Velocidade e morte: o que vem fazendo avenida de BH virar corredor do medo
Imprudência e desastres fatais mostram escalada do perigo na Avenida Carlos Luz, um dos principais os à Pampulha, em BH. Total de acidentes subiu 55% em 1
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Siga noUm dos principais os à Região da Pampulha, a Avenida Carlos Luz vem chamando atenção por desastres graves que desde 1º de março causaram pelo menos duas mortes, evidenciando a escalada da violência no importante corredor de ligação com a Região Noroeste de Belo Horizonte e dela com o Centro. Segundo o de Acidentes de Trânsito da Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp), a quantidade de ocorrências aumentou 73% entre 2020 e 2024. A tendência se mantém em 2025, com 62 acidentes em janeiro e 65 em fevereiro, somando 127 em dois meses, média mensal superior à de 59 do ano ado, que bateu recorde no intervalo, com 709 acidentes.
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Ainda de acordo com o levantamento da Sejusp, o crescimento no número de ocorrências já era sentido entre 2018 e 2019, período em que a quantidade de desastres saltou de 514 para 701. Em 2020 o total caiu para 410, coincidindo com o início da pandemia de COVID-19. Já no ano seguinte, o acumulado de acidentes na via voltou a crescer, aumentando em 19% e chegando a 488. A partir daí, houve elevações significativas até 2024, quando o corredor bateu recorde de casos desde 2015. Nesse intervalo de 10 anos, o aumento foi de 55%.
Em 2025, a Carlos Luz aparece na 11ª posição entre as 29 avenidas de BH com maior número de acidentes, segundo o da Sejusp. Dos 127 casos registrados nos dois primeiros meses do ano, 113 não fizeram vítimas e 14 tiveram feridos sem gravidade, em colisões que envolveram principalmente carros (113), motos (19) e ônibus (9). Porém, no período ainda não contabilizado pelos dados oficiais, a partir de março, já houve pelo menos três ocorrências de maior gravidade, com duas pessoas mortas.
Conforme o levantamento da Sejusp, o trecho com maior número de acidentes na avenida nos dois primeiros meses do ano se localiza no Bairro Caiçara, na Região Noroeste, com 53 ocorrências. Em seguida vem o percurso próximo ao Câmpus UFMG, com 22. Em terceiro lugar ficam as imediações do Bairro Ouro Preto, na Região da Pampulha, com 18. Na região do Bairro São Luiz, também na Pampulha, onde ocorreu um acidente fatal na segunda semana de abril (7/4), foram contabilizados nove acidentes em 2025.
“Curva da morte”
No trecho apontado como o mais crítico da avenida, moradores e comerciantes do Bairro Caiçara acreditam que a situação foi agravada pela retirada de radares, especialmente na confluência da Rua Sargento Robson da Cruz, onde a movimentação intensa e a alta velocidade preocupam. Um dos trechos, localizado na esquina da avenida com a Rua José Benedito Antão, próximo ao Cemitério da Paz, tem sido chamado de “curva da morte” por moradores e comerciantes da região, em razão da frequência e da gravidade das ocorrências. Vendedora há quatro anos de uma floricultura vizinha, Larice Alves, de 34 anos, afirma que o risco no local aumentou depois que a fiscalização eletrônica foi retirada.
“Se pelo menos tivesse um radar aqui, eles não ariam nessa velocidade. Depois que tiraram, aumentou o número de acidentes”, diz. Ela relata que, por segurança, foram instaladas pedras na decoração da loja, que funciona no local há mais de 20 anos, para impedir que veículos invadissem o espaço. “Aqui tem hora que am uns carros que eu falo: 'Pronto, esse vai bater'. Muita velocidade. Um dia desses, tem mais ou menos seis meses, teve um acidente aqui. E teve outro de moto, a mulher era de aplicativo. Morreu aqui do lado”, relata.
“Colocar o radar de volta é um dever”
Dono de uma loja de autopeças há mais de 50 anos na Avenida Carlos Luz, Rogério Lúcio Lima afirma ser um dos principais prejudicados pela retirada do radar, já que o equipamento ficava bem próximo ao seu comércio, em uma área extensa de esquina. O comerciante relata que o trecho tem fama de perigoso entre os moradores. “Tinha acidente todos os dias. Uma vez, entrou um ônibus ali, bateu e machucou umas cinco ou seis pessoas. A gente está aqui dentro da loja, e quantas vezes já caiu carro aqui dentro? Isso aqui é uma curva perigosa. Esse poste aqui da frente já foi derrubado várias vezes. Toda semana precisavam trocar”, conta.
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A percepção é compartilhada por Edir Abrão, aposentado de 78 anos que vive na região há mais de três décadas. Ele garante que o cenário do trânsito mudou bastante ao longo do tempo. Lembra dos anos 1990, quando os acidentes eram frequentes e graves, mas pontua que a instalação do controle eletrônico de velocidade trouxe certa tranquilidade. “Quando colocaram o radar, diminuiu mesmo. Era difícil ter acidente. Mas depois que tiraram, voltou. Não está igual a antes, mas a velocidade aumentou muito”, diz. Para ele, reinstalar o equipamento é essencial: “Colocar o radar aqui de volta é um dever. A vida das pessoas está em risco.”
Segundo o aposentado, o trecho mais crítico é logo após a curva, onde os motoristas costumam perder o controle da direção. Além disso, ele relata que a via tem recebido mais veículos pesados, o que também contribui para a sensação de insegurança. “A questão dos caminhões, o fluxo é bastante intenso. Qualquer problema no (vizinho) Anel Rodoviário, eles começam a desviar para cá, e tem acontecido muito acidente. O barulho incomoda, mas o principal é o risco. Aqui tem dois sinais, um lá em cima e outro lá embaixo. O pessoal atravessa correndo”, afirma.
Pedestres em risco e marcas de batidas
Moradores e vizinhos da Carlos Luz relatam que muitos pedestres se arriscam ao atravessar a avenida em pontos inadequados, já que as faixas existentes ficam distantes umas das outras. A combinação de alta velocidade e travessias fora da área sinalizada contribui para aumentar a sensação de insegurança no local.
O morador Edir Abrão destaca ainda que o trecho apresenta diversos pontos com árvores quebradas ou outras marcas visíveis de acidentes. “Onde tem árvore quebrada, você pode saber que teve carro ali. Não é uma coisa esporádica, não. É sempre”, completa.
O radar da avenida, na altura da Rua Sargento Robson da Cruz, foi removido em setembro de 2023, em função do término do contrato vigente à época, segundo a Prefeitura de BH. De acordo com a BHTrans, o município está em processo de reinstalação dos equipamentos, dando prioridade aos locais considerados críticos com base no número de acidentes registrados pelas autoridades. Em nota, o órgão disse que o trecho da Avenida Carlos Luz “será reavaliado, segundo critérios de prioridades”.
Apesar da retirada do radar, a sinalização que indica a presença do equipamento permanece no local, o que pode gerar confusão para motoristas e risco extra entre aqueles que reduzem a velocidade no trecho e os que aceleram, sabendo não haver fiscalização.
Duas mortes em madrugadas
Segundo a Prefeitura de BH, a Carlos Luz registrou um fluxo de cerca de 1,9 milhão de veículos no último mês de março. Por dia útil, foram cerca de 37 mil veículos no sentido bairro/Centro e 40 mil no sentido contrário.
No mais recente acidente grave registrado na avenida, na madrugada do dia 7 deste mês, uma segunda-feira, uma pessoa morreu e duas ficaram feridas em um desastre na avenida, na altura do Bairro São Luiz, na Pampulha.
Conforme a Polícia Militar, o carro bateu na mureta de divisão da pista quando seguia no sentido Pampulha. Um homem de 25 anos morreu no local do acidente. Outros dois, de 22 e 32 anos, foram socorridos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e encaminhados para hospitais. O estado de saúde das vítimas não foi divulgado.
Já na noite de 31 de março, um carro capotou na mesma via, na altura do Bairro Caiçara, na Região Noroeste. O motorista teve ferimentos leves e foi socorrido por uma viatura do Samu e encaminhado ao pronto-socorro.
Na madrugada de 1º de março já havia ocorrido um acidente fatal, quando uma capotagem causou a morte de uma pessoa e deixou outra gravemente ferida. O carro seguia no sentido Pampulha e capotou sobre o canteiro central, deixando destroços pelo caminho.
O desastre ocorreu na altura do Cemitério da Paz, um dos trechos críticos da avenida, e o corpo da vítima ficou preso às ferragens do veículo, demandando intervenção dos bombeiros para ser removido.
* Estagiária sob supervisão do editor Roney Garcia
Porsche “sem tempo de frear”
No último mês de fevereiro, um Porsche 911 do influenciador André Victor, de 21 anos, se envolveu em uma batida que deixou cinco pessoas feridas na madrugada do dia 14, na altura do número 650 da Avenida Carlos Luz, no Bairro Caiçara. De acordo com a PM, o veículo de luxo estava em alta velocidade quando bateu em outro carro. Segundo a versão do condutor do Porsche, amigo do influenciador, um Renault entrou na via e ele não teve tempo de frear. O teste do bafômetro não foi realizado, pois policiais afirmaram que os envolvidos não apresentavam sinais de embriaguez, mas o motorista do Renault estava com a Carteira Nacional de Habilitação vencida.