O sorotipo 3 da dengue registrou aumento em meio a testes positivos para a doença no Brasil – sobretudo em Minas Gerais, São Paulo, Amapá e Paraná. A ampliação foi registrada principalmente nas últimas quatro semanas de dezembro. O cenário preocupa autoridades sanitárias brasileiras, já que o vírus não circula de forma predominante no país desde 2008.



Para o infectologista Leandro Curi, que integra a equipe do Hospital Semper, a volta do sorotipo 3 acende um alerta real para uma nova epidemia. “Grande parte da população está vulnerável a este subtipo [3]. No ano ado, a maioria dos casos de infecção por dengue foram decorrentes dos subtipos 1 e 2.” E de fato, a preocupação do médico faz sentido: segundo o balanço mais atual da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), os subtipos 1 e 2 da dengue corresponderam a 102.290 infecções em Minas em 2024, enquanto o DENV3 foi responsável por apenas 343 diagnósticos.

Ainda segundo o especialista, depois da exposição à sorotipos diferentes, o que ocorreu com milhões de pessoas em 2024, a infecção por outro eleva em muito as chances de surgirem sintomas mais graves da doença. Isso porque os anticorpos formados na primeira infecção não neutralizam o novo vírus, mas amplificam a reinfecção, causando uma reação inflamatória mais severa.

“Agora, mais do que nunca, é de extrema importância que a população e órgãos públicos não abandonem as medidas de combate ao mosquito. Mas é importante também ressaltar que essas medidas, como por exemplo evitar o acúmulo de água parada, devem ser praticadas não só no verão, quando as campanhas na mídia ficam mais robustas, mas durante todo o ano. Isso porque quando a fêmea do Aedes aegyptideposita seus ovos na água, eles já podem estar contaminados. Esses ovos, por sinal, conseguem sobreviver durante um ano, ou seja, até a próxima estação chuvosa. Isso significa dizer que os ovos depositados na temporada do ano ado, presentes nas nossas calhas, bombonas, pneus, piscinas e vasinhos não higienizados, estão só esperando o nível de água subir para eclodirem”, alerta.

Vacina

Curi acredita que perdemos a guerra contra o vetor transmissor da dengue, o Aedes aegypti, porém defende que a prevenção mais eficaz que chegou para ficar – mesmo que ainda modestamente - é a vacina.

No Brasil, apesar de sua bula indicar a aplicação para pessoas com idade entre 4 e 60 anos, a Qdenga - do laboratório japonês Takeda - começou a ser ofertada em fevereiro de 2024 para um público muito específico, as crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, grupo que concentra maior número de hospitalizações, atrás apenas dos idosos.

“Minha expectativa é que enquanto ela ainda não é produzida em nosso país, que seja possível comprar mais doses para ampliar a proteção e estendê-la para outras faixas etárias”, destaca Leandro, acrescentando que o esquema completo da Qdenga é composto por duas doses, a serem istradas por via subcutânea com intervalo de 3 meses entre elas. Quem já teve a infecção também deve tomar a dose.

Atenção aos sintomas

O infectologista do Hospital Semper afirma que todo início de doença viral, principalmente nos primeiros dois dias, tem sintomas muito similares, o que inclui mal-estar, febre, dor de cabeça e falta de apetite. Em seguida os sinais começam a ser típicos de cada infecção. “Dores articulares, cefaleia retro orbitária (dor de cabeça atrás dos olhos), dor generalizada no corpo, a chamada mialgia, são indícios que nos ajudam a pensar na possibilidade de dengue, principalmente em um contexto epidemiológico, como a temporada pós-chuvas, marcada pelo acúmulo de água parada.” Já aqueles com manchas vermelhas no corpo, sangramento na gengiva e piora clínica rápida, devem procurar ajuda médica com urgência.

A confirmação da infecção, por sua vez, se dá através do Teste Rápido de Dengue IgG IgM e Antígeno NS1, feito através de amostra do sangue. De acordo com Leandro eleé indicado para um diagnóstico precoce da doença, a partir do 1º dia de sintomas e ajuda na diferenciação da fase aguda e tardia da infecção. “Vale lembrar, porém, que este é um teste de triagem. Sendo assim, os resultados devem ser interpretados por um médico especializado”, ressalta o infectologista.

Por fim, o especialista pontua que, em caso de diagnóstico confirmado, a primeira medida é jamais se automedicar. A automedicação, segundo o médico, pode ser ainda mais nociva nos casos de dengue, já que alguns fármacos, em contato com o organismo, ao invés de amenizar os sintomas, podem piorar o quadro.

“O melhor a fazer é procurar atendimento médico nos postos de saúde. Caso o paciente esteja em estado mais grave, é urgente recorrer às Unidades de Pronto Atendimento (UPA). Ressalto ainda que durante o processo de recuperação, a hidratação, para quem não tem contraindicação, é fundamental. A ingestão de água, inclusive, é usada no tratamento de muitas outras viroses”.

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