Missa para milhares de fiéis marca início do papado de Leão XVI
Pontífice conduz cerimônia na praça São Pedro com estimativa de público de 250 mil, sob expectativa de como lidará com a herança de Francisco
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Siga noROMA E MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) - Dez dias após ser eleito, Leão XVI celebra neste domingo (18), na praça São Pedro, a missa que marca oficialmente o início de seu papado. Cerca de 250 mil fiéis são esperados para a cerimônia, além das delegações de 144 países e de diversas organizações internacionais. A dimensão se assemelha ao funeral de Francisco, o antecessor que deixa ao novo pontífice uma série de desafios na condução da Igreja.
Os representantes dos dois países cujas nacionalidades o papa detém - Estados Unidos e Peru - terão posição de destaque na cerimônia. Os peruanos estarão representados pela presidente, Dina Boluarte, e a Casa Branca enviou seu vice, J. D. Vance, e o secretário de Estado, Marco Rubio.A imprensa italiana especulou uma reunião bilateral entre Leão XVI e Vance, o que não foi confirmado até a noite deste sábado (17). A chegada da comitiva dos EUA parou o trânsito nas ruas do centro de Roma. Um forte esquema de segurança acompanhou o comboio de 15 veículos.
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Outra presença destacada é a do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, que já estivera no funeral de Francisco. Naquela ocasião, encontrou-se com o presidente dos EUA, Donald Trump.
Pelo Brasil, o representante desta vez será o vice-presidente, Geraldo Alckmin.
Um dos momentos mais aguardados da missa deste domingo é a homilia. O discurso de Leão XVI pode ser um sinal de como vai lidar com a herança de Francisco. Alguns dos temas que o pontífice terá de enfrentar estão listados a seguir.
Número de fiéis
Há 1,4 bilhão de católicos no mundo, mas a dinâmica de crescimento é desigual. Enquanto o número avança bastante na África, com alta de 3,3% de 2022 para 2023, na Europa a situação é preocupante, com crescimento de apenas 0,2% no período. Na Alemanha, o país europeu mais populoso, o quadro é dramático: 320 mil deixaram a Igreja em 2024, segundo a conferência de bispos.
Padres e religiosas
A quantidade de sacerdotes, seminaristas e religiosas exige atenção. O ano de 2023 fechou com 734 padres a menos em todo o mundo, queda de 0,2% em um ano - entre os continentes, houve alta na África e na Ásia e queda na Europa e nas Américas. Entre seminaristas, queda global de 1,8%. O número de religiosas professas, como freiras, caiu 1,6%.
Igreja unida
Entre alas do clero, o papado de Francisco acumulou críticas. Não só devido a temas divisivos, como a bênção a casais homossexuais, mas também por um modo de governar considerado solitário. Nos EUA, conservadores apontaram o risco de cisma por causa do sínodo finalizado em 2024. Americano, Leão XVI terá de construir pontes, a começar dentro da própria casa.
Nos EUA
O desafio do papa americano é esfriar os ânimos entre o governo Donald Trump e o Vaticano. Em janeiro, Francisco chamou de "desgraça" o plano de combate à imigração, e o próprio Leão XVI, antes de virar papa, criticou o vice J. D. Vance por questões religiosas. Nessa tarefa, terá que lidar com a expectativa da oposição, que espera o reforço do papa na frente anti-Trump.
Diplomacia da paz
O novo papa deixa claro que essa é uma prioridade, mas seu desafio é encontrar o tom certo no pós-Francisco. O argentino foi acusado de nem sempre tratar a Rússia como agressora, forçando uma equidistância entre Moscou e Kiev. Francisco também se referiu ao conflito em Gaza como genocídio e viu deteriorar as relações da Santa Sé com o mundo judaico.
Na China
As relações entre o país asiático e o Vaticano melhoraram desde 2018, graças ao acordo sobre a nomeação de bispos. O acerto, cujo teor não é conhecido totalmente, é criticado por parte do clero, que vê excessivo poder concedido ao regime chinês.
Finanças e istração
Apesar de esforços de Francisco de cortar gastos, as contas do Vaticano estão no vermelho. Em 2023, ano dos relatórios mais atualizados, a Cúria fechou com déficit operacional de 83 milhões (R$ 524 milhões). Na Previdência, o rombo é de 600 milhões (R$ 3,7 bilhões). Iniciada por Francisco, a reforma do braço istrativo da Santa Sé é outro desafio para Leão XVI, sob risco de resistência interna.
Progressistas
Com Francisco, houve mais abertura para a comunhão dos divorciados, a bênção de casais homossexuais e a nomeação de mulheres em cargos de governança do Vaticano. Progressistas esperavam mais, como o sinal verde para o diaconato feminino. Agora, devem observar os os de Leão XVI nesses temas.
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Ação contra abusos
A pressão para agir contra abusos sexuais do clero será ainda maior. A comunidade católica dos EUA é bastante sensível ao tema, com associações de vítimas ativas e vigilância de doadores a instituições de caridade. Francisco tentou implementar política de tolerância zero e mecanismos para denúncias, mas não solucionou o problema.