Sinal verde para restauração do Juquinha
Serviço, que será patrocinado pela mineradora Anglo American, vai começar no segundo semestre e ficará a cargo da criadora da obra, Virgínia Ferreira
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Siga noApós muitos anos de expectativa – e de temor diante da degradação –, a famosa estátua do Juquinha, na Serra do Cipó, na Região Central de Minas, vai ser finalmente restaurada. O Conselho Municipal de Patrimônio Cultural e a Prefeitura de Santana do Riacho aprovaram o projeto cuja execução será iniciada no segundo semestre. Para garantir maior fidelidade ao original, o serviço será feito pela artista plástica Virgínia Ferreira, criadora da escultura.
Instalada em 1987 na área conhecida por Alto Palácio, a cerca de 110 metros da margem da rodovia MG-010, a escultura homenageia o andarilho José Patrício, mais conhecido como Juquinha. Ele viveu na região até 1983, ano de sua morte. Quem a na localidade, distante 120 km de Belo Horizonte, não deixa de irar o monumento considerado “sentinela” da Serra da Cipó e de boas-vindas ao paraíso de cachoeiras e uma das áreas mais turísticas do estado.
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A primeira fase do trabalho patrocinado pela Anglo American consistirá em diagnóstico detalhado das condições estruturais da escultura, com atenção especial às rachaduras e outros danos. Em seguida, serão realizados os serviços de limpeza, tratamento de ferrugem, substituição de partes comprometidas, execução de obturações, nivelamentos e modelagem. O projeto prevê também a documentação e o registro de todo o processo de restauração, por meio de fotografias e de relatórios descritivos.
As atividades têm previsão de término ainda em 2025. Durante o período de restauro, as visitações ao local não serão suspensas.
“O Juquinha é um guardião da Serra do Cipó e sua história é transmitida de geração em geração. Além do apelo turístico, a estátua representa para os moradores locais um símbolo de identidade e harmonia com a natureza. Acreditamos que essa obra de restauro deixará um legado positivo para toda a região, em linha ao nosso propósito de ‘reimaginar’ a mineração para melhorar a vida das pessoas”, diz a coordenadora de Desenvolvimento Sustentável da Anglo American, Claudiana Souza.
Já Virgínia Fonseca celebra essa nova etapa do seu trabalho: “Esta obra figurativa, pela arte que apresenta e sua localização, vem crescendo como representativa da proteção das montanhas de Minas Gerais há décadas. Glórias ao nosso Pai por sua restauração”.
"A restauração do Juquinha é de suma importância para nossa cidade, a região e todo o estado. Vamos acompanhar o trabalho juntamente com o Ministério Público de Minas Gerais, e, para evitar atos de vandalismo, foram colocadas câmeras de segurança no local", diz o prefeito de Santana do Riacho, Fernando Burgarelli. Lembrando que a preservação do monumento se tornou possível graças à compra do terreno pela Anglo American, Burgarelli reiterou que o Juquinha é um atrativo turístico como também um bem cultural reconhecido pelo município.
COMPENSAÇÃO AMBIENTAL
No fim de 2020, a Anglo American comprou a área onde está a estátua do Juquinha como compensação ambiental referente às atividades do empreendimento minerário Minas-Rio, localizado em Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas, na Região Central do estado. A mineradora informa que, entre as ações de melhoria já realizadas por ela no local, se encontra a instalação do sistema de monitoramento eletrônico 24h, em atendimento ao Termo de Acordo Positivo (T) assinado entre Ministério Público de Minas Gerais e Anglo American. Além das obras de restauração, estão previstas sinalizações com placas para orientação dos visitantes e promoção de atividades de educação socioambiental.
A estátua do Juquinha é tombada pelo município de Santana do Riacho e faz parte da Rota Estrada Cênica da Cordilheira do Espinhaço, iniciativa da Anglo American, do Governo de Minas Gerais e de onze cidades da região que visa reconhecer e valorizar o potencial turístico do Médio Espinhaço mineiro. A rota tem o objetivo de interligar atrativos naturais, culturais, históricos e gastronômicos em uma extensão de cerca de 250km.
SORRISO MINEIRO
A imagem do Juquinha, com seu sorriso, está bem viva na cabeça da escultora Virgínia Ferreira, nascida em Conceição do Mato Dentro e formada na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA/UFMG). “Era um homem do mundo, um andarilho, por isso a escultura foi instalada num ponto de intercessão entre Santana do Riacho, Conceição do Mato Dentro e Morro do Pilar”, contou Virgínia ao EM, afirmando que via em Juquinha “uma pessoa ingênua".
Idealizada, na década de 1980, pelos ex-prefeitos de Conceição do Mato Dentro (Sebastião Soares dos Santos) e de Morro do Pilar (Clério Lima), a peça ganhou contornos pelas mãos de Virgínia, então recém-formada e com especialização em escultura. Durante um ano, a artista trabalhou na Serra do Cipó. Para modelar, foram necessários dois caminhões de argila, doados pelas prefeituras, e usada uma fôrma de gesso com 26 partes. A montagem foi no próprio local.
Em 2019, a Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais, que reúne 35 municípios, encaminhou um dossiê ao Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) para tombamento do Juquinha, que tem 3 metros de altura. Um dos pontos citados era que ele “estava bem judiado, com um dedo quebrado, e seria fundamental a ação do estado para protegê-lo, evitar maiores danos e garantir a manutenção". Na época, o então prefeito de Santana do Riacho, André Ferreira Torres, queria aliar o tombamento estadual à desapropriação da área que recebeu a escultura em 1987, três anos após a morte, aos 70 anos, do homem batizado José Patrício.
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Em abril de 2019, em entrevista ao Estado de Minas, Torres explicou que havia uma disputa entre herdeiros da propriedade particular na região em que ficava a estátua, mas já tinha conversado com um deles, dono de um restaurante, e pedido para não vedar a visitação dos turistas. No ano seguinte, a questão foi resolvida com a compra da área pela mineradora.