Um novo projeto de lei protocolado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais colocou o estado no centro de uma polêmica insólita: a tentativa de proibir o atendimento médico a bonecas do tipo “bebê reborn” e outros objetos inanimados nas unidades públicas de saúde.
A proposta, apresentada pelo deputado estadual Caporezzo, veio à tona após relatos de que pessoas estariam buscando atendimento emergencial para bonecas hiper-realistas em hospitais e postos de saúde. Embora a Secretaria de Saúde de Belo Horizonte negue registros desse tipo, a proposta já está em tramitação e prevê multas severas para unidades que realizarem esse tipo de atendimento.
Por que o projeto foi proposto agora?
Segundo o deputado Caporezzo, o objetivo é claro: evitar o uso indevido do SUS e garantir que os serviços públicos sejam direcionados exclusivamente a quem realmente precisa. O parlamentar argumenta que qualquer tipo de atendimento a objetos inanimados é uma distorção do sistema de saúde e que isso pode comprometer o atendimento de emergências reais.
O projeto ainda determina que os valores arrecadados com as multas sejam destinados ao tratamento de pessoas com transtornos mentais, reforçando o discurso de que a saúde pública deve focar em necessidades médicas legítimas e humanas.
Vídeo do deputado gera revolta nas redes sociais
A situação ganhou ainda mais repercussão após o deputado publicar um vídeo em tom irônico, em que simula uma conversa com uma mulher que pede certidão de nascimento para uma boneca reborn. No vídeo, Caporezzo diz que ela deveria ser levada para um hospício.
A cena foi considerada desrespeitosa por muitos internautas, especialmente por quem usa as bonecas reborn como ferramenta terapêutica. Para especialistas e ativistas da saúde mental, a publicação banaliza um assunto delicado e revela falta de empatia com transtornos psicológicos reais.

Afinal, o que são bonecas reborn?
As bonecas reborn são réplicas extremamente realistas de bebês humanos, feitas à mão com detalhes impressionantes. Elas são populares entre colecionadores, artistas e pessoas em luto ou em tratamento emocional. Para algumas mulheres, especialmente aquelas que perderam filhos ou não puderam engravidar, essas bonecas funcionam como apoio psicológico e emocional.
No entanto, o uso dessas bonecas fora do ambiente terapêutico – como em hospitais – levanta um dilema: onde termina o cuidado emocional e começa o uso indevido de um serviço público essencial?
Projeto expõe falhas na regulamentação do SUS
A iniciativa revela uma lacuna legislativa sobre o uso do SUS para fins não convencionais. Embora não existam dados oficiais que comprovem a frequência de atendimentos a bonecas, o projeto de Caporezzo defende uma política preventiva, que evite brechas para abusos ou interpretações subjetivas da finalidade dos serviços de saúde.
Especialistas defendem que, se há demanda terapêutica legítima, o correto seria regulamentar o uso das bonecas em ambiente psicológico, e não banalizar a saúde pública com atendimentos simbólicos.
O que esperar nos próximos capítulos?
Ainda em análise na Assembleia, o projeto deverá ar por comissões antes de ir a plenário. Se aprovado, criará um precedente inédito no país, delimitando com clareza os limites do SUS em relação a objetos inanimados.
Enquanto isso, o caso continua movimentando a opinião pública, dividida entre a defesa do bom uso dos recursos e o respeito às terapias alternativas. Uma coisa é certa: o Brasil segue sendo um terreno fértil para debates que misturam o inusitado, o emocional e o jurídico, com desdobramentos que podem surpreender até os mais céticos.