Imagem do Cristo da Paciência não está mais entre nós
Desaparecida de igreja mineira, peça barroca já ou pelas mãos de colecionadores de BH e São Paulo e está agora no Rio de Janeiro
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Busca de justiça, amor ao patrimônio, espera e paciência são palavras, ações e sentimentos que moradores de uma cidade mineira conhecem de cor e salteado, sem jamais desistir do seu objetivo. Hoje e sempre, o grande desejo da comunidade católica de Rio Espera, na Zona da Mata, é ter de volta a imagem do Cristo da Paciência ou Nosso Senhor da Paciência, atribuída ao mestre do Barroco, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814). Vendida em meados do século ado, a peça, que teria pertencido à Matriz Nossa Senhora da Piedade (já demolida), esteve nas mãos de um colecionador mineiro de obras de arte, depois em poder de um paulista, ambos falecidos, para, finalmente, integrar o acervo de uma instituição cultural privada do Rio de Janeiro.
A recente notícia de que o Cristo da Paciência está no Rio de Janeiro causou grande decepção aos moradores de Rio Espera, antigo Arraial da Espera, onde Aleijadinho viveu por uns tempos. E trouxe o temor de que o objeto de fé nunca mais volte ao local de origem. Na investigação do caso, que se encontra sub judice, o Ministério Público de Minas Gerais, via Coordenadoria das Promotorias Estaduais de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (PC), encontrou um documento comprovando que a Capela Nossa Senhora da Piedade tinha em seu acervo, em 1788, uma escultura do Senhor da Paciência. Eis um trecho incorporado à investigação da Promotoria: “Nesse ano, a peça foi mandada fazer pelos moradores, que solicitaram provisão para benzê-la e colocá-la no altar. A provisão foi concedida em 1793. Portanto, a origem da peça Cristo da Paciência tem fins devocionais. Foi mandada fazer com o propósito de integrar templo religioso de culto coletivo, edificado no município de Rio Espera, sendo procedente dessa edificação”.
Em 2017, por decisão judicial, a peça ou por perícia na superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em BH, com a presença de muitos especialistas de instituições estaduais e federais.
DIREITO CANÔNICO
O sumiço do Cristo da Paciência tem uma história espantosa. Durante a construção da atual matriz de Rio Espera, e mesmo depois do seu término, a peça teria ficado sob a guarda de uma família da cidade, que, mais tarde, por medida de segurança, a devolveu ao pároco local – e ele a depositou na casa paroquial. Após a devolução, a notícia é de que teria sido vendida. Em data não esclarecida, um colecionador pertencente aos quadros de uma construtora mineira tentou adquirir, na cidade, esculturas sacras, em especial a imagem da padroeira, Nossa Senhora da Piedade, também atribuída a Aleijadinho.
Na sequência, o Cristo da Paciência chegou às mãos do colecionador paulista, e, mais tarde, com o caso em investigação, à instituição cultural do Rio.
“Conforme o direito canônico, as peças pertencentes a igrejas, capelas e outros setores da Igreja jamais podem ser retiradas. São bens inalienáveis, portanto, intransferíveis, a não ser com autorização do papa”, ressalta um morador de Rio Espera, espantado com a comercialização de um bem cultural, espiritual e histórico de toda uma comunidade”.
MAIS LUZ SOBRE A POLÊMICA...
No último dia 3, publicamos aqui uma matéria sobre o projeto do arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), na década de 1960, para substituir o Palácio da Liberdade. Pesquisador da história mineira, o prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo, joga mais luz sobre o caso. ”Quem encomendou o projeto a Niemeyer foi Israel Pinheiro (1896-1973, governador de Minas de 1966 a 1971), que era muito amigo do arquiteto e havia trabalhado com ele em Brasília. Israel foi presidente da Novacap (Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil) e primeiro prefeito do Distrito Federal. Niemeyer não gostava dos estilos eclético e neoclássico, e propôs que o Palácio fosse substituído por uma torre moderna, alegando que a construção era precária.
...TORRE PARA O PALÁCIO DA LIBERDADE
Na verdade, conta Angelo Oswaldo, Israel Pinheiro havia pedido a Niemeyer um projeto para construção de um anexo ao Palácio da Liberdade. Houve uma discussão acalorada entre os dois, com o arquiteto dizendo que a então sede do Executivo mineiro ‘era um pastiche, não valia nada’. Ao que o governador respondeu: ‘Eu jamais demoliria o prédio em que morreu meu pai, João Pinheiro (1860-1908)’. Natural do Serro, João Pinheiro foi presidente de Minas, quando o posto ainda não era chamado de governador, e morreu de câncer no Palácio da Liberdade. “Diante da negativa do arquiteto de que ‘não faria mais nada’, Israel acabou construindo o Palácio dos Despachos, com projeto de Luciano Amédeé Péret (1928-2024), mais tarde primeiro diretor-executivo do Iepha-MG (1971-1979) e seu presidente (1979-1983).
Lagoa da Pampulha, em BH
PAREDE DA MEMÓRIA
No “espelho das águas” da Lagoa da Pampulha, em BH, há reflexos de um ado ligado aos esportes náuticos. Agora, neste verão de altas temperaturas, vale saber mais sobre a região reconhecida como Patrimônio Mundial e, claro, refrescar a memória. Na década de 1950, era comum a turma jovem se reunir ali para eios de esqui, canoa, barcos a vela e a remo, além de desfilar em lanchas. Naqueles tempos que já vão longe, e de águas limpas, os moradores gostavam de pescar (cenas ainda comuns) e fazer piquenique às margens do reservatório.
O cenário abrigou competições de torneios, a exemplo do Festival Internacional de Remo e Jogos Universitários Brasileiros. E, a reboque, muitos clubes de lazer se instalaram na região. O Pampulha Esporte Clube funcionou até a década de 1950, encerrando as atividades após o rompimento da barragem (1954). Os clubes de remo, por falta de local para a prática, logo bateram em retirada.
Após a recuperação da barragem e reinauguração da Lagoa da Pampulha, em 31 de janeiro de 1958, a Federação Universitária Mineira de Esportes instalou uma garagem de barcos na orla da lagoa. Algumas embarcações dos antigos clubes foram transferidas, permitindo, assim, a continuidade da prática do esporte. Nos anos 1960, as manhãs ainda eram movimentadas em ritmo de bossa nova: “...e o barquinho vai, e a tardinha cai...”
SERVIÇO COMPLETO
Está marcada para 8 de março a reabertura da Matriz Nossa Senhora Aparecida de Córregos, em Conceição do Mato Dentro. Tombada há 40 anos pelo Iepha-MG, instituição responsável pelos recursos disponibilizados para o restauro (provenientes de medida compensatória) e acompanhamento técnico, a igreja recebeu obras nas partes arquitetônica e de elementos artísticos. Quem visitar o templo, distante 24 quilômetros do Centro da cidade, poderá ver o esplendor do forro da capela-mor, que ressurgiu sob camada de tinta branca em primoroso restauro. Trabalho creditado ao artista Gonçalo Francisco Xavier e realizado durante sua permanência em Minas entre 1742 a 1775.
NOVA CONQUISTA
A comunidade de Bonfim festeja o retorno de dois castiçais ao Santuário Arquidiocesano Senhor do Bonfim. As peças estavam sendo oferecidas na internet e foram entregues, após denúncia, à Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (PC)/Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Investigações se basearam, entre outras fontes, no inventário dos bens da igreja elaborado na década de 1920, o qual relatava a existência de seis castiçais de madeira. No templo, havia apenas quatro. Assim, o objeto maior (46 centímetros de altura), faz par com outro existente no acervo, enquanto o menor (45,5 cm) compõe um conjunto com outros três. A entrega foi feita ao reitor do santuário, padre Sérgio Francisco Alves Filho.
MARIANA 360º
Criada há um ano, a Plataforma Mariana Cidade Interativa e Digital - Inovação no Turismo e Cultura de Mariana leva a descobertas sobre a primeira vila, cidade, capital e diocese do estado. Ela oferece eios virtuais em 360° e recursos interativos, num incentivo à exploração por moradores e visitantes, sob novas perspectivas, da cidade mineira nascida no Ciclo do Ouro. Além de ampliar o olhar sobre pontos turísticos, valoriza também distritos e suas expressões culturais únicas, gastronomia local, artesanato e cachoeiras. Realização do Memento Instituto. e marianacidadeinterativa.com.br