Da longevidade às casas de repouso: qual o cenário do envelhecimento?
Esses e outros assuntos serão discutidos, a partir desta quinta-feira (3/4) até sábado (5/4), no 24º Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia
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Siga noA expectativa é que, até 2050, o Brasil tenha aproximadamente 60 milhões de habitantes com idade acima dos 60 anos. Além de indicar o crescimento da população idosa, esse número alerta para os cuidados que as gerações atuais precisam ter para chegar a essa fase com autonomia e qualidade de vida. Além disso, o aumento dos chamados +60 no país demonstra a necessidade de investimentos no sistema de saúde, tanto na formação de profissionais quanto na ampliação de especialidades voltadas para esse público.
Sob o tema "Envelhecimento e Tecnologia: uma parceria entre gerações", esses e outros assuntos serão discutidos a partir desta quinta-feira (3/4) até sábado (5/4) no 24º Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), que acontece no Minascentro, no Centro de BH.
“As expectativas são as melhores possíveis para este evento. Encerramos as inscrições com uma semana de antecedência, pois alcançamos o limite de público. Acredito que isso se deve ao crescimento da SBGG, ao envelhecimento da população brasileira e ao interesse dos profissionais em ampliar seus conhecimentos sobre o cuidado adequado com os idosos. Além disso, há os avanços tecnológicos dentro dessa temática”, destaca Marco Túlio Gualberto, presidente da SBGG.
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Saúde pública
Uma das questões do envelhecimento envolve o aumento da expectativa de vida, que, como enfatiza Marco Túlio, não indica necessariamente que a população esteja envelhecendo bem. A realidade do Brasil, se comparada a países como Itália, Espanha e Japão, é de uma população com baixo nível educacional que, apesar do o à saúde proporcionado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ainda enfrenta dificuldades para conseguir atendimento especializado e exames preventivos. Além disso, nem todos os idosos têm o privilégio de manter interação social diária, praticar atividades físicas e seguir uma alimentação balanceada.
“Com isso, temos uma população com alta carga de doenças, como demências, acidente vascular cerebral (AVC), infarto, entre outras. Isso resulta em um número significativo de idosos dependentes, debilitados e frágeis”, afirma o presidente da SBGG.
O especialista ressalta a importância de um olhar preventivo dentro do sistema público de saúde, pois as pessoas não adoecem de repente ao envelhecer, mas acumulam anos de negligência, que resultam em doenças crônicas. “Estamos falando de assistência desde a maternidade e infância para garantir que as pessoas se mantenham independentes pelo maior tempo possível. Isso é fundamental para estruturar uma rede de atendimento de qualidade no futuro. Ainda há muito a ser feito para oferecer um e adequado ao idoso no Brasil”, diz Marco Túlio.
As preocupações com a idade se agravam com a prevalência de doenças como as demências, sendo as mais conhecidas o Alzheimer e o Parkinson.
Fatores de risco
De acordo com Charlys Barbosa Nogueira, geriatra e membro da Comissão de Atualização em Doença de Alzheimer da SBGG, atualmente são reconhecidos 12 fatores de risco para o desenvolvimento da demência. Alguns deles são amplamente conhecidos, como tabagismo e consumo de álcool (independentemente da dose), enquanto outros ainda são pouco associados à perda cognitiva:
- Déficits auditivos
- Obesidade
- Depressão
- Sedentarismo
- Diabetes
- Isolamento social
- Lesão cerebral traumática
- Poluição do ar
- Déficit visual
- Colesterol elevado
“A descoberta desses novos fatores de risco traz perspectivas para a prevenção das demências, tanto no Brasil quanto no mundo. Por exemplo, globalmente, estima-se que seja possível reduzir os casos de demência em até 45%. Na América Latina, essa redução pode chegar a 56%”, afirma Charlys, citando que, desde a década de 1990, pesquisadores já identificavam que hipertensão, diabetes e obesidade poderiam estar ligadas ao surgimento de doenças neurodegenerativas.
Sobre o impacto da pandemia de COVID-19 no isolamento social e no aumento de casos de demência, Charlys explica que a situação potencializou diversos fatores. “Houve, de fato, um aumento nos casos de demência não apenas pela ação direta do vírus, que pode comprometer a memória, mas também pelo isolamento social e pela piora no controle de doenças como hipertensão, diabetes e depressão. Muitos pacientes deixaram de buscar assistência médica nesse período”, explica o geriatra.
Ele também destaca que outros dois fatores devem ganhar mais atenção no futuro: a qualidade do sono e a alimentação. “A qualidade do sono é extremamente importante para preservar a memória e reduzir o risco de Alzheimer. Doenças como apneia do sono e insônia são fatores de risco significativos. Já em relação à alimentação, a dieta mediterrânea é amplamente reconhecida como um fator protetor”, aponta.
Instituições de longa permanência
Quando se fala no envelhecimento da população brasileira, a discussão sobre instituições de longa permanência (ILPIs), antes chamadas de asilos, se torna inevitável. O nome foi modificado para reduzir o estigma de abandono. “Estamos envelhecendo e as famílias estão ficando menores. Isso significa que precisaremos cada vez mais dessas instituições para idosos que não têm e familiar suficiente ou que não conseguem atender suas próprias necessidades. Não devemos ter preconceito contra essas instituições, pois elas são fundamentais”, afirma Marco Túlio.
Leonardo Brandão de Oliva, geriatra e vice-presidente da SBGG, ressalta a dependência da iniciativa privada nesse setor, já que as instituições públicas não conseguem atender a demanda. “A realidade das famílias mudou. Nem sempre é possível manter um idoso em casa, seja por questões financeiras ou pela necessidade de um cuidado profissional. Não se trata de abandono, mas de buscar um atendimento especializado e seguro.”
O especialista abordará no congresso os desafios existentes no paciente com demência, sendo que há níveis diferentes de perda cognitiva. “Os maiores desafios estão nos transtornos comportamentais. Na fase moderada da doença, surgem sintomas como agitação, agressividade, distúrbios do sono, delírios, alucinações e hipersexualidade. Isso exige um manejo não farmacológico intensivo, que inclui a educação do cuidador e a adaptação do ambiente.”
A evolução do Alzheimer varia entre 2 e 20 anos, e muitos pacientes desenvolvem dificuldades para lidar com tarefas do dia a dia, como istrar dinheiro ou tomar medicamentos. “Até dois terços dos pacientes com Alzheimer apresentarão algum transtorno de comportamento ao longo da doença. A principal causa de institucionalização no mundo são esses transtornos. É possível lidar com um idoso que esquece informações, mas quando ele se torna agressivo, violento ou apresenta alucinações, o cuidado domiciliar se torna extremamente difícil”, destaca.
Entre as estratégias para reduzir a agitação dos pacientes, o geriatra recomenda evitar confrontos, garantir que as necessidades básicas estejam supridas e adotar terapias como música e atividades manuais. “Há uma relação entre o fim do dia e o aumento da agitação em pacientes com demência. Chamamos isso de síndrome do pôr do sol. A música, trabalhos manuais e outras atividades podem ajudar a reduzir esse impacto”, explica.