
Morre Nero, cabeleireiro que abriu o primeiro salão unissex de BH
Parte da memória da capital, o profissional também lutou, por meio da arte, por dignidade para pessoas que não se encaixavam na heteronormatividade
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Siga noMorreu nesta segunda-feira (10/2) o cabeleireiro Nero, aos 77 anos. Parte da memória de Belo Horizonte, o profissional, além do trabalho com a beleza, lutou — utilizando-se da arte — por dignidade para pessoas que não se encaixavam na heteronormatividade. Nero estava internado desde o fim de dezembro. A causa da morte não foi divulgada.
Natural de São João del-Rei, na Região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais, Nélio Luiz de Almeida, ou apenas Nero, como gostava de ser chamado, chegou a Belo Horizonte em 1968, quando fez curso de cabeleireiro no centenário Salão Escola Bom Pastor, no Centro.
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No ano seguinte, ele abriu o primeiro salão unissex da capital na Galeria do Ouvidor, inaugurada poucos anos antes, em 10 de março de 1964.
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No início, a Ouvidor, primeira galeria da capital, era um ponto de “coisas finas”. “Aqui só tinha lojas de luxo”, disse Nero ao Estado de Minas em março do ano ado. “Depois, vieram confecções, lojas de couro, peças para bijuteria, roupas de festa e material para artesanato (marca registrada do centro comercial). Hoje tem de tudo”, completou na ocasião.
O salão de Nero funcionou ininterruptamente por mais de cinco décadas. Agora, após a morte do proprietário, ainda não há informações sobre o futuro do estabelecimento.
Para Luiz Morando, pesquisador sobre memórias dos territórios e da sociabilidade LGBTQIAPN+ de Belo Horizonte entre 1946 e 1989, tanto tempo de atividade no ramo da beleza se deve ao talento e à dedicação de Nero ao ofício. “As pessoas formavam uma longa fila no corredor da galeria para cortar o cabelo com ele, e muitas iam lá apenas para vê-lo trabalhar”, lembrou.
“Extremamente feminino e andrógino, Nero embaralhou a mente das pessoas com sua beleza estonteante e seu comportamento disruptivo. Como ele dizia, ‘eu vim para confundir’. Nero foi constantemente visado pela ‘polícia de costumes’, que tentava coibi-lo e ‘corrigi-lo’, e sofreu diversas formas de violência”, completou o pesquisador.
Nero também atuou como artista performático, dublando e imitando cantoras famosas. Nas décadas de 1970 e 1980, ele se apresentou em casas voltadas para o público hoje definido como LGBTQIAPN+, mas também conquistou espaço em estabelecimentos frequentados por heterossexuais.
Em 2007, ele recebeu da Câmara Municipal o título de cidadão honorário de Belo Horizonte. “Esta homenagem representa mais um avanço contra o preconceito e a aceitação do nosso trabalho. É um sinal de que o respeito ao homossexual melhorou bastante nesses últimos anos, mas isso não quer dizer que atingimos o ideal. Por outro lado, é uma coisa inédita: um homossexual assumido ganhar um título desses do poder público”, declarou à época.
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