NOVOS CRITÉRIOS

Nova diretriz propõe cuidado individual e medicamentoso da obesidade

Construída com base em evidências científicas, a nova diretriz reforça que a obesidade deve ser reconhecida como uma doença crônica

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A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) apresentou nesta quinta-feira (29/5), durante o XXI Congresso de Obesidade e Síndrome Metabólica, no Minascentro, em Belo Horizonte, a nova Diretriz Brasileira para o Tratamento Farmacológico da Obesidade. O documento reúne 35 recomendações que orientam médicos, gestores de saúde e profissionais de diversas áreas sobre o uso adequado de medicamentos - sempre destacando que nenhuma terapia substitui a mudança no estilo de vida.

“A diretriz não abre mão de cuidar do estilo de vida do paciente. Quando você combina os tratamentos medicamentosos com a mudança de hábitos, a resposta é muito melhor. Essa combinação é a base para trabalhar com esses pacientes”, explicou o endocrinologista Bruno Halpern, vice-presidente da Abeso, durante a apresentação.

Construída com base em evidências científicas e em parceria com 15 sociedades médicas, a nova diretriz reforça que a obesidade deve ser reconhecida como uma doença crônica, que exige cuidado contínuo e uma abordagem individualizada. A versão anterior, de 2016, tinha como foco principal o índice de massa corporal (IMC), mas os novos achados mostram que é preciso ir além: mais do que apenas reduzir o IMC, o tratamento deve buscar metas realistas e clinicamente relevantes, como a perda de pelo menos 10% do peso corporal, priorizando a melhora de condições associadas, como diabetes tipo 2, hipertensão, apneia do sono, osteoartrose e doença hepática ligada à disfunção metabólica.

Usando uma analogia “como se fosse a entrega da tábua dos Dez Mandamentos”, o endocrinologista Fernando Gerchman, membro do Departamento Científico da Abeso e coordenador do grupo responsável pela diretriz, destacou que o documento não é uma receita de bolo, mas sim um guia clínico baseado em evidências, pensado para a realidade brasileira. 

Off-label 

Entre os temas que movimentam o congresso estão os debates sobre os análogos de GLP-1 de uso off-label, ou seja, o uso de medicamentos não aprovados especificamente para obesidade, que vêm sendo vistos como uma promessa para o tratamento da obesidade. “A decisão de usar no tratamento deve ser feita de forma individualizada, considerando fatores como a saúde geral do paciente, a presença de comorbidades, a resposta prévia ao tratamento, além da segurança, tolerabilidade e custo”, explicou Marcio Mancini, coordenador do Departamento de Farmacoterapia da Abeso.

A nova diretriz também estabelece que o tratamento farmacológico deve ser associado, desde o início, a mudanças no estilo de vida. Entre os medicamentos com alta ou moderada eficácia estão a semaglutida, a tirzepatida e a liraglutida, priorizados sempre os que estão disponíveis. 

“Esses fármacos demonstraram benefícios importantes em grandes ensaios clínicos. A semaglutida, por exemplo, reduziu em 20% os eventos cardiovasculares em pacientes com obesidade e histórico de doença cardíaca. Já a tirzepatida reduziu em 99% a incidência de diabetes tipo 2 em pessoas com pré-diabetes, segundo estudos”, detalhou Alexandre Hohl, diretor da Abeso.

Outro avanço importante do documento é o reconhecimento de que o sucesso do tratamento depende também de fatores individuais, desde padrões alimentares e preferências pessoais até aspectos genéticos, psicológicos, sociais e ambientais. “Quando classificamos os pacientes com base em seus comportamentos alimentares, conseguimos oferecer um tratamento mais direcionado e eficaz”, explicou Fernando.

Ainda durante a apresentação, os especialistas ressaltaram a importância da atividade física não apenas para induzir a perda de peso, mas também para melhorar a saúde metabólica, fortalecer o sistema cardiovascular e reduzir as comorbidades. A prática regular de exercícios contribui para a manutenção do peso perdido. No entanto, o peso não deve ser o foco principal: o tratamento deve acompanhar as necessidades individuais e as complicações de cada paciente.

Essa personalização, segundo os especialistas, aumenta a adesão e fortalece o vínculo entre médico e paciente. “O acolhimento e a escuta são fundamentais para o sucesso terapêutico. Precisamos ser parceiros dos nossos pacientes, ouvir suas preferências, respeitar seus objetivos e aplicar o tratamento mais eficaz possível dentro da realidade de cada um”, reforçou João Eduardo Salles, membro do Departamento Científico da Abeso.

Destaques da nova diretriz

  • Tratamento contínuo e individualizado: perda de peso de pelo menos 10% como meta relevante, com foco na melhora das comorbidades e da qualidade de vida.

  • Prioridade para fármacos de alta eficácia: semaglutida, tirzepatida e liraglutida são recomendados para uso continuado, apoiados por evidências de segurança e resultados clínicos.

  • Novos critérios diagnósticos: tratamento recomendado mesmo para pacientes com IMC abaixo de 30, se houver complicações relacionadas à obesidade; outras medidas, como circunferência da cintura e relação cintura/altura, am a ser consideradas.

  • Atenção a grupos específicos: pacientes idosos, pessoas com obesidade sarcopênica, apneia do sono, osteoartrose e doença hepática associada à obesidade têm recomendações específicas no documento.

A publicação oficial deve ocorrer ainda no primeiro semestre deste ano, e o material ficará disponível no site da Abeso, servindo como recurso valioso para médicos, nutricionistas e todos os profissionais envolvidos no enfrentamento da obesidade no Brasil.

Cenário atual

obesidade, hoje, já afeta quase 70% da população adulta brasileira, quando somada ao sobrepeso — índice alarmante que pode representar, nos próximos anos, um impacto ainda maior nos sistemas de saúde, previdência e qualidade de vida da população.

De acordo com a Federação Mundial de Obesidade (WOF), o Brasil pode chegar a 119 milhões de adultos com excesso de peso até 2030, se medidas efetivas de prevenção e tratamento não forem adotadas. A doença, considerada multifatorial, está associada a problemas como diabetes tipo 2, hipertensão, infertilidade, apneia do sono, doenças cardiovasculares e pelo menos 13 tipos de câncer.

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