CONGRESSO

O país do ‘BBB’: livro expõe estratégias do conservadorismo

"A lei da bala, do boi e da Bíblia" convida a refletir sobre as influências que discursos autoritários têm exercido na política institucional e na sociedade

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A expansão da ideologia conservadora na política brasileira encontra lastro desde o final do Império e a criação da República, mas é no início do século 21 que os atores desse campo aram a se organizar em grupos e a exercer dominância sobre os mais variados debates.

O livro “A lei da bala, do boi e da Bíblia: Cultura democrática em crise na disputa por direitos” (Tinta da China Brasil), publicado no fim de 2024, expõe as diferentes estratégias narrativas usadas por parlamentares e associações conservadoras na defesa dos interesses comuns.

Fruto do trabalho das pesquisadoras Adriane Sanctis de Brito, Luciana Silva Reis, Ana Silva Rosa e Mariana Celano de Souza Amaral, do Centro de Análise da Liberdade do Autoritarismo (Laut), a obra convida o leitor a refletir sobre o papel que o discurso conservador tem exercido na política institucional e pautado as principais discussões na sociedade brasileira.

No campo da bancada da bala, por exemplo, as autoras exploram a temática da segurança pública sobre o viés reacionário. Elas mostram que o discurso que pressupõe um estado de caos nas cidades motiva a defesa de “direitos individuais” para justificar medidas que flexibilizam o o a armas de fogo, como foi o caso dos decretos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Se tratando da bancada do boi, os conservadores ressaltam a importância do campo na economia brasileira. Esses atores fazem parte da política desde o Brasil Colônia, quando o país era essencialmente agrícola. Hoje, eles reforçam o argumento de que o agro é a “força que move o país” e, por serem responsáveis por 1/4 do PIB nacional, precisam de “paz e segurança jurídica” nas plantações. Com isso, eles agem contra a demarcação de terras indígenas e a reforma agrária, principal pauta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Quando falamos da bancada da Bíblia, as autoras observam como os evangélicos atuam para defender uma visão de mundo em que a moralidade religiosa é essencial para o bem estar social. A narrativa de que a espiritualidade pode contribuir para o funcionamento do estado aparece, por exemplo, na defesa do “homeschooling” (ensino doméstico). Mas, talvez, a principal atuação dessa ala conservadora diz respeito a pauta anti-aborto e contra os direitos LGBTQIA+.

Grupos conservadores

Em entrevista ao Estado de Minas, Ana Silva Rosa e Mariana Amaral explicam que, apesar de defenderem pautas diferentes, os grupos conservadores do “BBB” possuem uma intensa articulação entre si. Elas afirmam que as imagens do boi, da bala e da bíblia, são representativas das “linhas de força do espectro conservador-reacionário brasileiro contemporâneo”.

“Há um uso transversal entre as três áreas de certas estruturas argumentativas: os três campos desenham, por exemplo, a imagem de uma crise social profunda, que colocaria em perigo o futuro do próprio país. Ao mesmo tempo, grupos vinculados aos três temas constroem, de maneira similar, seus próprios inimigos”, disse Ana Silva Rosa.

A ideia de caos e colapso da ordem social é, portanto, central na articulação do campo conservador. “Aparecem argumentos de que proprietários urbanos estariam ameaçados pela demarcação de Terras Indígenas, todos os cidadãos correriam ainda mais risco frente a criminalidade, frente a políticas desarmamentistas e até a taxa de natalidade do país estaria em questão, caso o aborto deixasse de ser um crime”, destaca.

Campo progressista

Apesar da dificuldade da esquerda em adentrar esses três campos, o livro mostra que há um caminho que permite ação do campo progressista dentro dessas esferas. Para Mariana Amaral, primeiro é importante compreender as demandas, o conjunto de valores e a retórica que tem dado a tônica dos debates.

“Esse primeiro mapeamento pode nos ajudar a visualizar quais os pontos de tensão ou discordância dentro desses campos, que não são homogêneos. Mesmo que determinada tônica ganhe mais proeminência no debate público, como vemos mais nitidamente no caso do “boi”, existem divergências e disputas dentro de cada um dos Bs. Localizá-las pode, por exemplo, nos ajudar a articular algumas respostas aos posicionamentos mais extremistas em cada um desses temas”, afirma.

A pesquisadora destaca que, mesmo com a dificuldade do conservadorismo em avançar com aprovação de projetos no Congresso Nacional, a estratégia narrativa de somente pautar o debate vai tornando certos temas “aceitáveis”.

“A inserção de um tipo específico de retórica e interpretação legal no âmbito Legislativo permite que, aos poucos, esses posicionamentos sejam levados a sério e, eventualmente, implementados. Funciona como um conta-gotas: algo que antes parecia uma argumentação lateral e de nicho, vai permeando o debate público até tornar-se aceitável”, completou.

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Serviço

“A Lei da Bala, do Boi e da Bíblia” (2024)
Adriane Sanctis de Brito, Luciana Silva Reis, Ana Silva Rosa e Mariana Celano de Souza Amaral
Tinta da China Brasil
232 Páginas
R$ 84,90

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