arroz caldoso de Rabada & Flan do Nhô Lau

Sheridan
Local: R. Mármore, 588 – Santa Tereza, BH

Pratos: Paella mineira & Casou bem! Sorvete de queijo

Sobrado
Local: R. Mármore, 450 – Santa Tereza, BH

Pratos: Arroz de a & Cama de goiabada

Tabaiares
Local: R. Tabaiares, 73 – Floresta, BH

Pratos: Arroz da babilônia & Dupla de cannoli de cascão e creme de gorgonzola doce

Tapuias Grill
Local: Av. Francisco Sales, 120 – Floresta, BH
Pratos: Risoto de rúcula e tomate seco & Goiabada Cascão

Terezinha Bar
Local: R. Mármore, 773 – Santa Tereza, BH

Pratos: Bolinho de arroz com torresmo & Goiabada cremosa com requeijão


Tia Maluka
Local: R. Quimberlita, 20 – Santa Tereza, BH

Pratos: Arroz escondido & queijadinho de goiabada

* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie. 






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