Turismo do Perigo: como tem gente (doida) que se arrisca por puro sadismo
Conhecido como turismo extremo, envolve viagens a locais onde a segurança é incerta, como zonas de guerra, áreas de crise humanitária ou violentas
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Siga noViajar para destinos exóticos ou pouco explorados é o sonho de muitos aventureiros, mas o chamado Turismo do Perigo — a prática de visitar regiões marcadas por conflitos armados, instabilidade política ou criminalidade extrema — tem atraído um número crescente de brasileiros em busca de adrenalina ou experiências únicas.
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No entanto, especialistas em segurança e o Itamaraty alertam: os riscos superam qualquer emoção, e certos países devem ser evitados a todo custo. Com base em dados recentes e relatórios internacionais, a proposta é explorar esse fenômeno, listar os destinos mais perigosos em 2025 e reforçar a necessidade de cautela.
O fascínio pelo perigo
O Turismo do Perigo, também conhecido como turismo extremo, envolve viagens a locais onde a segurança é incerta, como zonas de guerra, áreas de crise humanitária ou regiões com altos índices de violência. Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), o turismo de aventura cresceu 15% globalmente entre 2015 e 2023, e uma pequena, mas crescente, parcela inclui destinos de alto risco.
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Por que isso atrai?
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Adrenalina: A emoção de estar em locais proibitivos é um chamariz para aventureiros.
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Curiosidade cultural: Alguns buscam compreender contextos históricos ou sociais complexos, como guerras ou revoluções.
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Documentação: Jornalistas, influenciadores e ativistas visitam essas áreas para relatar crises ou aumentar a conscientização.
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Exclusividade: Estar onde poucos vão confere um senso de conquista.
No Brasil, agências especializadas em turismo de aventura relatam um aumento de 20% nas consultas sobre destinos como o Sahel africano ou o Oriente Médio, segundo a Associação Brasileira de Agências de Viagem (ABAV). Contudo, o preço dessa aventura pode ser alto demais.
Os riscos reais
Viajar para países em crise expõe os turistas a perigos que vão além do imaginável. Dados do Global Peace Index de 2024 apontam que 23 países estão em estado de "alerta máximo" para violência, e muitos deles são destinos evitados até por organizações humanitárias. Entre os riscos estão:
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Segurança: Sequestros, ataques terroristas e violência urbana são comuns. Em 2023, o Foreign, Commonwealth & Development Office (FCDO) do Reino Unido registrou 1.200 incidentes envolvendo turistas em zonas de conflito.
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Saúde: Doenças como malária, cólera ou dengue são prevalentes em áreas sem infraestrutura médica. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que 60% dos viajantes em zonas de crise enfrentam problemas de saúde.
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Questões legais: Países com regimes autoritários, como a Coreia do Norte, podem prender visitantes por atos simples, como tirar fotos.
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Impacto ético: A presença de turistas pode sobrecarregar comunidades vulneráveis ou explorar tragédias como atrações.
Caso real: Em 2022, um casal de brasileiros foi detido no Afeganistão por entrar sem visto adequado, sendo libertado após três meses de negociações diplomáticas. Casos assim reforçam a gravidade de subestimar os riscos.
Brasileiros devem evitar
Com base em alertas do Itamaraty, do Departamento de Estado dos EUA, do FCDO britânico e de relatórios da ONU, listamos os países onde viagens devem ser evitadas devido a riscos extremos. Atenção: Esta lista reflete o cenário em abril de 2025 e pode mudar; consulte fontes oficiais antes de qualquer planejamento.
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Afeganistão
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Situação: Desde a retomada do Talibã em 2021, o país enfrenta ataques terroristas, sequestros e ausência de infraestrutura. O Global Terrorism Index de 2024 classifica o Afeganistão como o mais perigoso do mundo.
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Riscos: Bombardeios, violência contra estrangeiros e falta de embaixadas operantes.
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Alerta do Itamaraty: "Evitar todas as viagens; risco de morte iminente."
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Síria
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Situação: A guerra civil, iniciada em 2011, deixou 500 mil mortos e 12 milhões de deslocados, segundo a ONU. Grupos como o Estado Islâmico ainda operam.
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Riscos: Bombardeios, sequestros e colapso total de serviços.
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Alerta do Itamaraty: "Viagens desaconselhadas; situação crítica."
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Iêmen
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Situação: Conflito entre governo e rebeldes Houthi, agravado por crise humanitária que afeta 21 milhões de pessoas (80% da população), segundo a OMS.
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Riscos: Sequestros, minas terrestres e fome generalizada.
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Alerta do Itamaraty: "Evitar completamente; sem condições seguras."
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Somália
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Situação: O grupo Al-Shabaab controla áreas significativas, e a pirataria no Golfo de Áden persiste. O país registrou 1.300 ataques terroristas em 2024, segundo o Armed Conflict Location & Event Data Project (ACLED).
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Riscos: Violência, sequestros e falta de governo central.
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Alerta do Itamaraty: "Somente viagens essenciais com segurança privada."
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Sudão
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Situação: Desde 2023, conflitos entre forças militares e paramilitares mataram mais de 20 mil pessoas e deslocaram 8 milhões, segundo a ONU.
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Riscos: Combates em Cartum, saques e crise alimentar.
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Alerta do Itamaraty: "Evitar todas as regiões; situação volátil."
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Haiti
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Situação: Gangues controlam 80% de Porto Príncipe, com 4.789 homicídios em 2024, segundo o Haiti Crime Observatory. Crises climáticas agravam a instabilidade.
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Riscos: Sequestros, tiroteios e falta de infraestrutura.
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Alerta do Itamaraty: "Altamente desaconselhável; risco extremo."
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Coreia do Norte
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Situação: Regime autoritário restringe a liberdade de visitantes. Em 2023, um turista australiano foi detido por seis meses por "propaganda".
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Riscos: Prisão arbitrária, vigilância e isolamento.
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Alerta do Itamaraty: "Evitar, salvo em tours oficiais com supervisão."
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Mali
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Situação: Conflitos no Sahel envolvendo jihadistas e milícias. O país registrou 900 ataques em 2024, segundo o ACLED.
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Riscos: Sequestros e violência em áreas rurais.
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Alerta do Itamaraty: "Evitar regiões fora da capital Bamako."
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Ucrânia (áreas de conflito)
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Situação: A guerra com a Rússia, iniciada em 2022, causou 30 mil mortes civis até 2024, segundo a ONU.
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Riscos: Bombardeios no leste e sul, infraestrutura danificada.
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Alerta do Itamaraty: "Evitar zonas de combate; viagens humanitárias com coordenação."
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Venezuela
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Situação: Crise econômica e repressão política elevaram a criminalidade. Caracas tem uma das maiores taxas de homicídio do mundo (120 por 100 mil habitantes, segundo o Observatorio Venezolano de Violencia).
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Riscos: Assaltos armados, sequestros e escassez de bens.
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Alerta do Itamaraty: "Evitar, salvo motivos essenciais."
Destinos com riscos parciais:
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México: Evitar áreas como Tamaulipas e Michoacán, onde cartéis operam.
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Nigéria: Alto risco de sequestros no norte e Delta do Níger.
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Paquistão: Evitar Baluchistão e a fronteira com o Afeganistão.
Dark Tourism - En Ukraine, une dizaine d'entreprises, comme Visit Ukraine, War Tour ou Capital Tours Kiev proposent du tourisme de guerre : entre 150 et 250 euros la visite d'un site dévasté par les combats. Et plus on se rapproche du front, et donc du danger, plus les prix… pic.twitter.com/ycfdf2eNkx
— Alessandra d'Angelo (@AlessandradAng6) December 13, 2024
Alerta aos brasileiros
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil reforça: nenhuma viagem a países em crise vale o risco de perder a vida ou a liberdade. Em 2024, o Itamaraty auxiliou na repatriação de 150 brasileiros retidos em zonas de conflito, um aumento de 30% em relação a 2022. “Os viajantes devem priorizar a segurança e consultar nossos alertas antes de qualquer deslocamento”, afirmo nota da Divisão de Assistência Consular.
Recomendações do Itamaraty:
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Consulte alertas: Verifique o site do Itamaraty (www.gov.br/mre) ou de embaixadas confiáveis.
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Registre-se: Cadastre sua viagem no Portal Consular para facilitar contato em emergências.
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Seguro de viagem: Contrate cobertura para evacuação médica e riscos específicos.
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Discrição: Evite ostentar riqueza ou compartilhar planos nas redes sociais.
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Plano de emergência: Tenha rotas de saída e contatos de embaixadas.
O lado ético
Além dos riscos pessoais, especialistas questionam o impacto ético de visitar zonas de crise. Turistas podem agravar tensões locais, consumir recursos escassos ou tratar tragédias como espetáculo. Em 2023, um grupo de influenciadores foi criticado por postar selfies em campos de refugiados no Sudão, ilustrando como o turismo pode ser insensível.
Cautela é a palavra de ordem
O Turismo do Perigo pode oferecer experiências únicas, mas os custos — para o viajante e as comunidades locais — são altíssimos. Países como Afeganistão, Síria, Iêmen e outros listados estão fora dos limites para qualquer viajante responsável em 2025. Para quem considera essas aventuras, o planejamento meticuloso, a consulta a fontes oficiais e o respeito às realidades locais são inegociáveis.