'Nunca tive medo, agora tenho', diz brasileira em universidade nos EUA
Brasileira trabalha em universidade na Califórnia e é naturalizada americana desde 1996, mas, ainda assim, teme ser perseguida pelo governo Trump
compartilhe
Siga noO clima no ambiente universitário dos EUA mudou muito desde que Donald Trump assumiu seu segundo mandato na Casa Branca. Sob seu comando, o governo federal vem cortando investimentos nas universidades e mirando estudantes imigrantes. Funcionária da Universidade do Sul da Califórnia (USC) desde 2023, a brasileira Renata (nome fictício) relata um cenário de tensão constante. Para preservá-la, a "Folha" omitirá seu nome verdadeiro e cargo na instituição. Naturalizada americana desde 1996, ela diz que pela primeira vez teme ser perseguida pelo governo.
Manifestantes pró-Palestina protestam em frente ao campus da Universidade do Sul da Califórnia (USC), em 7 de maio de 2024, em Los Angeles. A imagem mostra um grupo de pessoas participando de um protesto. No primeiro plano, uma pessoa está de costas, vestindo uma bandeira da Palestina. Ao fundo, há um orador e várias pessoas segurando cartazes com mensagens de protesto. O ambiente é urbano, com árvores e edifícios visíveis. Leia abaixo seu depoimento.
Leia Mais
"Antes de Trump, o clima na USC era bom, normal. 'College life.' Mas já tinha acontecido uma mudança grande.
- Meirelles: Trump impõe ineficiência ao mundo com custo maior para os americanos
- Ministro dos Portos vê oportunidade no tarifaço de Trump
- Trump pretende fechar escritório da embaixada dos EUA em Belo Horizonte
Durante os protestos [de abril e maio de 2024, contra a guerra em Gaza], eles [a istração da faculdade] fecharam o campus, que era público e aberto a todos. Colocaram guardas em todas as entradas para verificar a identidade dos visitantes. Desde então, o campus nunca mais foi aberto.
Os protestos eram pacíficos, pró-Palestina. Houve alguns poucos incidentes de vandalismo, mas, que eu saiba, na maioria foram tranquilos. Os estudantes estavam acampados num gramado na área central do campus e receberam notificação para sair, ou seriam presos. Eles saíram.
As pessoas com quem eu trabalho acharam a resposta da universidade um exagero. Tinha guarda em tudo quanto é lugar, fila para entrar, ficou completamente draconiano. Foi desproporcional. A gente viu o que aconteceu na [Universidade] Columbia [policiais entraram no campus para desmantelar as manifestações].
No meu departamento, a maior parte da equipe é contra o Trump. Todo mundo ficou horrorizado quando ele ganhou a eleição.
Especialmente agora, aqui qualquer protesto pode ser visto como uma coisa nefasta pelo governo. Então está todo mundo com medo. Em geral, o medo é de perder os fundos federais, medo de perder vistos. Os alunos temem perder grants [bolsas para estudar] e dinheiro para pesquisa.
Os professores querem resistir, mas também não querem perder suas pesquisas. Então estão aceitando as mudanças, embora com muita raiva. A gente tem as reuniões, e nelas todo mundo fala em resistir, mas a resistência é quieta. Assim: deleta tudo do site, mas continua fazendo [os estudos que podem desagradar à gestão Trump].
Os professores basicamente vão continuar usando os princípios do DEI [políticas de diversidade, equidade e inclusão]. Mas não pode falar mais sobre isso, não pode usar nenhuma palavra que possa ter qualquer menção ao DEI. Sumiram. Eles apagaram tudo, está tudo muito esquisito.
A "vibe" aqui está muito ruim. Não só na universidade, no país todo. Se a universidade perder o apoio financeiro federal, vai ter que cortar gastos. Como mulher e imigrante naturalizada, tenho medo de perder o emprego.
Uma colega de 70 anos, indiana, recebeu uma carta da Seguridade Social, o sistema que lida com benefícios de aposentadoria, pedindo que ela enviasse os originais de seus documentos de naturalização.
Ela é assistente istrativa e está nos EUA desde jovem. Trabalha na USC há 45 anos, naturalizou-se há 40 e tantos anos. Foi levar pessoalmente. Ficou tudo bem, mas isso foi muito estranho, porque eles nunca pediram esse documento."
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia