Formada pela UFMG, atua no jornalismo desde 2014 e tem experiência como editora e repórter. Trabalhou na Rádio UFMG e na Faculdade de Medicina da UFMG. Faz parte da editoria de Distribuição de Conteúdo / Redes Sociais do Estado de Minas desde 2022
Cardeais comparecem à cerimônia fúnebre do falecido Papa Francisco na Praça de São Pedro, no Vaticano crédito: Filippo MONTEFORTE / AFP
Após se despedir do papa Francisco, a Igreja Católica se prepara para escolher seu novo líder. O processo se dá por meio de uma votação – o conclave. Enquanto as expectativas crescem, é impossível não lembrar de outros momentos históricos em que o futuro da Igreja foi decidido — às vezes, em pouquíssimo tempo. Um dos exemplos mais impressionantes é o conclave que elegeu o Papa Júlio II no século XVI, considerado o mais curto da história.
Em 1503, o cenário dentro e fora do Vaticano era de extrema tensão. O Papa Pio III havia morrido após apenas 27 dias de pontificado, deixando os cardeais ansiosos para escolher um sucessor que não estivesse atrelado aos interesses da monarquia sa, como havia acontecido anteriormente.
Foi nesse ambiente que o cardeal Giuliano della Rovere se destacou como o candidato perfeito para grande parte do Colégio de Cardeais. Dono de uma rede de alianças firmadas por promessas e favores políticos, ele já contava com forte apoio, inclusive de figuras influentes como César Bórgia, filho do papa Alexandre VI.
A morte do Papa Francisco fez o Vaticano entrar no chamado período de Sé Vacante, quando a Igreja Católica realiza os ritos funerários e se prepara para o conclave, o processo de eleição do novo pontífice.
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O conclave é organizado pelo camerlengo, responsável pelos bens e tesouros da Santa Sé e que também é o encarregado de liderar o funeral do papa. O cargo é ocupado atualmente pelo cardeal irlandês Kevin Farrell.
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O conclave para escolher um novo Papa é um dos processos mais antigos, rígidos e secretos do mundo. Ele acontece desde o século 13.
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Ele ocorre quando um papa morre - como na sucessão de João Paulo II para Bento XVI - ou renuncia - a exemplo da última mudança, com Bento XVI dando lugar a Francisco.
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A palavra Conclave vem do latim “cum clavis”, que significa “fechado à chave”, o que dá a medida do sigilo com que é tratado o processo.
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Nele, cardeais do mundo inteiro se reúnem em assembleia e ficam isolados do mundo. O princípio é de que não estejam sujeitos a influências e pressões. O voto é secreto.
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Os cardeais entram em conclave entre no mínimo 15 e no máximo 20 dias após a morte ou renúncia do Papa. Reprodução do Youtube
Como a morte do Papa Francisco aconteceu em 21 de abril, o conclave precisa ter início entre os dias 6 e 11 de maio.
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A eleição acontece dentro da Capela Sistina, localizada no Palácio Apostólico, a residência oficial do Papa, no Vaticano.
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As regras vigentes no conclave, como a composição do colégio eleitoral, foram definidas durante o pontificado de Paulo VI, em 21 de novembro de 1970. Reprodução de Youtube
O número máximo de cardeais participantes do processo é 120, com idade máxima de 80 anos, e todos juram segredo sobre o processo. Reprodução do Youtube
Os 120 cardeais podem ser votados, porém não podem votar em si mesmos. Também é permitido votar em cardeais que estejam fora da assembleia.
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Os cardeais devem escrever o nome do seu candidato em uma cédula e depositá-la na urna. Após o processo, as cédulas são queimadas. Reprodução do Youtube
Para ser eleito Papa é preciso ter dois terços dos votos de toda a assembleia. Ou seja, um mínimo de 80 votos.
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Ao fim da votação, os cardeais despejam um produto químico na fumaça que sai da chaminé da capela. Caso seja preta, a votação segue para uma nova rodada. Se ela for branca, significa que o novo Papa já foi escolhido.
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Cabe ao protodiácono fazer o anúncio oficial na sacada da basílica de São Pedro. Ele solta a famosa expressão “Habemus Papam!” (“Temos um Papa”).
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O processo de escolha de um novo papa foi o tema do filme â??Conclaveâ?, produção indicada a 9 Oscars na cerimÃŽnia deste ano, incluindo Melhor Filme, mas que levou a estatueta apenas de Melhor Roteiro Adaptado.
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Com direção de Edward Berger (“Nada de Novo no Front”, de 2022), o longa-metragem é uma adaptação de best-seller homônimo escrito por Robert Harris, lançado em 2016.
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Na trama, o cardel Lawrence, vivido por Ralph Fiennes ("O Jardineiro Fiel" e "O Paciente Inglês"), é quem conduz o conclave para a escolha do novo pontífice após a morte súbita do então líder mundial da Igreja Católica. Divulgação
Os bastidores da disputa, com conversas nos corredores do Vaticano e as articulações políticas na disputa de poder, são o cerne do filme, aliando mistério e tradição, em uma espécie de thriller eclesiástico.
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O elenco de “Conclave” tem ainda Stanley Tucci (“Um Olhar do Paraíso”), Isabella Rossellini (“Veludo Azul”), John Lithgow (“Dexter”) e Sergio Castellito (“Não se Mova”).
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O conclave começou no dia 4 de março, mas antes de começar a votação, os cardeais gastaram dias em Congregações diárias para elaborar as chamadas Capitulações — uma lista de regras e limites que o futuro papa deveria obedecer. Era uma tentativa de controlar o poder papal, impondo compromissos como a realização de concílios regulares, a limitação de nomeações familiares e a preservação da sede da Cúria em Roma.
A votação propriamente dita começou no dia 10 de março, após as leituras protocolares. No primeiro escrutínio, Medici – que ficou encarregado da contagem das cédulas – recebeu apenas um voto. Mas tudo mudou no segundo escrutínio.
Fiéis comparecem à cerimônia fúnebre do Papa Francisco na Praça de São Pedro, no Vaticano Tiziana FABI / AFP
Carregadores levam o caixão do Papa Francisco dentro da Basílica de São Pedro, no final da missa da cerimônia fúnebre Tiziana FABI / AFP
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva e sua esposa, a primeira-dama , Rosangela Lula da Silva Alberto PIZZOLI / AFP
(1ª FILEIRA - DA E PARA A dir.) O presidente dos EUA, Donald Trump, e sua esposa, Melania Trump, o presidente da Estônia, Alar Karis, o rei da Espanha, Felipe VI, (2ª FILEIRA) O presidente da Polônia, Andrzej Duda, e sua esposa, Agata Kornha-Duda, o presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr., e a primeira-dama, Liza Araneta Marcos
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O cardeal italiano Giovanni Battista Re abençoa o caixão do Papa Francisco Tiziana FABI / AFP
O cardeal italiano Giovanni Battista Re abençoa o caixão do Papa Francisco AFP
Cardeais comparecem à cerimônia fúnebre do falecido Papa Francisco na Praça de São Pedro, no Vaticano Filippo MONTEFORTE / AFP
Mulher chora em último adeus ao papa Piero CRUCIATTI / AFP
Participantes, líderes mundiais, membros da realeza e membros do clero no funeral do papa AFPAndreas SOLARO / AFP
Gárgula observando a cerimônia fúnebre do Papa Francisco na Praça de São Pedro Filippo MONTEFORTE / AFP
Fiéis choram a morte do papa Isabella BONOTTO / AFP
Membros do público seguram uma faixa com os dizeres "Muito humano" Alberto PIZZOLI / AFP
Pessoas se reúnem na Via della Conciliazione durante a cerimônia fúnebre do Papa Francisco, perto do Vaticano HENRY NICHOLLS / AFP
Voluntário acende uma vela no memorial do Papa Francisco durante o funeral do pontífice JEFF PACHOUD / AFP
Freiras esperam sob uma faixa com a inscrição em italiano "Obrigado, Francisco" durante a cerimônia fúnebre do papa, no centro de Roma Piero CRUCIATTI / AFP
Carregadores levam o caixão durante a cerimônia fúnebre na Praça de São Pedro Filippo MONTEFORTE / AFP
Pessoas se reúnem ao longo da Via dei Fori Imperiali enquanto o caixão do Papa Francisco é transportado da Basílica de São Pedro para a Basílica de Santa Maria Maggiore AFPDamien MEYER / AFP
Fiéis se reúnem ao longo do trajeto enquanto o caixão do Papa Francisco é transportado da Basílica de São Pedro para a Basílica de Santa Maria Maggiore no papamóvel Piero CRUCIATTI / AFP
Fiéis tiram fotos com seus celulares do caixão enquanto papa é transportado de papamóvel da Basílica de São Pedro para a Basílica de Santa Maria Maggiore HENRY NICHOLLS / AFP
Fiéis assistem agem do caixão do papa Piero CRUCIATTI / AFP
Fiéis se despedem do papa Francisco Piero CRUCIATTI / AFP
Fiéis se reúnem ao longo do trajeto enquanto o caixão do Papa Francisco é transportado da Basílica de São Pedro para a Basílica de Santa Maria Maggiore no papamóvel Piero CRUCIATTI / AFP
Fiéis se reúnem ao longo do trajeto enquanto o caixão do Papa Francisco é transportado da Basílica de São Pedro para a Basílica de Santa Maria Maggiore no papamóvel Piero CRUCIATTI / AFP
Pessoas carentes seguram rosas brancas enquanto o caixão do Papa Francisco chega para ser enterrado na Basílica de Santa Maria Maggiore Stefano Costantino / AFP
Cortejo leva Francisco à Basílica de Santa Maria Maggiore Piero CRUCIATTI / AFP
Carregadores levam o caixão do falecido Papa Francisco para a Basílica de Santa Maria Maggiore, seu local de descanso final Stefano Costantino / AFP
Cortejo leva Francisco à Basílica de Santa Maria Maggiore Piero CRUCIATTI / AFP
Corpo de Francisco chega à Basílica de Santa Maria Maggiore Piero CRUCIATTI / AFP
Caixão de Francisco antes de entrar na Basílica de Santa Maria Maggiore Piero CRUCIATTI / AFP
O caixão do Papa Francisco levado por carregadores até a Basílica de Santa Maria Maggiore AFP
Carregadores levam o caixão do falecido Papa Francisco, seguidos por membros do clero Andreas SOLARO / AFP
Com as alianças firmadas e os votos praticamente garantidos, Giuliano della Rovere foi eleito por unanimidade em apenas algumas horas — um feito raríssimo na história da Igreja. Assim, assumiu o nome de Papa Júlio II, conhecido depois como o "Papa Guerreiro", por seu perfil combativo e por fortalecer o poder temporal do papado.
Antes de ser papa
A ascensão de Júlio II foi precedida por uma longa história de rivalidades e intrigas. Anos antes, no conclave de 1492, Giuliano della Rovere viu seu adversário Rodrigo Bórgia ser eleito como papa Alexandre VI, após um acordo secreto e uma vitória esmagadora.
Derrotado, Della Rovere se exilou e buscou apoio no exterior, inclusive incentivando o rei francês Carlos VIII a intervir nos assuntos italianos. A oportunidade de revanche veio apenas anos depois, com a morte de Alexandre VI e, posteriormente, de Pio III.