O câncer do colo do útero ainda é um dos tumores ginecológicos mais frequentes no Brasil, mas avanços na medicina vêm transformando a forma como as pacientes enfrentam o tratamento. Quando diagnosticada em estágio inicial, a doença pode ser tratada com cirurgias que preservam o útero e mantêm a possibilidade de uma gestação futura. A preservação da fertilidade, que até poucos anos era vista como exceção, hoje faz parte das opções discutidas entre médicos e pacientes logo após o diagnóstico.

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer do colo do útero é o terceiro tumor maligno mais frequente entre as mulheres brasileiras, com estimativa de 17.010 novos casos entre 2023 e 2025. Embora a maioria dos casos seja diagnosticada em estágios avançados, o diagnóstico precoce permite a adoção de tratamentos menos invasivos, que podem preservar a fertilidade.



Segundo o cirurgião oncológico e especialista em técnicas minimamente invasivas, Marcelo Vieira, o aconselhamento reprodutivo deve fazer parte da abordagem desde o primeiro atendimento. “O impacto emocional do diagnóstico é imenso, mas oferecer um plano de preservação da fertilidade ajuda a paciente a manter o controle sobre seu futuro e sua saúde emocional”, afirma.

Cirurgias menos invasivas e o uso do dispositivo Duda

Entre as opções cirúrgicas, procedimentos como a traquelectomia radical e a conização são indicados para casos de tumor ao colo uterino com até dois centímetros, o que permite manter o útero da paciente. Nessas situações, a técnica cirúrgica precisa ser extremamente precisa para evitar complicações e preservar a função reprodutiva.

Um exemplo de inovação é o dispositivo Dispositivo Uterino para Dilatar o Anel Endocervical (Duda), criado por Marcelo Vieira, que ajuda a evitar o fechamento do canal endocervical após a cirurgia. O dispositivo é implantado logo após a retirada da lesão e mantém o canal aberto durante a cicatrização, garantindo o fluxo menstrual e aumentando as chances de gravidez futura.

“Antes do Duda, o canal se fechava completamente em 100% dos casos. Com o uso do dispositivo, conseguimos manter esse canal funcional em boa parte das pacientes”, explica o cirurgião.

Quando indicar o congelamento de óvulos

Nos casos em que há risco de perda da função ovariana - seja por necessidade de radioterapia, quimioterapia ou cirurgias mais extensas - o congelamento de óvulos ou embriões torna-se a alternativa mais segura. A recomendação é que essa etapa seja realizada antes do início do tratamento, em clínicas especializadas.



A indicação depende da idade da paciente, do tipo e estágio do câncer e da urgência do tratamento. “Nem sempre há tempo hábil, mas quando possível, é essencial oferecer essa alternativa com agilidade e clareza”, reforça Marcelo Vieira.

Planejamento reprodutivo e saúde mental

A possibilidade de preservar a fertilidade tem reflexo direto no bem-estar emocional das pacientes. Ter um plano para engravidar após o tratamento ajuda a enfrentar o processo com mais confiança. “É um cuidado que vai além do físico. Oferecer essa chance muda completamente a experiência da paciente com o câncer”, observa o médico.

Mais do que uma questão técnica, a decisão sobre manter a fertilidade envolve aspectos emocionais, sociais e culturais. Por isso, o aconselhamento deve ser sensível, individualizado e baseado em evidências. O avanço das tecnologias, aliado à humanização no atendimento, está mudando a forma como o câncer do colo do útero é tratado no país, e abrindo caminho para que cada vez mais mulheres superem a doença sem renunciar ao sonho da maternidade.

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia

compartilhe