
“Esta pesquisa apresenta novas evidências em humanos de que a grelina, o chamado ‘hormônio da fome’, afeta a tomada de decisão monetária. Isso confirma o que outras descobertas recentes, de pesquisas em roedores, concluíram sobre o papel desse hormônio, produzido principalmente no trato gastrointestinal, nas escolhas e comportamentos impulsivos. Quem tem maiores níveis de grelina, tende a ter mais comportamentos impulsivos, inclusive ligados às questões monetárias”, afirma a médica nutróloga Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).
“Os participantes do estudo foram solicitados a fazer uma série de escolhas para indicar sua preferência por uma recompensa monetária menor, mas imediata, ou uma quantia maior de dinheiro a receber em mais tempo, por exemplo, R$ 20 hoje ou R$ 80 em 14 dias. Quem tinha maiores níveis de grelina preferiu a recompensa imediata, mas menor, indicando um comportamento impulsivo”, completa a médica.
Os resultados indicam que a grelina pode desempenhar um papel mais amplo do que anteriormente reconhecido no comportamento humano.
“Essa pesquisa é muito interessante, pois mostra o papel do hormônio relacionado à recompensa e tomada de decisões, como escolhas monetárias, desvendando seu papel na percepção e no comportamento humano, independentemente de alimentos”, diz Marcella. “A grelina sinaliza ao cérebro a necessidade de comer e pode modular as vias cerebrais que controlam o processamento da recompensa. Os níveis de grelina flutuam ao longo do dia, dependendo da ingestão de alimentos e do metabolismo individual”, acrescenta a médica nutróloga.
Esse estudo incluiu 84 participantes do sexo feminino com idades entre 10 e 22 anos: 50 deles com transtorno alimentar de baixo peso, como anorexia nervosa, e 34 participantes saudáveis do controle. A equipe de pesquisa testou os níveis sanguíneos de grelina total antes e depois de uma refeição padronizada que era a mesma para todos os participantes, que haviam jejuado antes.
Após a refeição, os participantes fizeram um teste de decisões financeiras hipotéticas, chamado de tarefa de desconto por atraso. Eles foram solicitados a fazer uma série de escolhas para indicar sua preferência por uma recompensa monetária imediata menor ou uma quantia maior de dinheiro, mas recebido em tempo maior.
Meninas saudáveis e mulheres jovens com níveis mais altos de grelina eram mais propensas a escolher a recompensa monetária imediata, mas menor, em vez de esperar por uma quantia maior de dinheiro, relataram os pesquisadores. Essa preferência indica escolhas mais impulsivas.
“A relação entre o nível de grelina e as escolhas monetárias estava ausente em participantes da mesma idade com um transtorno alimentar de baixo peso. Pessoas com esse transtorno alimentar são conhecidas por ter resistência à grelina”, diz a médica.
Estratégias para controlar esse hormônio incluem mudança no estilo de vida pessoal e nos hábitos familiares e sociais.
“Hábitos alimentares inadequados impactam negativamente o consumo alimentar. Comer em horários regulares pode ajudar a reduzir os sentimentos irresistíveis de fome, o que pode ajudar a controlar esse hormônio e os comportamentos impulsivos”, finaliza a especialista.