Nos arredores tranquilos ao sul de Paris, um colosso científico repousa silenciosamente. Trata-se do Apollon, uma maravilha tecnológica que atualmente detém o recorde mundial de potência laser. Imagine um dispositivo capaz de gerar feixes de energia tão intensos que podem recriar as condições encontradas nas profundezas do espaço e nos primeiros momentos do universo. Estamos falando de 10 petawatts de potência – um número que, para a maioria de nós, permanece abstrato em sua grandiosidade, mas que representa o pináculo atual da engenhosidade humana neste campo.
O Apollon é resultado da colaboração entre algumas das mais prestigiadas instituições de pesquisa europeias, incluindo a Ecole Polytechnique, o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) e parceiros industriais como a Thales. Enquanto o titã francês continua operando com seus impressionantes 10 petawatts, cientistas americanos do Laboratório Nacional de Aceleração SLAC, em Menlo Park, Califórnia, recentemente alcançaram seu próprio marco: a geração de um feixe laser de 1 petawatt utilizando um método inovador de aceleração de partículas.
O que é a técnica “flipper” do SLAC e como ela funciona?
O laser do SLAC, apesar de sua intensidade momentânea, nasceu de um método experimental que seus desenvolvedores chamam de técnica “flipper”. Os pesquisadores utilizaram um acelerador para impulsionar elétrons a velocidades próximas à da luz – uma façanha impressionante por si só. Esses elétrons foram então comprimidos em grupos compactos através de pulsos de radiofrequência e campos magnéticos antes de serem disparados através de um magneto ondulador. Durante essa agem, o feixe interagiu com um laser externo para amplificar sua energia.
O resultado foi um clarão de luz que, segundo a Popular Mechanics, equivale naquele breve momento à produção combinada de um milhão de usinas nucleares. Embora o pulso tenha durado apenas uma fração de segundo, ele demonstrou o enorme potencial dos feixes de partículas comprimidas na geração de energia laser de alta intensidade.

O que torna o Apollon único entre os lasers de alta potência?
Na França, o sistema laser Apollon, localizado em Palaiseau, continua liderando o campo. Operando com dez vezes a potência do recente feixe do SLAC, o Apollon tornou-se a referência para fontes de luz de ultra-alta intensidade. Seus pulsos são medidos em femtossegundos – quadrilionésimos de segundo – mas a energia que concentram nesse instante está entre as mais altas já registradas no planeta.
O que diferencia o Apollon não é apenas sua potência, mas sua consistência. Diferentemente do avanço americano, que permanece em estágio experimental, o laser francês está totalmente operacional e integrado a projetos de pesquisa contínuos. Foi projetado para uso rotineiro por equipes de toda a Europa, com infraestrutura para apoiar experimentos repetíveis e de alta precisão.
Quais são as implicações globais dos lasers de alta potência no cenário atual?
As implicações de sistemas lasers tão poderosos vão muito além da ciência pura. De acordo com especialistas, eles estão rapidamente se tornando símbolos de ambição tecnológica e capacidade estratégica nacional. Desde simular detonações nucleares sem explosões reais até sondar o vácuo quântico – o vazio flutuante e rico em partículas do espaço “vazio” – essas ferramentas permitem que pesquisadores ultraem os limites do modelo padrão da física.
No atual cenário geopolítico, países que conseguem construir e controlar tais instrumentos estão se posicionando como líderes em uma nova era de soberania científica. O investimento europeu no Apollon, coordenado entre linhas nacionais e industriais, reflete uma estratégia não apenas de participar nesse campo, mas de liderá-lo.
Quais são as aplicações futuras dos lasers de petawatt e como podem revolucionar diversas áreas?
Os lasers de petawatt não são apenas brinquedos caros para físicos curiosos. Suas aplicações potenciais abrangem campos que vão desde a medicina até a energia limpa. Por exemplo, a aceleração de partículas através de lasers pode levar a aceleradores de partículas muito menores e mais íveis, revolucionando tanto a pesquisa básica quanto tratamentos médicos, como a terapia de prótons para câncer.
Outra aplicação promissora está na fusão nuclear. Alguns cientistas acreditam que lasers ultrapoderosos poderiam fornecer um caminho alternativo para a ignição da fusão, potencialmente desbloqueando uma fonte de energia limpa e virtualmente ilimitada. A compressão extrema e o aquecimento que esses lasers podem gerar poderiam criar condições semelhantes às encontradas no núcleo das estrelas, onde a fusão nuclear ocorre naturalmente.