LUTO em Mariana

Morre uma referência de Bento Rodrigues

Filomeno da Silva tinha 92 anos, era atuante no distrito atingido por tragédia e ainda esperava receber a nova casa após o local ter sido destruído

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Ainda com esperança de voltar para casa. Foi assim que Filomeno da Silva, um dos atingidos pelo rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, morreu aos 92 anos. Nascido e criado em Bento Rodrigues, distrito afetado pela onda de rejeitos de mineração em 5 de novembro de 2015, ele morreu em decorrência de complicações de infecção urinária, que evoluiu para pneumonia, na madrugada da última terça-feira (27/5).

A história da família de Filomeno com a localidade começou muito antes da mineração chegar à região. Segundo Mauro Marcos da Silva, um dos filhos do quase centenário senhor, os anteados do pai eram escravizados que acompanhavam bandeirantes. Desde então, descendentes criaram famílias e história no local.

“Meu pai sempre teve um vínculo muito grande com Bento, jamais saiu de lá. Ele trabalhava na mineração, mas ia para a mina e voltava todo fim de semana”, conta Mauro, que atua na comissão de atingidos pelo rompimento da barragem.

Filomeno se aposentou em 1994, como supervisor de área, após trabalhar 38 anos em uma mineradora. A partir de então, se dedicou ao distrito: esteve à frente da fundação do time de futebol da comunidade, em 1951; assim como da Associação Comunitária e da Associação de Hortifrutigranjeiros.

O aposentado também se dedicou a continuar os os da família na manutenção de templos religiosos do distrito. “A única coisa que preocupou o meu pai quando teve o rompimento da barragem foram os bens da igreja, principalmente as imagens sacras. Ele tinha feito um cômodo secreto onde ficavam guardadas as imagens de maior valor, de madeira e banhadas a ouro. Ele dizia: ‘A casa não tem problema’”, conta Mauro.

 Logo após o rompimento da barragem, Filomeno ou por depressão. Sua família acredita que a doença foi provocada pelo abalo do desastre. Desde então, o idoso sofreu uma série de problemas de saúde, como infartos, arritmias e pneumonias.

“De lá para cá, mesmo com as limitações, ele sempre teve a esperança de ter a casa no Novo Bento, embora ele falasse que a casa não era dele porque ele só considerava sendo dele se ele tivesse ajudando a fazer. (...) Algumas pessoas, com medo de não alcançar nenhuma reparação, aceitaram o que a empresa oferecia. E ele falava que trabalhou ao longo da vida para ter algum conforto na velhice. E dizia que não estava precisando do dinheiro com urgência e, por isso, não aceitaria menos do que o justo. ‘Eu não quero além, mas também não quero a menos’, dizia ele”, relembra.

Apesar de ainda estar sem suas jabuticabeiras e os acabamentos, Filomeno chegou a visitar algumas vezes o imóvel que tanto esperou. Mas não viveu para ver a família reassentada.


Segundo Mauro, que levou o pai ao local em algumas ocasiões, a visita o deixava nervoso e inquieto. “Ele gostava de ir mesmo era no Bento original. Mesmo destruído, nosso grupo de pertencimento, chamado Loucos por Bento, todo fim de semana está lá. (...) Ele falava que o Bento mesmo destruído pelo rompimento da barragem continuava sendo o melhor lugar e que não abria mão de ser enterrado lá. E uma coisa que ele morreu angustiado é o fato do rejeito ainda estar no território e no imóvel dele”, desabafa.

Indenizações

O prazo final para adesão ao Programa Indenizatório Definitivo (PID), destinado a pessoas físicas e jurídicas impactadas pelo rompimento da barragem de Fundão, foi prorrogado até 4 de julho. A data é considerada improrrogável pela Samarco, responsável pela execução do Acordo de Reparação da Bacia do Rio Doce. O prazo se encerraria na última segunda-feira (26/5).

Conforme a Samarco, o PID prevê pagamento de R$ 35 mil, de forma individual, a atingidos que atendam aos critérios de elegibilidade definidos no acordo, homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo a mineradora, o modelo foi adotado para simplificar e agilizar o pagamento das indenizações.

Até o momento, mais de 255 mil requerimentos foram feitos, com taxa de validação superior a 90%. Também foram assinados mais de 60 mil termos de quitação, e cerca de 31 mil pagamentos já foram realizados – eles são feitos até 10 dias após a homologação do acordo individual, segundo a mineradora.

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Os reassentamentos coletivos de Novo Bento Rodrigues e Paracatu seguem em fase final. A Samarco afirma que 93% dos imóveis previstos foram entregues ou indenizados, e 95% dos equipamentos públicos – como escolas e unidades de saúde – já estão em funcionamento. A previsão é que todas as obras iniciadas antes da homologação sejam concluídas até o fim de 2025.

“As obras que tiveram seus projetos definidos após o Acordo serão entregues posteriormente, conforme prazos estabelecidos no processo”, informa a Samarco.

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