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CIÊNCIA E LITERATURA

Anfíbio recebe nome de personagem de Guimarães Rosa

Personagem de Guimarães Rosa batiza espécie de anfíbio descoberta no cerrado. Pesquisador trabalhou nos municípios mineiros de Chapada Gaúcha e Formoso

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Foi na vastidão do cerrado, nos confins de Minas, Bahia e Goiás, que os jagunços guerrearam, contaram histórias e povoaram as páginas do livro “Grande Sertão: Veredas” (1956), de João Guimarães Rosa (1908-1967). Pois agora o nome de uma das personagens mais fascinantes da literatura brasileira e da obra rosiana, Diadorim, batiza um anfíbio descoberto no Parque Nacional Grande Sertão Veredas, localizado na trijunção dos estados.

O achado científico resulta de pesquisas do biólogo Reuber Brandão e equipe. Ele é professor do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília (UnB) e membro da Rede Biota Cerrado do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

Brasiliense que conhece a unidade de conservação desde 1996, incluindo os municípios mineiros de Chapada Gaúcha (Região Norte) e Formoso (Noroeste), Brandão reúne ciência, iração e poesia ao falar sobre a escolha do nome para a nova espécie – “Nyctimantis diadorim”.

Em homenagem ao Parque Nacional Grande Sertão Veredas, ao escritor João Guimarães Rosa, à sua obra magistral e ao amor que partilhamos pelo cerrado. Assim como a personagem do livro, a nova Diadorim é também uma guerreira elusiva, que habita o coração do Grande Sertão, lutando para sobreviver em uma paisagem repleta de belezas e ameaças, conhecida como cerrado”, diz.

E quem é a nova e ilustre Diadorim? Trata-se de uma perereca pertencente a um grupo conhecido como “pererecas-de-capacete”, devido a processos de hiperossificação no crânio. Trocando em miúdos, são processos de decomposição de tecido ósseo sobre o crânio, com pelo menos três formas de deposição (exostose, co-ossificação e casqueamento).

Tal explicação é importante para se conhecer uma das principais características do animal, observa o biólogo. “Em algumas espécies de ‘pererecas-de-capacete’, as projeções ósseas do crânio se apresentam como espículas, que podem perfurar a mucosa de predadores e inocular uma toxina extremamente poderosa. A nova espécie possui tais estruturas.”

Esses processos, além de relacionados à defesa contra predadores, também se mostram eficientes contra a perda de água, podendo estar associados a comportamentos específicos. Dessa forma, se uma serpente tenta capturar o anfíbio, “as espículas pontudas à frente da cabeça e ao lado, onde seriam os lábios”, como se fossem espinhos, eventualmente inoculam toxinas e impedem a refeição do réptil inimigo. Como Diadorim era exímia guerreira com facas, o nome se torna bem apropriado.

Com descrição publicada na edição de dezembro de 2024 do periódico científicoHerpetologica, a “Nyctimantis diadorim” se torna a primeira representante do gênero a ocorrer nos limites do cerrado. “Até o momento, é conhecida apenas no Parque Nacional Grande Sertão Veredas, onde habita matas paludosas de solo inundável associadas a áreas de veredas. Parece ser uma espécie pouco abundante, que aparece de forma esparsa ao longo desses ambientes”.

 

Na foto, professor Reuber Dib, da Universidade de Brasília (DF), com o anfibio "Nyctimantis diadorim", espécie descoberta no parque nacional Grande Sertão Veredas

Na foto, professor Reuber Dib, da Universidade de Brasília (DF), com o anfibio "Nyctimantis diadorim", espécie descoberta no parque nacional Grande Sertão Veredas

André Dib/Divulgação

 

Próximos os

Há muito ainda para se conhecer sobre a perereca-de-capacete, que sofre os impactos das áreas de expansão da soja em toda a chamada trijunção dos três estados. “Ainda não sabemos, por exemplo, como a espécie vocaliza, como é seu girino, a reprodução. O que sabemos é que o encontro de uma espécie de perereca de grande porte no cerrado, especialmente de um gênero ainda não reportado para o bioma, demonstra o quanto estamos longe de um patamar minimamente satisfatório de conhecimento sobre a biodiversidade do cerrado”, afirma Reuber Brandão.

E destaca: “O que sabemos também é que os parque nacionais e outras unidades de conservação destinadas à proteção da biodiversidade são as únicas garantias indiscutíveis de proteção desse patrimônio e da sua perpetuidade”.

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Com a descrição da nova espécie, “o momento é de avaliarmos seu status de conservação (considerado até o momento como dados deficientes), buscarmos novas populações, encontrar o seu girino e gravar sua vocalização”. Ele pretende ainda descrever o perfil bioquímico da secreção de pele do anfíbio recém-descoberto e entender como as estruturas alongadas de seu crânio estão associadas à eventual inoculação de toxinas em suas presas. Como diria Guimarães Rosa, “Travessia”.

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