BH ocupa 194º posição em ranking de cidades mineiras arborizadas
Levantamento do IBGE sobre o entorno dos domicílios revela que Minas Gerais está abaixo da média nacional em arborização urbana
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Siga noBelo Horizonte é popularmente conhecida como a “cidade jardim”, por suas praças e grande quantidade de árvores. No entanto, a capital mineira pode não ser tão arborizada quanto se imagina.
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A Pesquisa Urbanística do Entorno dos Domicílios, realizada pelo IBGE em 2022 como parte do Censo, analisou a presença de árvores nas quadras das cidades brasileiras. Belo Horizonte aparece em 7º lugar entre as capitais, com 73,3% dos moradores vivendo em locais com pelo menos uma árvore.
Em Minas Gerais, BH ocupa o 5º lugar entre as cidades da Região Metropolitana e está na 194ª posição entre os 853 municípios do estado. O ranking é liderado por Cachoeira Dourada (98,8%), no Triângulo Mineiro, seguida por Morro do Pilar (98,7%), na Região Central, e Ipiaçu (98,1%), também no Triângulo.
Na outra ponta, Ressaquinha, na Região Central, aparece como o município menos arborizado de Minas, com apenas 2,8% de cobertura nas quadras. Em seguida estão Alto Caparaó (3,7%) e Lamim (7,4%), ambas na Zona da Mata.
Em relação ao Brasil, Minas Gerais tem 64,3% dos moradores vivendo em quadras com pelo menos uma árvore, percentual abaixo da média nacional, que é de 66%. O estado ocupa a 14ª posição entre as 27 unidades da federação. Mato Grosso do Sul lidera o ranking, com 92,4%, enquanto Sergipe aparece na última colocação, com 38,6%.
Segundo Filipe Borsani, chefe do setor de pesquisas territoriais do IBGE, os dados são disponibilizados para que, além de permitir uma análise do país, sirvam de base para decisões do poder público e para informar a população sobre sua realidade, possibilitando a cobrança por melhorias.
“A função do IBGE é oferecer dados públicos e íveis a toda a população brasileira. À medida que coletamos essas informações sobre as cidades, esperamos que elas sejam utilizadas pelo poder público, pela sociedade civil e pela academia para entender os fenômenos urbanos e buscar melhorias na qualidade de vida”, afirma o geógrafo.
Qualidade de vida
A arquiteta e urbanista Branca Macahubas destaca que a presença de árvores nas ruas impacta diversos aspectos da vida urbana, como o conforto ambiental e térmico, além da qualidade do ar. Um ambiente mais arborizado também contribui para a estética da cidade e para a saúde mental da população: “A cidade cria outra vida. As árvores melhoram a ambiência como um todo”.
Macahubas ressalta a desigualdade na distribuição do verde em Belo Horizonte: de um lado, regiões que ainda preservam o ideal da “cidade jardim”; de outro, áreas desassistidas, onde as árvores são exceção. Ela observa ainda que a substituição das árvores suprimidas — seja por ações humanas ou por eventos naturais, como tempestades — costuma ser lenta e, em geral, ocorre em parques e praças, não nas ruas.
“BH é uma cidade partida quando se fala em arborização. O poder público até investe em larga escala em praças e parques — o que é positivo —, mas ignora a escala micro do cotidiano, deixando calçadas, ruas e quadras residenciais à margem. Sem arborização no dia a dia, o cidadão perde qualidade de vida e a cidade perde resiliência”, afirma a urbanista.
Investimentos em preservação
Ao Estado de Minas, a Prefeitura de Belo Horizonte enfatizou a importância das árvores na regulação do microclima e na manutenção da biodiversidade, com o objetivo de tornar os espaços públicos mais saudáveis e acolhedores.
“A arborização faz parte do DNA de Belo Horizonte. Ser reconhecida como ‘cidade jardim’ expressa não apenas nossa história, mas também nosso compromisso com a qualidade de vida, a justiça ambiental e o bem-estar coletivo”, afirmou o secretário municipal de Meio Ambiente, Gelson Leite.
Em março deste ano, Belo Horizonte foi eleita Tree City of the World (“Cidade Árvore do Mundo”, em tradução do inglês) pela Arbor Day Foundation e pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO/ONU). O projeto reconhece o compromisso das cidades em criar ambientes urbanos mais saudáveis por meio do plantio e da preservação de árvores.
A capital mineira é uma das 34 cidades brasileiras incluídas no programa, que exige o desenvolvimento de ações de plantio e educação ambiental. No cenário global, apenas 210 cidades, em 24 países, fazem parte da rede.
Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte, o município tem ampliado significativamente o plantio de árvores nos últimos anos. Em 2023, foram plantadas 24.830 mudas e, em 2024, já são mais de 40 mil plantios realizados em diferentes regiões da capital. A meta para 2025 é alcançar 50 mil novas mudas.
Além disso, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) pretende implantar um corredor verde na cidade e, a cada ano, criar pelo menos 20 mini florestas, com base em Soluções Baseadas na Natureza (SbN). Também estão previstas as implementações dos parques Ciliar do Onça e Aterro (futuro Parque Taiobeiras), além da execução da fase 2 do corredor verde da Avenida Antônio Carlos, com plantios em eios e canteiros.
“Estamos fortalecendo as ações de educação ambiental e a participação da sociedade civil organizada, porque entendemos que a preservação das árvores depende do engajamento de todos. O reconhecimento internacional com o título de Cidade Amiga da Árvore reforça que estamos no caminho certo”, afirma Gelson Leite.
O secretário destaca que entre os principais desafios para manter o título de “cidade jardim” estão o envelhecimento das árvores, os efeitos das mudanças climáticas e as exigências técnicas do manejo urbano.
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“Um dos maiores desafios é equilibrar o crescimento urbano com a preservação ambiental. Sempre fazemos questão de destacar um problema recorrente: a depredação e o vandalismo contra as mudas plantadas. Por isso, é fundamental que a população nos ajude, denunciando esses atos. Cuidar das árvores é cuidar da cidade”, conclui.