
Lúpus: cientistas chegam perto da resposta sobre a causa da doença
Observado o percurso imunológico da doença, cientistas acreditam que a resposta sobre a causa da doença pode estar em alterações moleculares
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Siga noCom sangramentos, hematomas, pequenas manchas vermelhas pelo corpo e baixa nas plaquetas, a estudante de design Caroline Santana Marques, de 19 anos, descobriu o diagnóstico de lúpus apenas no ano retrasado. Até então, a suspeita era de púrpura trombocitopênica imunológica. Como o tratamento com corticoides não resolvia, ela buscou respostas ao que vivia. "Hoje em dia meus cuidados incluem alimentação balanceada e repouso", diz ela, ressaltando evitar situações de estresse. "Visito a reumatologista a cada dois ou três meses, bem como uma nutricionista, e sessões de terapia quinzenalmente."
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Publicado na Nature, o estudo pode ser o caminho para um tratamento mais eficaz e com menos efeitos colaterais. De mais de 80 doenças autoimunes, o lúpus está entre as mais graves. Os pesquisadores da Northwestern Medicine e do Brigham and Women's Hospital, nos Estados Unidos, estão convencidos de que a chave para compreender o problema é um defeito molecular que promove a resposta imunopatológica no lúpus. Para os cientistas, atuar na reversão desse erro inato tem potencial para controlar a doença.
Jaehyuk Choi, professor de dermatologia na Escola de Medicina Feinberg da Universidade de Northwestern, afirma que o estudo traz novos panoramas para o tratamento da doença a partir do reconhecimento e localização da má-formação genética que leva ao desenvolvimento do lúpus. "Ao identificar uma causa para esta doença, encontramos uma cura potencial que não terá os efeitos colaterais das terapias atuais", explica.
Com o mapeamento, a pesquisa identificou que a má-formação gênica prejudica o bom funcionamento do receptor aril-hidrocarboneto (AhR), encarregado pela reação das células a agressores externos, como poluição e bactérias. Isso faz com que o sistema imunológico trabalhe em excesso, o que gera a produção exagerada de autoanticorpos. Esses mecanismos destrutivos levam a um comportamento autodestrutivo do sistema imunológico, em que o organismo ataca ele mesmo.
"Descobrimos que se, ativarmos a via AHR com moléculas pequenas ou limitarmos o interferon patologicamente excessivo no sangue, podemos reduzir o número dessas células causadoras de doenças", ressalta Choi. O interferon é uma substância produzida naturalmente pelo corpo para atuar contra agentes externos. Os cientistas, então, definiram mediadores específicos que podem corrigir esse desequilíbrio para atenuar a resposta autoimune patológica.
Mapeamento
Para Cláudia Goldenstein Schainberg, médica do Núcleo Avançado de Reumatologia do Hospital Sírio- Libanês, se for encontrada uma forma de inocular a célula ou o receptor que gera a doença, o tratamento vai ser "benéfico e eficaz". Ela ressalta que, atualmente, os cuidados são por meio da istração de medicamentos imunossupressores, que deprimem ou suprimem o sistema imunológico do paciente.
A doença é caracterizada por uma hiperativação do sistema imunológico, causando vermelhidão no rosto e nas mãos, além de dores nas articulações. Em casos mais graves, coração, pulmão e cérebro são atingidos. "A terapia gênica traria menos eventos adversos que as drogas comumente trazem aos pacientes", afirma Cláudia Schainberg.
Para a médica, a descoberta dos cientistas vai contribuir não só para aumentar a eficácia do tratamento como para reduzir os efeitos colaterais provocados pelas medicações utilizadas no controle da doença. "Se a gente conseguir alvejar de uma maneira específica essa célula (modificada) ou esse receptor (o responsável pela mudança) que está alterado na doença, então o tratamento vai ser mais benéfico, mais específico, mais eficaz."
Organismo vive autoagressão
"O lúpus é uma doença autoimune, caracterizada pela autoagressão. O organismo produz células que agridem as suas próprias células, é como se não existisse a tolerância imunológica. A descoberta é interessante porque identifica uma alteração no linfócito T, aquele que reconhece o antígeno e estimula o linfócito B a produzir o anticorpo. No estudo, a alteração do linfócito T foi encontrada apenas nos pacientes que desenvolveram lúpus, provavelmente é justamente aí que está o problema. Pode ser possível fazer um tratamento genético, bloqueando e promovendo o 'lockdown' nesse gene. Assim, o linfócito B ará a não mais atacar o organismo." Sandra Maria Andrade, médica reumatologista do Hospital Santa Lúcia