
Brumadinho: seis anos depois, seis retratos da dor
Entre pedidos de justiça e saudade, parentes de vítimas da tragédia que tirou a vida de 272 pessoas em 25 de janeiro 2019 reverenciam os mortos e falam de seus
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Siga noFerida que sangra todo santo dia, sem um segundo de alívio. Lágrimas irrigando saudade em meio a pesadelos e sonhos bons, de dia ou de noite, na mais completa escuridão das tristezas ou sob a luminosidade de lembranças felizes. Hoje, 25 de janeiro, faz seis anos que uma das mais terríveis das tragédias humanitárias e ambientais do Brasil se abateu sobre Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), e se propagou pela Bacia do Rio Paraopeba.
Com o rompimento da Barragem 1 da Mina do Córrego do Feijão, da Vale, às 12h28 de uma sexta-feira, 270 pessoas morreram – há ainda três desaparecidos. Ao número oficial de vítimas, denominadas “joias” pelos moradores locais, somam-se dois nascituros, que se chamariam Maria Elisa e Lorenzo ao vir ao mundo. Assim, 272 perderam a vida.
Na comunidade de Córrego do Feijão, a primeira impactada pelo volume de rejeitos vazados da barragem, há um brado por justiça, reparação, punição. A empresária Aline Aparecida Lopes Muniz perdeu o pai e poderia estar viúva caso seu marido não estivesse de folga. “As pessoas ficaram doentes, com depressão, outras caíram no vício. Não bastasse a morte do meu pai, tive que esperar 83 dias para que encontrassem seus restos mortais”, diz Aline. Residente em Sarzedo (RMBH), a servente escolar Maria Regina da Silva destaca, “nesse crime”, o “assassinato” de 61 mulheres, incluindo sua filha Priscila Elen Silva, então com 29 anos. “Não há perdão”, avisa.
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Para reverenciar a memória das vítimas, há programação em Brumadinho e Ouro Preto, em Minas, e em cidades como São Paulo (SP). Na capital paulista, com ato público amanhã (26), na Avenida Paulista, a presidente do Instituto Camila e Luiz Taliberti (ICLT), Helena junta sua voz à daqueles que pedem justiça. Ela perdeu dois filhos e a nora, grávida de cinco meses, que estavam hospedados numa pousada destruída pelo “tsunami” de lama. Do grupo, faziam parte ainda o pai biológico dos seus filhos e a madrasta de Luiz e Camila. Todos morreram.
Seis anos após a tragédia, ainda sem cicatrizes, mas em chagas, o leitor vai conhecer seis histórias tecidas em palavras de dor, mas também permeadas pelos fios da esperança. “É o que nos move”, acredita Alessandro de Jesus Alves, de Córrego do Feijão. A exemplo de outros familiares, eles “ainda estão aqui” e, com o leme de suas vidas, pretendem continuar.
Lágrimas amargas sobre a "merenda" favorita do filho
Dona Conceição perdeu o filho Gilmar José da Silva, que morreu aos 36 anos
Dona Conceição nunca mais fez broa com queijo. Sabe a receita de cor e salteado, mas prefere deixar de lado e se concentrar no preparo de outros alimentos. Conforme diz, essa era a ‘merenda’ preferida do filho Gilmar José da Silva, que morreu aos 36 anos durante o rompimento da Barragem da Mina Córrego do Feijão. “Um dia, minha filha fez a broa com queijo e me trouxe, insistindo para que eu comesse. Não consegui, pois as lágrimas rolaram pelo meu rosto e molharam tudo”, conta a senhora de semblante marcado pela saudade do filho que morava com ela e o pai, Dorvelino Joaquim da Silva, no Sítio Vargem Alegre, em Córrego do Feijão.
“Ainda é muito difícil...tudo é muito difícil...uma tristeza só” – dona Conceição, de 74 anos, pontua as frases com os sentimentos transbordando no brilho dos olhos, no movimento das mãos, na boca que se retorce com a ausência de palavras. “Não adianta esquecer, pois a todo lugar que vou essa lembrança me acompanha. Não tem jeito”. Gilmar, que muitos chamavam de Gil, trabalhava em empresa terceirizada da Vale, deixou um filho, hoje com 8 anos. Seu corpo foi encontrado 20 dias após a tragédia e sepultado no cemitério de Brumadinho.
Quando o repórter pergunta a dona Conceição Maria, que recebeu esse nome por ter nascido em 7 de dezembro, véspera do dia de Nossa Senhora da Conceição, se ela tem retratos do filho, em papel ou no celular, ela responde “não”. E conta que, assim como não guarda tal registro, prefere se manter longe de homenagens à memória das vítimas, a exemplo das realizadas nesta data. “Nunca fui lá”. O ‘lá” é o Letreiro, local na entrada da cidade onde há 272 cruzes brancas representando os mortos na tragédia de 25 de janeiro de 2019.
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No momento em que a equipe do EM chegava ao Sítio Vargem Alegre, dona Conceição rezava o terço. Ao atender o chamado na porteira da propriedade rural, sentou-se no banco da varanda e falou da sua fé inabalável em Deus e na religiosidade que sustenta sua força, a qual vem também dos três filhos, netos e da bisneta Carolina, de 11 anos. “Só peço a Deus que meu filho tenha o descanso eterno. Não fico falando se foi crime ou não o que aconteceu, nada vai trazer o Gilmar de volta.”
Justiça para quem partiu, reparação para os vivos
Distante 15 quilômetros do Centro de Brumadinho, Córrego do Feijão se tornou, ados seis anos da tragédia geradora de impactos ambientais e socioeconômicos na Bacia do Rio Paraopeba, que recebeu cerca de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos, em localidade de pouco movimento. “Moram aqui, hoje, entre 100 e 150 famílias. Mais de 65% dos antigos residentes foram embora para outras cidades”, estima o participante de movimentos sociais no município, Jeferson Custódio Santos, graduado em direito.
Entre os mortos de Córrego do Feijão, primeira comunidade a sofrer os impactos do rompimento, estavam a avó materna e a tia dele, ambas trabalhadoras da Pousada Nova Estância, varrida do mapa pela lama que criou um “tsunami” e avançou também sobre o vizinho Parque da Cachoeira. “Precisa haver punição para os culpados a fim de que um ciclo se feche. Do contrário, fica o vazio, uma dívida. As pessoas perderam as raízes, houve rompimento do tecido social”, explica Jeferson.
Muitos habitantes de Córrego do Feijão resistem, permanecem, e não se furtam a manter viva a memória dos que morreram e a revelar trechos da sua história. Cabeleireira e pessoa envolvida em “multitarefas”, incluindo uma horta e o salão, Aline Aparecida Lopes Muniz, casada, mãe de William, de 13, e Milena, de 7, perdeu o pai, Levi Gonçalves da Silva, funcionário de uma empresa terceirizada da Vale. “Por sorte, meu marido estava de folga naquele dia. Do contrário, poderia ter morrido também”, conta Aline, na porta de casa.
Aline Aparecida Lopes Muniz perdeu o pai, Levi Gonçalves da Silva
Natural de Itamarandiba, no Vale do Jequitinhonha, e residente há 23 anos em Córrego do Feijão, Aline não se esquece da catastrófica sexta-feira (25 de janeiro), quando, às 12h28, ocorreu a maior tragédia humanitária na história do país. Com a voz embargada pela dor que não cessa, a empresária diz que a tragédia não ocorreu apenas “uma vez”. Precisou esperar ainda 83 dias até os restos mortais do pai serem localizados e identificados. “Muito sofrimento. Não houve velório, o caixão ficou fechado. Não pude ver seu rosto. Minha mãe não conseguiu ficar mais aqui, foi para Conselheiro Lafaiete.”
Aline e o marido decidiram continuar em Córrego do Feijão, onde tocam a vida, cuidam dos negócios e criam os filhos. Embora a Vale esteja comprando muitas casas – basta caminhar pelas ruas para ver as placas – o casal decidiu não vender. “Queremos justiça para os que morreram e reparação para os que ficaram”, observa Aline, ressaltando que pessoas ficaram destruídas psicologicamente após a tragédia, muitas delas “caindo nos vícios”. Considerando o cenário como de “perdas irreparáveis”, ela cita parentes do marido e amigos consumidos pela tragédia.
Esperança norteia os dias e aponta caminhos
A família Assis, que continua em Córrego do Feijão, perdeu parentes na tragédia de 2019
Também em Córrego do Feijão, a família de Dileyvande Assunção de Assis, a Diley, de 43 anos, se mantém firme no melhor estilo “ainda estamos aqui e vamos continuar”. Eles nem pensam em se mudar, ainda mais que, na semana ada, abriram o café e lanchonete Feito por Nós, localizado na frente do Mercado Central Ipê Amarelo. Produtos artesanais são servidos, e novos tempos surgem nas palavras de Isabela, de 16, que quer estudar fotografia e Tecnologia da Informação (TI). “Nossa comunidade viveu essa tragédia, mas devemos pensar em superação. Para mim, o baque foi grande demais, atrapalhou minha vida em várias questões. Nos estudos, por exemplo, fiquei sem o sétimo ano. Essa fase da adolescência é complicada. E, no início dela, ter vivido isso, foi ainda mais complicado”, afirma a filha de Diley e Alessandro de Jesus Alves, autônomo, e irmã de Daniel, de 11.
Diley perdeu a cunhada Angelita Cristiane Freitas de Assis, técnica de enfermagem, e o primo Wesley Eduardo de Assis. Funcionária da mineradora, Angelita, então com 37 anos, deixou marido e dois filhos, sendo a 262ª vítima identificada no desastre da Vale. Já Wesley Eduardo trabalhava como operador de máquinas. À mesa, com a família reunida, as dolorosas lembranças chegam aos corações, porém encontram uma barreira: as mãos unidas para enfrentar o ado recente e preparar caminhos futuros.
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Na parede do estabelecimento, há um alento nas mensagens ao cliente: “Bem-vindo”, “Sorria”, “Respire fundo”, “Coisas doces”. Nesse clima familiar e profundamente mineiro, é possível falar em esperança. E o repórter pergunta: “Diante de tudo o que vocês aram, a esperança é apenas uma palavra ou realidade?”
Diley se apressa em responder que sim, há esperança, mesmo em meio às perdas, desilusões, irregularidades, incertezas, doenças decorrentes da tragédia e, na voz geral, um crime sem castigo. Alessandro quebra o silêncio da pausa que se segue. “A esperança é nosso bem mais valioso. Sem ela, não existe nada. Significa a força que nos mantém vivos. Então, nos agarramos à esperança para que venham dias melhores”.
Sonho de ser youtuber interrompido às 12h28
Sônia Aparecida Silva Oliveira perdeu a sobrinha, que morreu aos 16 anos
Foi tempos depois da morte de Camila Aparecida Fonseca Silva, de 16, que seus familiares encontraram, num papel grudado na porta do guarda-roupa, os planos dela para o futuro. Mesmo ainda em treinamento na Pousada Nova Estância, ela pretendia, com o primeiro salário, reformar a cozinha da casa dos pais. Depois, ascender profissionalmente para, quando estivesse estabilizada, empreender, abrir um negócio. Mais adiante, o desejo era ser youtuber e conquistar mais de 100 mil inscritos.
“Fiquei impressionada com os projetos, especialmente a reforma da cozinha dos pais e a vontade de ‘crescer’ no trabalho. Estava apenas três meses na pousada, em treinamento para ser camareira”, conta Sônia Aparecida Silva Oliveira, de 51, casada, que tem dois filhos e considerava Camila como um deles. “Minha filha, Derlaine, de 29, trabalhava na pousada. Sofreu demais e sofre até hoje. A tragédia ocorreu às 12h28, na hora do almoço. Quando tudo ocorreu, só lhe restou correr para o mato, sem destino. Chegou em casa toda suja”, recorda-se Sônia, deixando a memória se transformar em pranto e um aperto no coração permear as frases.
O cenário daquele dia 25 de janeiro nunca desapareceu da mente dos moradores: carros e carretas rodopiando no redemoinho dos rejeitos de minério, estruturas de concreto destruídas, o córrego virando lamaçal, casas em naufrágio, árvores arrastadas na velocidade da catástrofe, estradas sumindo. “De repente, não existia mais nada. Não tínhamos mais nada!”
Se alguém me pergunta o porquê de tudo isso, só resta dizer: “Não há resposta”, lamenta Sônia, que muitos chamam de Soninha, integrante da Associação de Produtores do Córrego do Feijão. “Só posso dizer que é uma ferida que sangra. E sangra demais.”
Luta incansável em memória de Priscila
Maria Regina da Silva perdeu a filha, Priscila Elen Silva, então com 29 anos
Na tarde de quarta-feira (22), a servente escolar Maria Regina da Silva participou, em Córrego do Feijão, da abertura da exposição “Florescer em meio à lama: Memórias que brotam”, iniciativa do Instituto Cordilheira para homenagear a comunidade, preservar a histórica local e promover, conforme os organizadores, “reflexão sobre justiça e não repetição dos crimes da mineração”. Dona Regina, residente em Sarzedo, na Grande BH, disse “presente”, vestida com uma camisa estampada com retratos de vítimas da tragédia e o destaque, no alto “Luto e Luta: Justiça, Encontro e Memória”.
Entre os mortos de 25 de janeiro de 2019, estava Priscila Elen Silva, então com 29 anos, um dos cinco filhos da atuante dona Regina. Se na camisa estão os rostos das vítimas, sobre o coração a servente escolar traz um colar com duas asas, num camafeu, que se abrem e mostram o nome da primogênita, funcionária da Vale havia 10 anos, na área de mecânica. “Fiquei com sentimento de culpa. Pensando porque não ei mal para que ela ficasse comigo, em casa. Ou que eu pedisse para ela ficar, apenas isso”.
Ressaltando que Priscila era seu apoio constante – “Esteve sempre comigo no período de doença da irmã, que morreu de câncer”, observa –, dona Regina não nega que, no início, se revoltou contra Deus. “Por que o Senhor não tirou ela de lá?”, questionava. Mas, com o ar dos meses, os sentimentos se acomodaram, o tempo aquietou o coração, “e Deus me amparou”. Com bom humor e retornando aos momentos de descontração familiar, dona Regina cita a frase “Mãe! Para de show!”, sempre na ponta da língua de Priscila, quando a mamãe dramatizava alguma situação.
Formada em direito e começando o curso de educação física, Priscila, na cabeça de dona Regina, simboliza agora o pedido de Justiça. “Para nós, este sábado é como se fosse ontem. É revoltante pensar no que aconteceu, o que poderia não ter acontecido. Para a morte, não há reparação, nem preço, nem justificativa. Sessenta e uma mulheres foram assassinadas, este crime não pode ficar impune. Vamos continuar lutando contra aberrações jurídicas”, diz dona Regina, que sofre toda vez que pisa em Córrego do Feijão, um local adorado pela filha.
No seu último dia, antes de sair da sua casa, Priscila deixou a geladeira descongelando. “Se fez isso, é porque tinha a intenção de retornar, não é? Sobre a cama, deixou a Bíblia aberta. Sempre fui de ir à igreja, rezar o terço, a oração do Pai Nosso, com ênfase em ‘Livrai-nos do mal’. Agora, comigo, tenho as lembranças da minha filha e a esperança de que seja feita a justiça”.
Arte e resistência marcam a data em Ouro Preto
Vagner e Helena Taliberti perderam os dois filhos, Luiz e Camila
A reverência à memória das vítimas do rompimento da barragem e solidariedade aos familiares ocorre também em Ouro Preto, na Região Central de Minas. Na tarde deste sábado, será aberta, no Anexo do Museu da Inconfidência, no Centro Histórico, a exposição “Paisagens Mineradas: Marcas no corpo-território”. A iniciativa da mostra é do Instituto Camila e Luiz Taliberti (ICLT), criado em 2019 pelos amigos do arquiteto Luiz Taliberti e da irmã dele, Camila Taliberti, advogada, que estavam hospedados na Pousada Nova Estância, atingida pela tragédia do rompimento da barragem.
Luiz, então com 31 anos, e Camila, de 33, viajaram a Brumadinho, num grupo de cinco pessoas, para conhecer o Instituto Inhotim, centro de arte contemporânea reconhecido internacionalmente. Luiz estava com a mulher, Fernanda, grávida de cinco meses de um menino que se chamaria Lorenzo. Moravam na Austrália. Também vieram a Minas, além do casal e de Camila, residente em São Paulo, o pai biológico dos dois e a madrasta deles. Todos morreram.
“Perdi minha família. Essa é uma tragédia que começou naquele 25 de janeiro e se reproduz todos os dias. Lorenzo seria meu primeiro neto. Tudo isso deixou um buraco no meu peito”, conta Helena Taliberti, mãe de Luiz e Camila, moradora de São Paulo. “Tudo isso”, na avaliação da servidora pública aposentada da Prefeitura de São Paulo (SP), se traduz por “negligência, ganância, busca incessante por lucro acima da vida e não valorização da existência humana”.
Para honrar o legado de Luiz e Camila, os amigos se uniram e criaram o ICLT, organização não governamental sem fins lucrativos para ações de proteção ambiental, culturais e de sustentabilidade em prol da conscientização sobre os efeito da mineração nas comunidades. “A iniciativa dos amigos dos meus filhos deixou meu coração aquecido. O luto não foi só meu e do meu marido, Vagner Diniz. Tornou-se coletivo, união de forças. O Luiz, sempre engajado na luta ambiental, tinha muitos amigos em Sidney (Austrália), onde era diretor num escritório de arquitetura.”
Certa que tais iniciativas mantêm viva a memória e servem de alerta para que novas tragédias não ocorram, Helena Taliberti, presidente do instituto, junta sua voz à dos que clamam por justiça. “Não dá para ficar impune, não existe reparação. Ninguém vai devolver meus filhos. A morte deles não pode ter sido em vão. É preciso que todos os envolvidos sejam responsabilizados.”
Memorial abre as portas para guardar a história
Na tarde de hoje, às 15h, será inaugurado o Memorial Brumadinho, espaço de memória às vítimas do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão. Na cerimônia, estarão presentes familiares das vítimas, autoridades e pessoas da comunidade distante 15 quilômetros da sede municipal. Com projeto do arquiteto Gustavo Penna, o memorial “nasce de uma iniciativa histórica, fruto da mobilização dos familiares para salvaguardar segmentos corporais de vítimas e honrar as 272 vidas ceifadas na tragédia — 251 trabalhadores, dois nascituros, além de moradores da comunidade e turistas”, informa o material de divulgação da iniciativa.
Segundo a presidente da Fundação Memorial de Brumadinho, Fabíola Moulin, não se trata apenas de espaço de lembrança. “É de rememoração e reflexão, pautado no compromisso ético de reparação simbólica a partir das memórias dos vitimados pelo rompimento da barragem. Sua existência reflete a importância de não esquecer esse acontecimento e de compreendê-lo como prática de violência contra a humanidade e o meio ambiente.”
Em maio de 2019, familiares das vítimas protocolaram no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) a solicitação para construção de um “Parque Memorial em homenagem às vítimas da tragédia na cidade de Brumadinho”, com a de cerca de 100 pessoas. Da mobilização, nasceu também a Associação de Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum), que ou a representar formalmente os interesses do grupo, bem como a pleitear a participação ativa no processo de construção do memorial.
Em 25 de janeiro de 2020 (um ano após a tragédia), os familiares celebraram a conquista da reivindicação coletiva, com a pedra fundamental do Memorial. Três anos e meio depois, em agosto de 2023, foi firmado o Termo de Compromisso entre a Vale e a Avabrum, com anuência do MPMG, que fundamentou a criação da Fundação Memorial de Brumadinho, instituição responsável por manter e gerir o Memorial.
Programação de hoje
Em Brumadinho e na Grande BH
- 11h – Ato de Seis Anos, na Praça Saudade das Joias (ao lado do Letreiro da entrada da cidade)
- Das 9h às 14h – 6ª Romaria da Arquidiocese de Belo Horizonte pela Ecologia Integral, com encontro (9h) no Santuário Nossa Senhora do Rosário, no Bairro Santa Cruz (ao lado da Escola Paulo Neto). Caminhada, após missa, até o Letreiro.
- 15h – Cerimônia de inauguração do Memorial Brumadinho, espaço de reverência à memória das vítimas do rompimento da barragem. Fica na Rua Hum, nº 100, em Córrego do Feijão.
- Das 9h às 17h – Exposição “Florescer em meio à lama: Memórias que brotam”, no Espaço Memória Popular, na Sorveteria da Silvia, em Córrego do Feijão. Até dia 27
Em Ouro Preto
Às 16h e 17h – Performances na exposição “Paisagens Mineradas: Marcas no corpo-território”, com entrada gratuita, no Anexo do Museu da Inconfidência, no Centro Histórico. “Pedaços de chãos se movem com as águas”, performance de Morgana Mafra (16h) e exibição de “Sociedade de Ferro”, filme de Eduardo Rajabally (17h). Promoção do Instituto Camila e Luiz Taliberti (ICLT). Até 15 de março.