Em maio de 2022, dois meses após assumir a Prefeitura de Belo Horizonte, Fuad Noman era desconhecido para boa parte da população da capital mineira. Pouco se sabia também dos dotes literários do prefeito. Escritor não, “escrevedor”, foi como ele se apresentou para a plateia que o assistiu, em 21 de maio daquele ano, na Bienal Mineira do Livro, no BH Shopping.

“Plantei minha primeira árvore quando estava no jardim de infância. Estudava na Rua Espírito Santo e, se a árvore ainda existir lá, deve estar velha. Tive dois filhos. Já contava minhas histórias, mas as guardava”, disse Fuad naquela tarde de sábado ao seu interlocutor, o jornalista Chico Maia.

Naquela altura, tinha dois romances publicados, os dois independentes, bancados pelo próprio autor. O primeiro, “O amargo e o doce” (2017), era uma ficção que partia das próprias memórias de Fuad. Narra as desventuras de Cadim, jovem do interior que chega a BH e começa a trabalhar como garçom no Tizé, tradicional bar em Lourdes da família do próprio Fuad.

O pai do prefeito, também Fuad Noman, foi garçom antes de abrir seu próprio restaurante, a Taberna Azul, que fez história na cidade na segunda metade do século 20. O segundo romance, “Cobiça” (2020), não havia tido um lançamento, pois a noite de autógrafos fora programada justamente para a semana que teve início o período de isolamento decorrente da pandemia.

“Cobiça” faz um movimento inverso ao de “O amargo e o doce”. A narrativa parte de Sueli, jovem que, ao receber uma mensagem numa rede social, viaja para o interior de Minas para descobrir a história de sua família.

 

ARMA POLÍTICA 

No encontro na Bienal onde "Cobiça" foi debatido, não dava para imaginar que dois anos mais tarde o livro se tornaria arma política. Em outubro de 2024, na reta final da campanha para o segundo turno, “Cobiça” voltou à ordem do dia. Seu então adversário, Bruno Engler (PL), foi a público afirmando que o romance era um livro erótico em que o prefeito relatava um estupro contra uma adolescente de 12 anos.

Em decisão, a Justiça Eleitoral obrigou a campanha de Engler a remover propaganda atacando o livro. Mas o candidato chegou a divulgar em seu site parte do romance. Em sua defesa, Fuad sempre afirmou que o texto era ficcional, e que a cena descrita era “um alerta sobre a sociedade que maltrata crianças".

Em encontro com jornalistas logo após votar, no Colégio Decisão, em Lourdes, no segundo turno (27/10), Fuad, muito bem-humorado, disse que a polêmica levantada pelo adversário aumentou o interesse por “Cobiça”, cuja primeira edição havia sido esgotada (o livro está disponível somente por e-book). Planejava uma nova edição do romance.

A intensa atividade pública não o impediu de continuar escrevendo. Em 2022 lançou seu terceiro livro, “Marcas do ado”, que também trata de violência e abuso contra a mulher, no caso Dirce, a protagonista, que tenta recomeçar e apagar os fantasmas que a perseguem. Com uma pegada policial, o livro começa com um estupro.

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Fuad era um leitor voraz. Como autor, não perdia tempo. “Tem autor que gasta duas, três páginas para descrever um ambiente. Eu me canso com isso. Acho melhor deixar para o leitor a capacidade de descobrir como são os personagens e locais. Dessa maneira, o leitor começa a construir sua própria história.”

Em 29 de outubro, logo após vencer as eleições, Fuad falou ao Estado de Minas que entre seus projetos futuros estava escrever o quarto livro. “Sou um contador de histórias. E tenho muitas para contar.”

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