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PERSONAGEM

O dançarino que venceu o ‘Capeta do Vilarinho’

Ricardo Malta ficou famoso ao vencer concurso de dança nas Quadras do Vilarinho, em Venda Nova, superando ninguém menos que o próprio 'tinhoso'

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O ano era 1988 e uma lenda surgiu em Belo Horizonte. Em um dos embalos das noites de dança nas Quadras da Vilarinho, Ricardo Malta, de 60 anos, entrou para a história da capital mineira. Com a presença confirmada em diversos bailes na época, Malta entrou para um concurso de dança, como chamavam, sem a intenção de ganhar, mas o que ele não esperava é que além de ser o campeão, ajudou a desvendar o mítico "Capeta da Vilarinho".

Tudo começou quando um desconhecido decidiu entrar no concurso de melhor dançarino. Seguro de si, escolheu uma das mulheres mais bonitas do baile para ser a parceira da disputa. O sujeito, segundo Ricardo, chamava bastante a atenção por ser diferente dos frequentadores: além de ser “esguio e ter olhos muito claros”, tinha uma postura que se destacava pela autoconfiança.

“Em um desses concursos, apareceu uma pessoa diferente do público que frequentava o local, diferente da turma. O modo de se vestir era diferente, embora todo mundo se vestisse muito bem. Ele chamava a atenção pelo estilo, pela postura também. Esguio, alto, usava chapéu, tinha olhos muito claros. Chegou, dançando sozinho, mas na época tinha muito casal. Chamou uma das meninas mais belas para dançar”, relembra Malta.

Segundo o dançarino, o desconhecido tinha total domínio dos os que executava na pista. Como a sequência ritmada em dupla era guiada pelo homem, Ricardo percebeu que ele se sentia superior no espaço.

O anúncio do vencedor provocou surpresa em ambos. Malta conta que viu nos olhos do perdedor a frustração, seguida do desprezo pela companheira, como se ela fosse a culpada pela derrota. Em seguida, como de costume, tocou uma música lenta no baile.

Durante o momento em que os casais dançavam colados, a dupla do perdedor aproveitou para acariciar o rosto do homem, mas, sem querer, derrubou seu chapéu. Foi quando viu duas coisas pontiagudas na cabeça dele, logo associadas a chifres. Desesperada, ela gritou e olhou para baixo, indo de encontro aos pés, que eram como patas de bode, peludas e com cascos nas pontas. Conforme o relato, os homens do baile, acreditando que ele teria agredido a parceira, correram atrás do “Capeta”, que entrou no banheiro. A surpresa maior foi que o grupo não encontrou ninguém lá dentro. Era como se o homem tivesse evaporado. Apenas um forte cheiro de enxofre foi sentido no local. De volta à pista de dança, ficaram sabendo da história pela moça que dançou com ele.

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Tempos depois, os dançarinos ficaram sabendo que o "Capeta" foi visto em outras áreas da capital, mas nunca mais apareceu nas Quadras da Vilarinho. O apelido, no entanto, foi propagado, assim como a história, deixando Ricardo bem conhecido na cidade.

Ricardo Malta ao lado do equipamento que usa para tocar como DJ fazendo os de dança
Ricardo Malta, que derrotou o Capeta da Vilarinho na década de 80, é professor de inclusão e dançarino e DJ nas horas vagas Marcos Vieira/EM/DA Press

Currículo

Famoso por derrotar o “Capeta da Vilarinho”, Ricardo atualmente é professor de inclusão em cursos oferecidos pelo Programa PUC Inclusiva de Apoio à Pessoa com Deficiência e Reabilitadas do INSS, pela PUC Minas. Formado em relações públicas, é ainda promoter, sonoplasta, programador de sites e responsável por mixagens no programa “Só remix”, da Web Disco Funk. Nas horas vagas, é DJ e dançarino, atividade que é sua grande paixão.

Morador do bairro Planalto, na Região Norte de BH, Ricardo frequentava as quadras desde os 16 anos, inicialmente como goleiro de futsal e, depois, atuando na pista de dança, onde descobriu sua grande paixão. Foi lá que se tornou gosto pelo jazz e soul. Devido aos vários comentários da época, chegou a ser confundido com o “Capeta da Vilarinho” e temia por isso. Em 1989, foi trabalhar em Vitória (ES). Quando voltou a BH, um ano depois, recebeu proposta de emprego no Rio, onde ou 4 anos. Enquanto a poeira baixava na capital mineira, descobriu um glaucoma juvenil.

Em 2003, Ricardo perdeu completamente a visão e se afastou da dança, mesmo ano em que começou um curso para deficientes visuais na PUC Minas, onde se tornaria professor no ano seguinte. Depois de quase dois anos afastado da dança, em 2005 ele recebeu o convite desafiador: se apresentar em um evento. Ele lembra que, ao negar e achar a ideia uma loucura, uma amiga o convenceu dizendo que “ele não enxergava, mas dançava”. “Como eu sou uma pessoa muito católica, eu aceito desafio. Escolhi uma música e fiquei pensando como faria pra subir no palco. Até hoje eu me oriento pelas caixas de retorno para saber a distância do palco e pedi a um amigo que me colocasse no palco. Coloquei uma introdução antes da música para ter noção do espaço, mas quando a música começou não me preocupei com mais nada, porque a música entrou no corpo e saí dançando”, diz.

Para Malta, foi um divisor de águas e desde então ele vem se apresentando e participando de eventos. Desde 2018, atua também como DJ, aliando a vida de professor e a música. “São coisas que continuam na minha vida. Gosto muito de ir em eventos pra curtir, dançar músicas dos anos 1970, 1980 e 1990. Não tenho como parar de dançar, a dança faz parte da minha vida. Hoje eu danço, discoteco e ministro aulas”, conclui. 

*Estagiária sob supervisão do subeditor Paulo Galvão

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